Sunday, August 08, 2010







Três presidentes fuzilados

Pedro J. Bondaczuk

Os militares do Yemen do Sul fuzilaram, ontem, o terceiro dos quatro presidentes que o país já teve em sua curta (e tormentosa) vida de Estado independente. O motivo é o de sempre em sociedades onde o jogo democrático não é mais do que uma expressão retórica: complô para um golpe.

A desditosa vítima, desta vez, foi Abdel Fattah Ismail, que renunciou ao cargo em 21 de abril de 1980, a pretexto de estar com a saúde muito abalada. Hoje se sabe que na verdade foi deposto num chamado "golpe branco", expediente do qual um país latino-americano, o Panamá, tem se mostrado exímio. Na ocasião, Ismail foi "recomendado" a mudar de ares, passando uma temporada na União Soviética.

O Yemen do Sul é o "primo pobre" na comunidade árabe. Situado no extremo Sul da Península Arábica, na entrada do Golfo de Áden, caminho obrigatório para os navios que atravessam o Canal de Suez e Mar Vermelho, ou que vêm do Mar Mediterrâneo rumo ao Oceano Pacífico, e vice-versa, é hoje um grande aliado da União Soviética. Seu regime é o marxista.

Mas se os russos são pródigos no fornecimento de armas a essa paupérrima República, que possui apenas 1% de seu território arável, não são tão mãos abertas assim em se tratando de outro tipo de auxílio: o econômico. Os sul-iemenitas detêm uma das rendas per capita mais baixas da comunidade islâmica, com irrisórios US$ 430 anuais.

Aliada à pobreza, ou mais exatamente, em decorrência dela, o Yemen do Sul tem caracterizado a sua vida institucional pela violência política. Atentem os leitores para este revelador detalhe: desde que os britânicos se foram de vez da área, em 1967, após uma sangrenta guerra de independência, esse país teve quatro presidentes (contando o atual, Ali Nasser Mohammed). O primeiro foi Qayttan Al-Shaabi, que renunciou em 1969, ocasião em que foi substituído por um conselho presidencial de cinco membros. Pouco tempo depois, foi acusado de traição e executado.

O segundo presidente foi Salim Ali Rubay, que promoveu diversas reformas, buscando ocidentalizar os costumes sul-iemenitas. Entre essas mudanças está a implantação da monogamia no país, ocorrida em 1974. Entretanto, esse político foi implicado numa estranha conspiração contra o governo do vizinho Yemen do Norte, no qual morreu o presidente dessa República, Al Gashmi. Como os militares dos dois países estavam em franco "namoro", visando à fusão de ambos os Estados, o incidente causou profunda irritação nos dois lados. Rubay foi deposto, julgado sumariamente e fuzilado em 26 de junho de 1978.

Ontem, finalmente, o terceiro dos presidentes teve idêntico destino. Resta saber quando ocorrerá o mesmo com o atual, Ali Nasser Mohammed. Enquanto os poderosos brigam pelos miseráveis espólios políticos, por um "escorregadio" poder, o povo continua sofrendo as agruras de ter que viver numa terra onde, à exceção de petróleo, tudo precisa ser importado. Até água para se beber!

Em 1981, segundo dados das Nações Unidas, 20% da população sul-iemenita vegetava abaixo do nível de pobreza. O analfabetismo alcançava a 60% e a dívida externa, em 1982, era de US$ 760 milhões, devendo girar, atualmente, na casa dos US$ 1,3 bilhão.

Tal vez a salvação do Yemen do Sul esteja, mesmo, na fusão com seu vizinho e homônimo do Norte, que embora territorialmente menor, é bem mais desenvolvido. Há um pacto firmado entre os dois Estados em 1972 e reforçado em 1979, objetivando a unificação. Unidos, os dois países vão somar quase dez milhões de habitantes (2.300.000 de sul-iemenitas e 7.300.000 de norte-iemenitas) e um Produto Nacional Bruto de US$ 5,362 bilhões. Quem sabe, dessa maneira, consigam deixar a incômoda primazia de constituírem a mais pobre das unidades (ou uma das mais) da vasta comunidade árabe.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 14 de janeiro de 1986)



@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@






O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte), uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.

Como comprar:

Pela internet
WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.

No comments: