Classificação com folga, mas com crise
Pedro J. Bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A Seleção Brasileira, como não fora campeã da Copa de 1974 e nem seria a promotora da seguinte, teria que conquistar, no campo, sua vaga para o Mundial de 1978, na Argentina. Isso, a princípio, não assustava ninguém. Explico. Após o fracasso na Alemanha, quando o ataque não funcionou, a grita geral, país afora, concentrou-se na exigência de um futebol ofensivo, que aliás, fora responsável pela conquista do tricampeonato.
Osvaldo Brandão, esbanjando prestígio, foi escolhido como treinador, com a incumbência de fazer nossos artilheiros luzirem. Situação, aliás (guardadas as proporções) idêntica à de Mano Menezes, o substituto do sisudo Dunga.
Em 1976, sob o comando desse gaúcho, colecionador de títulos, a Seleção Brasileira voltou, de fato, a encantar, a vencer todos os que pegava pela frente, a conquistar taças e troféus e a fazer gols e mais gols. Ou seja, tudo o que o torcedor queria e exigia.
Fosse a Copa do Mundo disputada naquele ano, e não teria para ninguém. O tetra seria barbada. Só que faltavam ainda dois anos para o novo Mundial, a ser disputado em nossa “vizinhança”, tempo em que muita coisa poderia mudar, para melhor ou para pior. Ademais, o Brasil teria, antes de tudo, que conquistar sua vaga. É certo que ninguém duvidava que conseguiria. Sempre conseguiu. Mas... nunca se sabe.
O ano de 1976, reitero, foi de grandes conquistas para a Seleção Brasileira. Ganhou, por exemplo, a Taça do Atlântico, a Copa Rio Branco, a Copa Roca e a Taça Oswaldo Cruz, em cima de Argentina, Uruguai e Paraguai, todas em sequência. E com um grupo totalmente renovado em relação ao que disputou o Mundial da Alemanha.
Seu feito maior, mais expressivo e valioso, pela repercussão internacional, foi a conquista da Copa do Bicentenário de Independência dos EUA, em que derrotou a Inglaterra, os Estados Unidos e a Itália, esta última com uma categórica goleada de 4 a 1.
Veio 1977 e, com ele, vieram as eliminatórias sul-americanas, ou seja, o momento da “onça beber água”. A disputa tinha uma fórmula bem diferente das anteriores. Consistia em três grupos, de três países cada, com todos jogando contra todos, em turno e returno. Os respectivos campeões disputariam um triangular, em campo neutro, em partida única, com os dois melhores qualificando-se para a Copa.
O Brasil caiu no Grupo 1, com Colômbia e Paraguai. O 2 era integrado por Venezuela, Bolívia e Uruguai. E compunham o Grupo 3 Venezuela, Peru e Chile. A Seleção Brasileira estreou em 20 de fevereiro de 1977, em Bogotá, frente à Colômbia. E aí, desencadeou-se a crise em nosso selecionado.
O empate, em 0 a 0, irritou Osvaldo Brandão, que não gostou do desempenho dos jogadores e das críticas que recebeu da imprensa. Inconformado, renunciou ao cargo. Foi nomeado, de imediato, seu substituto, nomeação que surpreendeu todo o mundo: o capitão Cláudio Coutinho, sujeito culto, bem articulado, que dava entrevistas com conteúdo (ao contrário da maioria dos treinadores), mas de quem os meios de comunicação cismaram de pegar no pé desde o primeiro momento. Principalmente, por causa da nomenclatura de jogadas e de táticas, como “overlap”, “ponto futuro” e outros quetais, que o novo treinador utilizava.
Em vez de tentarem entender, e explicar aos ouvintes, leitores ou telespectadores, os repórteres passaram a se divertir com essas expressões, escarnecendo do novo técnico. Duvido que fizessem isso com o Dunga. Mas... deixa pra lá.
