Friday, May 18, 2007

Genial, criativo e rebelde - V


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

MAU ALUNO DE MATEMÁTICA

Albert Einstein foi gênio na mais completa acepção do termo, naquela conotação criada pela gíria do povo e posteriormente consagrada pelos dicionaristas: a de detentor de altíssimo grau, de capacidade mental criadora em qualquer sentido; de indivíduo de extraordinária potência intelectual.

Não se limitou a atuar em uma ou duas disciplinas, mas participou ativamente até mesmo da política, área que em geral causa horror e repulsa aos cientistas. Exerceu-a, contudo, no âmbito mais grandioso da atividade, sem defender meros interesses pessoais e privilégios descabidos ou exercer qualquer espécie de militância, de caráter ideológico. Via as coisas do alto, sem preconceitos e sem dogmatismo, com amplitude ilimitada.

Sobre a criação de um Estado judeu na Palestina, por exemplo, Einstein foi um precursor. Já em 1929 escrevia ao pioneiro sionista e amigo particular Chaim Herzog, um dos “pais” de Israel: “Se formos incapazes de achar um caminho para uma cooperação honesta e tratados honestos com os árabes, então não teremos aprendido nada durante nossos dois mil anos de sofrimentos e mereceremos tudo o que nos vier”.

Parece que nesse sentido, porém, os israelenses não aprenderam muita coisa (ou quase nada). O Oriente Médio continua sendo o grande “foco infeccioso” de intolerância e de incompreensão”, eterno problema para os que acreditam na paz e na cooperação internacional. Décadas antes dos acontecimentos atuais, o gênio já havia detectado esse perigo e previsto que isto poderia acontecer.

Dizem que Albert Einstein, em seus tempos de escola, não foi aluno dos mais brilhantes. Afirmam, até mesmo, que a disciplina em que encontrava maiores dificuldades de aprendizado era, justamente, a Matemática, que viria a se transformar na sua ferramenta para criar suas revolucionárias teorias.

Caso isso seja mesmo um fato e não apenas mais uma das tantas lendas que são criadas em torno de pessoas famosas, nos enseja uma conclusão pertinente a estas considerações. Ou seja, que a genialidade não tem época para se manifestar e jamais prescinde de fatores como esforço, autodisciplina e motivação, entre tantos outros.

A impressão que a biografia de Albert Einstein nos deixa é a de que ele foi, sobretudo, um homem feliz e plenamente realizado. De um indivíduo que, embora gozando de sólido e incomparável prestígio mundial, não via mal algum em brincar, de vez em quando, com os fotógrafos, e até de fazer caretas para câmeras indiscretas, conforme registra a maioria das fotos do notável físico divulgadas por jornais e revistas.

Foi o próprio cientista que escreveu, no livro “Como Vejo o Mundo”: “Aquele que considera a sua vida e a dos outros sem qualquer sentido, é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver”. Talvez a chave da genialidade, ou da maior ou menor inteligência, esteja na postura que se adota face à realidade e não no tamanho da massa cerebral, ou na quantidade maior ou menor de neurônios ou de células gliais.

Talvez seja a consciência do papel que cada um tem a desempenhar no Planeta. Talvez se encontre na satisfação de realizar alguma obra, não importa seu tamanho ou duração, e sempre da melhor maneira que ela puder ser feita. Talvez resida na participação ativa (jamais como mero e indefeso espectador) nos acontecimentos, atuando de modo a modificar, ou pelo menos atenuar, os atos que possam trazer prejuízos aos outros e melhorando, sempre que possível, os que beneficiem à coletividade.

Quem sabe, agindo assim, a maioria de nós não se surpreenderá com o próprio potencial, muitas vezes anestesiado por um frio e insensato pessimismo, quando não por bovina resignação. Talvez até cheguemos a topar com a mesma perplexidade revelada por Albert Einstein, quando constatou: “O que há de incompreensível no mundo é ele ser compreensível”.

FIM

(Matéria publicada na página 27, Especial, do Correio Popular, em 12 de dezembro de 1985).

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