Sunday, May 13, 2007

Radiografia do medo


Pedro J. Bondaczuk


A boca fica seca, as mãos trêmulas, o coração disparado, sua-se frio, o rosto fica pálido e é possível até sentir a adrenalina correndo através das artérias e das veias, como torrentes de fogo. Esta é a sensação que se tem diante da mira de um revólver – que nos seja apontado por alguém em alguma rua escura, ou no recesso do nosso lar, ou em qualquer lugar ou circunstância – ou da iminência de uma agressão. Tem um nome curtinho e é uma das emoções básicas, que ao lado da ira, do amor e do senso do dever constitui, na classificação do psicanalista Emílio Mira y Lopez – autor de um clássico sobre o assunto – o grupo dos "quatro gigantes da alma". Seu nome? MEDO!!!.

É o mecanismo com que a natureza nos dotou para garantir a nossa preservação física. Sua exacerbação recebe as designações de "pânico" e de "terror". É capaz de causar estado de choque no indivíduo e até conduzi-lo à morte. Mira y Lopez diz que a energia que ele mobiliza e veicula "é tão grande que tudo o que o homem tenha feito, de bom ou de mau, sobre a Terra, se deve levar, fundamentalmente, à sua conta".

Diante do perigo concreto, as reações variam. Dependem das circunstâncias, em alguns casos. Em outros, ficam na dependência dos reflexos de cada um. Duas vontades antagônicas nos assolam: a de fugir e a de reagir. Quando se trata do medo "normal", temos ainda condições para ponderar sobre o que é melhor e mais prudente. Em caso contrário... Numa fração de segundos, lembramo-nos das pessoas queridas, pais, mulher, filhos e o que significaria para eles a nossa morte.

Em um assalto, em geral, optamos por entregar tudo o que o indivíduo armado nos pedir. Isto se não estivermos tomados pelo pânico. Mas se estivermos, poderemos ou tentar correr, o que pode ser fatal, ou reagir e agredir quem nos ameace, que igualmente é uma atitude perigosa de resultado imprevisível. Tanto podemos matar, quanto morrer.

Cada vez mais campineiros estão convivendo com essa avassaladora emoção, com esse impasse em que a vida e a morte ficam diante de si. Os números frios estão aí. Raros são os cidadãos que não foram assaltados pelo menos uma vez. Alguns o foram duas ou mais.

Essas vítimas jogam, involuntariamente, uma "roleta russa", cujo resultado é sempre imprevisível. Dependem do ânimo, ou do pânico, de quem lhe aponte a arma. Muitas vezes, porém, sequer há tempo para o medo. Principalmente quando ocorre um ataque de surpresa. Este vem depois. Claro, se a pessoa atacada sobreviver. E o trauma da agressão permanece para sempre.

(Artigo escrito em 5 de maio de 1996 e inédito, já que não foi publicado em nenhum lugar)

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