Pedro J. Bondaczuk
(Continuação)
MAU ALUNO DE MATEMÁTICA
Albert Einstein foi gênio na mais completa acepção do termo, naquela conotação criada pela gíria do povo e posteriormente consagrada pelos dicionaristas: a de detentor de altíssimo grau, de capacidade mental criadora em qualquer sentido; de indivíduo de extraordinária potência intelectual.
Não se limitou a atuar em uma ou duas disciplinas, mas participou ativamente até mesmo da política, área que em geral causa horror e repulsa aos cientistas. Exerceu-a, contudo, no âmbito mais grandioso da atividade, sem defender meros interesses pessoais e privilégios descabidos ou exercer qualquer espécie de militância, de caráter ideológico. Via as coisas do alto, sem preconceitos e sem dogmatismo, com amplitude ilimitada.
Sobre a criação de um Estado judeu na Palestina, por exemplo, Einstein foi um precursor. Já em 1929 escrevia ao pioneiro sionista e amigo particular Chaim Herzog, um dos “pais” de Israel: “Se formos incapazes de achar um caminho para uma cooperação honesta e tratados honestos com os árabes, então não teremos aprendido nada durante nossos dois mil anos de sofrimentos e mereceremos tudo o que nos vier”.
Parece que nesse sentido, porém, os israelenses não aprenderam muita coisa (ou quase nada). O Oriente Médio continua sendo o grande “foco infeccioso” de intolerância e de incompreensão”, eterno problema para os que acreditam na paz e na cooperação internacional. Décadas antes dos acontecimentos atuais, o gênio já havia detectado esse perigo e previsto que isto poderia acontecer.
Dizem que Albert Einstein, em seus tempos de escola, não foi aluno dos mais brilhantes. Afirmam, até mesmo, que a disciplina em que encontrava maiores dificuldades de aprendizado era, justamente, a Matemática, que viria a se transformar na sua ferramenta para criar suas revolucionárias teorias.
Caso isso seja mesmo um fato e não apenas mais uma das tantas lendas que são criadas em torno de pessoas famosas, nos enseja uma conclusão pertinente a estas considerações. Ou seja, que a genialidade não tem época para se manifestar e jamais prescinde de fatores como esforço, autodisciplina e motivação, entre tantos outros.
A impressão que a biografia de Albert Einstein nos deixa é a de que ele foi, sobretudo, um homem feliz e plenamente realizado. De um indivíduo que, embora gozando de sólido e incomparável prestígio mundial, não via mal algum em brincar, de vez em quando, com os fotógrafos, e até de fazer caretas para câmeras indiscretas, conforme registra a maioria das fotos do notável físico divulgadas por jornais e revistas.
Foi o próprio cientista que escreveu, no livro “Como Vejo o Mundo”: “Aquele que considera a sua vida e a dos outros sem qualquer sentido, é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver”. Talvez a chave da genialidade, ou da maior ou menor inteligência, esteja na postura que se adota face à realidade e não no tamanho da massa cerebral, ou na quantidade maior ou menor de neurônios ou de células gliais.
Talvez seja a consciência do papel que cada um tem a desempenhar no Planeta. Talvez se encontre na satisfação de realizar alguma obra, não importa seu tamanho ou duração, e sempre da melhor maneira que ela puder ser feita. Talvez resida na participação ativa (jamais como mero e indefeso espectador) nos acontecimentos, atuando de modo a modificar, ou pelo menos atenuar, os atos que possam trazer prejuízos aos outros e melhorando, sempre que possível, os que beneficiem à coletividade.
Quem sabe, agindo assim, a maioria de nós não se surpreenderá com o próprio potencial, muitas vezes anestesiado por um frio e insensato pessimismo, quando não por bovina resignação. Talvez até cheguemos a topar com a mesma perplexidade revelada por Albert Einstein, quando constatou: “O que há de incompreensível no mundo é ele ser compreensível”.
FIM
(Matéria publicada na página 27, Especial, do Correio Popular, em 12 de dezembro de 1985).
