Tudo ou nada
Pedro J. Bondaczuk
Depois da complicadíssima classificação brasileira na fase inicial da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, naquele jogo dramático, proibido para cardíacos, contra a frágil e inexperiente seleção do Zaire (quase morro na ocasião, pois me recuperava de pneumonia dupla), o Brasil teria que partir para o tudo ou nada, se tivesse a mais remota aspiração da conquista do tetracampeonato. E tinha.
A fórmula de disputa daquele mundial era um tanto diferente da atual, utilizada em 2010 na África do Sul e que será posta em prática em 2014 em nosso País. A fase de quartas de final era disputada em dois grupos, de quatro seleções cada, com todos jogando contra todos. Os respectivos campeões iam direto para a final e os vices disputavam 3º e 4º lugares. O sistema, portanto, não era o de mata-mata. E não havia, como hoje, a semifinal.
A exemplo do que ocorrera em 1954, quando o Brasil teve que encarar (e perdeu) a “sensação” daquele mundial, que então era a Hungria, vinte anos depois, na Alemanha, ocorreria o mesmo, mas não mais com os húngaros. O bicho-papão de então era uma equipe emergente no cenário europeu e mundial. Era a Holanda, a famosa “Laranja Mecânica”, a do tal “carrossel”, do futebol total, em que todos os jogadores (à exceção do goleiro, claro) se revezavam em todas as posições do campo, enlouquecendo seus marcadores.
A tática holandesa, que para funcionar precisava ser muitíssimo bem treinada e contar com craques ecléticos e versáteis, vinha surpreendendo o mundo. A maioria dos técnicos considerava essa equipe, que tinha em Johann Cruyff seu astro maior, “imarcável”.
Além da Holanda, caíram, no grupo do Brasil, a Alemanha Oriental e a Argentina. Como se vê, era uma barra! Não haveria refresco. Seria, de fato, o tudo ou o nada. Os anfitriões da Copa, num jogo controvertido, em que a imprensa que cobria a competição os acusou de jogarem deliberadamente para perder, numa espécie de “marmelada”, foram derrotados pelos co-irmãos, posto que rivais, alemães orientais por 1 a 0.
Conseguiram, com a “oportuna” derrota, fugir de encarar os holandeses nessa fase. Com isso, multiplicaram as chances de chegar à final, o que de fato aconteceu. Houve uma chiadeira danada na ocasião, embora ninguém jamais conseguisse provar a suposta “marmelada”.
Todavia, em Copa, nem sempre os favoritos destacados ou mesmo as melhores seleções no aspecto técnico são os campeões. A Alemanha Ocidental repetiria, em 1974, o feito de 1954, quando, para a surpresa do mundo (quiçá da galáxia) bateu a Hungria, tida e havida como imbatível e conquistou sua primeira Jules Rimet. Em casa, repetiria a façanha diante da Holanda, que nadou, nadou e nadou e morreu na praia e ganhou, pela primeira vez, a então recém-criada Copa Fifa.
O jogo de estréia do Brasil nas quartas de final foi contra a Alemanha Oriental. Foi disputado em 26 de junho, no Niedersachen Stadium, de Hannover, com público de 58.463 expectadores e arbitragem do galês Clive Thomas.
Zagallo fez duas alterações na equipe, em relação ao jogo contra o Zaire: Zé Maria entrou na lateral direita, na vaga de Nelinho e Dirceu ganhou uma chance na ponta esquerda. Durante a partida, o técnico não mexeu no time.
A Seleção Brasileira mostrou a mesma deficiência da fase anterior: falta de poder ofensivo. A defesa, pela quarta partida consecutiva, não levou gols. O ataque, todavia... A grande reclamação da imprensa, notadamente da paulista, referia-se ao meio de campo. Boa parte do País exigia a escalação de Ademir da Guia, que então estava numa fase técnica exuberante, no lugar de Paulo César Caju.
Zagallo, porém, argumentando que o armador do Palmeiras era muito lento, manteve o craque carioca no time, contra tudo e contra todos. Foi acusado, como dá para o leitor imaginar, de turrão e de teimoso, entre outras tantas coisas piores.
O Brasil foi “salvo pelo gongo”, contra os alemães orientais, pelo providencial e salvador gol de falta de Rivelino. No outro jogo do grupo, a Holanda não tomou conhecimento da Argentina e triturou-a, goleando-a por 4 a 0.
O jogo seguinte da Seleção Brasileira, e no mesmo estádio de Hannover, foi disputado em 30 de junho, com arbitragem do belga Vital Louraux. Nosso adversário seria o promotor da próxima Copa e que queria fazer bonito nessa, ou seja, “los hermanos” argentinos.
Zagallo mandou a campo o mesmíssimo time do jogo anterior e não fez qualquer substituição nos 90 minutos. Portanto, Ademir da Guia não teve sua chance de mostrar se era ou não a solução para a deficiência ofensiva brasileira.
O gol de Brindisi acabou com a invencibilidade da nossa defesa. Em compensação, o ataque desencantou nessa Copa. Não fez, claro, nenhuma exibição de gala. Mas pelo menos marcou dois gols, com Rivelino e Jairzinho. Apesar dos pesares, mantivemos a invencibilidade, com os 2 a 1 sobre a Argentina. Mesmo aos trancos e barrancos, portanto, estávamos a apenas duas vitórias do tetra. E nada do Zagallo escalar Ademir da Guia, contrariando a gregos e troianos.