(Continuação)
MAU ALUNO DE MATEMÁTICA
Albert Einstein foi gênio na mais completa acepção do termo, naquela conotação criada pela gíria do povo e posteriormente consagrada pelos dicionaristas: a de detentor de altíssimo grau, de capacidade mental criadora em qualquer sentido; de indivíduo de extraordinária potência intelectual.
Não se limitou a atuar em uma ou duas disciplinas, mas participou ativamente até mesmo da política, área que em geral causa horror e repulsa aos cientistas. Exerceu-a, contudo, no âmbito mais grandioso da atividade, sem defender meros interesses pessoais e privilégios descabidos ou exercer qualquer espécie de militância, de caráter ideológico. Via as coisas do alto, sem preconceitos e sem dogmatismo, com amplitude ilimitada.
Sobre a criação de um Estado judeu na Palestina, por exemplo, Einstein foi um precursor. Já em 1929 escrevia ao pioneiro sionista e amigo particular Chaim Herzog, um dos “pais” de Israel: “Se formos incapazes de achar um caminho para uma cooperação honesta e tratados honestos com os árabes, então não teremos aprendido nada durante nossos dois mil anos de sofrimentos e mereceremos tudo o que nos vier”.
Parece que nesse sentido, porém, os israelenses não aprenderam muita coisa (ou quase nada). O Oriente Médio continua sendo o grande “foco infeccioso” de intolerância e de incompreensão”, eterno problema para os que acreditam na paz e na cooperação internacional. Décadas antes dos acontecimentos atuais, o gênio já havia detectado esse perigo e previsto que isto poderia acontecer.
Dizem que Albert Einstein, em seus tempos de escola, não foi aluno dos mais brilhantes. Afirmam, até mesmo, que a disciplina em que encontrava maiores dificuldades de aprendizado era, justamente, a Matemática, que viria a se transformar na sua ferramenta para criar suas revolucionárias teorias.
Caso isso seja mesmo um fato e não apenas mais uma das tantas lendas que são criadas em torno de pessoas famosas, nos enseja uma conclusão pertinente a estas considerações. Ou seja, que a genialidade não tem época para se manifestar e jamais prescinde de fatores como esforço, autodisciplina e motivação, entre tantos outros.
A impressão que a biografia de Albert Einstein nos deixa é a de que ele foi, sobretudo, um homem feliz e plenamente realizado. De um indivíduo que, embora gozando de sólido e incomparável prestígio mundial, não via mal algum em brincar, de vez em quando, com os fotógrafos, e até de fazer caretas para câmeras indiscretas, conforme registra a maioria das fotos do notável físico divulgadas por jornais e revistas.
Foi o próprio cientista que escreveu, no livro “Como Vejo o Mundo”: “Aquele que considera a sua vida e a dos outros sem qualquer sentido, é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver”. Talvez a chave da genialidade, ou da maior ou menor inteligência, esteja na postura que se adota face à realidade e não no tamanho da massa cerebral, ou na quantidade maior ou menor de neurônios ou de células gliais.
Talvez seja a consciência do papel que cada um tem a desempenhar no Planeta. Talvez se encontre na satisfação de realizar alguma obra, não importa seu tamanho ou duração, e sempre da melhor maneira que ela puder ser feita. Talvez resida na participação ativa (jamais como mero e indefeso espectador) nos acontecimentos, atuando de modo a modificar, ou pelo menos atenuar, os atos que possam trazer prejuízos aos outros e melhorando, sempre que possível, os que beneficiem à coletividade.
Quem sabe, agindo assim, a maioria de nós não se surpreenderá com o próprio potencial, muitas vezes anestesiado por um frio e insensato pessimismo, quando não por bovina resignação. Talvez até cheguemos a topar com a mesma perplexidade revelada por Albert Einstein, quando constatou: “O que há de incompreensível no mundo é ele ser compreensível”.
FIM
(Matéria publicada na página 27, Especial, do Correio Popular, em 12 de dezembro de 1985).
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