Pedro J. Bondaczuk
Depois da complicadíssima classificação brasileira na fase inicial da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, naquele jogo dramático, proibido para cardíacos, contra a frágil e inexperiente seleção do Zaire (quase morro na ocasião, pois me recuperava de pneumonia dupla), o Brasil teria que partir para o tudo ou nada, se tivesse a mais remota aspiração da conquista do tetracampeonato. E tinha.
A fórmula de disputa daquele mundial era um tanto diferente da atual, utilizada em 2010 na África do Sul e que será posta em prática em 2014 em nosso País. A fase de quartas de final era disputada em dois grupos, de quatro seleções cada, com todos jogando contra todos. Os respectivos campeões iam direto para a final e os vices disputavam 3º e 4º lugares. O sistema, portanto, não era o de mata-mata. E não havia, como hoje, a semifinal.
A exemplo do que ocorrera em 1954, quando o Brasil teve que encarar (e perdeu) a “sensação” daquele mundial, que então era a Hungria, vinte anos depois, na Alemanha, ocorreria o mesmo, mas não mais com os húngaros. O bicho-papão de então era uma equipe emergente no cenário europeu e mundial. Era a Holanda, a famosa “Laranja Mecânica”, a do tal “carrossel”, do futebol total, em que todos os jogadores (à exceção do goleiro, claro) se revezavam em todas as posições do campo, enlouquecendo seus marcadores.
A tática holandesa, que para funcionar precisava ser muitíssimo bem treinada e contar com craques ecléticos e versáteis, vinha surpreendendo o mundo. A maioria dos técnicos considerava essa equipe, que tinha em Johann Cruyff seu astro maior, “imarcável”.
Além da Holanda, caíram, no grupo do Brasil, a Alemanha Oriental e a Argentina. Como se vê, era uma barra! Não haveria refresco. Seria, de fato, o tudo ou o nada. Os anfitriões da Copa, num jogo controvertido, em que a imprensa que cobria a competição os acusou de jogarem deliberadamente para perder, numa espécie de “marmelada”, foram derrotados pelos co-irmãos, posto que rivais, alemães orientais por 1 a 0.
Conseguiram, com a “oportuna” derrota, fugir de encarar os holandeses nessa fase. Com isso, multiplicaram as chances de chegar à final, o que de fato aconteceu. Houve uma chiadeira danada na ocasião, embora ninguém jamais conseguisse provar a suposta “marmelada”.
Todavia, em Copa, nem sempre os favoritos destacados ou mesmo as melhores seleções no aspecto técnico são os campeões. A Alemanha Ocidental repetiria, em 1974, o feito de 1954, quando, para a surpresa do mundo (quiçá da galáxia) bateu a Hungria, tida e havida como imbatível e conquistou sua primeira Jules Rimet. Em casa, repetiria a façanha diante da Holanda, que nadou, nadou e nadou e morreu na praia e ganhou, pela primeira vez, a então recém-criada Copa Fifa.
O jogo de estréia do Brasil nas quartas de final foi contra a Alemanha Oriental. Foi disputado em 26 de junho, no Niedersachen Stadium, de Hannover, com público de 58.463 expectadores e arbitragem do galês Clive Thomas.
Zagallo fez duas alterações na equipe, em relação ao jogo contra o Zaire: Zé Maria entrou na lateral direita, na vaga de Nelinho e Dirceu ganhou uma chance na ponta esquerda. Durante a partida, o técnico não mexeu no time.
A Seleção Brasileira mostrou a mesma deficiência da fase anterior: falta de poder ofensivo. A defesa, pela quarta partida consecutiva, não levou gols. O ataque, todavia... A grande reclamação da imprensa, notadamente da paulista, referia-se ao meio de campo. Boa parte do País exigia a escalação de Ademir da Guia, que então estava numa fase técnica exuberante, no lugar de Paulo César Caju.
Zagallo, porém, argumentando que o armador do Palmeiras era muito lento, manteve o craque carioca no time, contra tudo e contra todos. Foi acusado, como dá para o leitor imaginar, de turrão e de teimoso, entre outras tantas coisas piores.
O Brasil foi “salvo pelo gongo”, contra os alemães orientais, pelo providencial e salvador gol de falta de Rivelino. No outro jogo do grupo, a Holanda não tomou conhecimento da Argentina e triturou-a, goleando-a por 4 a 0.
O jogo seguinte da Seleção Brasileira, e no mesmo estádio de Hannover, foi disputado em 30 de junho, com arbitragem do belga Vital Louraux. Nosso adversário seria o promotor da próxima Copa e que queria fazer bonito nessa, ou seja, “los hermanos” argentinos.
Zagallo mandou a campo o mesmíssimo time do jogo anterior e não fez qualquer substituição nos 90 minutos. Portanto, Ademir da Guia não teve sua chance de mostrar se era ou não a solução para a deficiência ofensiva brasileira.
O gol de Brindisi acabou com a invencibilidade da nossa defesa. Em compensação, o ataque desencantou nessa Copa. Não fez, claro, nenhuma exibição de gala. Mas pelo menos marcou dois gols, com Rivelino e Jairzinho. Apesar dos pesares, mantivemos a invencibilidade, com os 2 a 1 sobre a Argentina. Mesmo aos trancos e barrancos, portanto, estávamos a apenas duas vitórias do tetra. E nada do Zagallo escalar Ademir da Guia, contrariando a gregos e troianos.
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