Hoje, essas jogadas todas (embora não com os nomes tratados por Cláudio Coutinho) são rigorosamente corriqueiras. Na época, não eram. “Overlap”, por exemplo, nada mais é do que o deslocamento do jogador que está sem a bola. É quando o atleta se movimenta, progressivamente, antes do adversário incumbido de marcá-lo, surpreendendo-o com esse movimento. Dessa forma, recebe a bola livre de marcação e tem chances maiores de fazer o gol. É mais ou menos isso.
Cláudio Coutinho estreou com o pé direito no comando da Seleção. Foi no jogo de 9 de março de 1977, no Maracanã, quando o Brasil “triturou” a mesma Colômbia (que havia sido a causadora indireta da saída de Osvaldo Brandão), por um até escandaloso 6 a 0.
No jogo seguinte, em 13 de março, a Seleção venceu o Paraguai, que tradicionalmente é um adversário difícil, no Estádio Defensores Del Chaco, em Assunção, por um magro 1 a 0. E voltou a decepcionar a torcida, mesmo sob o novo comando, ao empatar com os mesmos paraguaios, num Maracanã lotado, por 1 a 1, em 20 de março de 1977. Apesar dos pesares, foi campeão do Grupo 1 e qualificou-se para o triangular decisivo, marcado para Cali, após a desclassificação da Colômbia. Nenhuma surpresa, portanto. Deu a lógica.
O mesmo não aconteceu no Grupo 2. Aproveitando-se das dificuldades de quem não está acostumado a jogar na altitude, a Bolívia foi a classificada, com a surpreendente eliminação uruguaia. E no Grupo 3, o Peru mostrou-se melhor preparado e obteve a qualificação.
No triangular de Cali, os comandados de Claudio Coutinho venceram, com dificuldades, os peruanos (em 10 de julho de 1977), por 1 a 0, mas massacraram os bolivianos por 8 a 0 (em 14 de julho) e asseguraram o passaporte para a Argentina. A outra vaga ficou com o Peru.
Resumo da ópera: Nas Eliminatórias de 1977, o Brasil marcou 17 gols em seis partidas (2,83 por jogo) e sofreu apenas um. E mesmo assim, nem imprensa e nem torcida ficaram satisfeitos. Como estamos mal-acostumados quando se trata de futebol!
Osvaldo Brandão, esbanjando prestígio, foi escolhido como treinador, com a incumbência de fazer nossos artilheiros luzirem. Situação, aliás (guardadas as proporções) idêntica à de Mano Menezes, o substituto do sisudo Dunga.
Em 1976, sob o comando desse gaúcho, colecionador de títulos, a Seleção Brasileira voltou, de fato, a encantar, a vencer todos os que pegava pela frente, a conquistar taças e troféus e a fazer gols e mais gols. Ou seja, tudo o que o torcedor queria e exigia.
Fosse a Copa do Mundo disputada naquele ano, e não teria para ninguém. O tetra seria barbada. Só que faltavam ainda dois anos para o novo Mundial, a ser disputado em nossa “vizinhança”, tempo em que muita coisa poderia mudar, para melhor ou para pior. Ademais, o Brasil teria, antes de tudo, que conquistar sua vaga. É certo que ninguém duvidava que conseguiria. Sempre conseguiu. Mas... nunca se sabe.
O ano de 1976, reitero, foi de grandes conquistas para a Seleção Brasileira. Ganhou, por exemplo, a Taça do Atlântico, a Copa Rio Branco, a Copa Roca e a Taça Oswaldo Cruz, em cima de Argentina, Uruguai e Paraguai, todas em sequência. E com um grupo totalmente renovado em relação ao que disputou o Mundial da Alemanha.
Seu feito maior, mais expressivo e valioso, pela repercussão internacional, foi a conquista da Copa do Bicentenário de Independência dos EUA, em que derrotou a Inglaterra, os Estados Unidos e a Itália, esta última com uma categórica goleada de 4 a 1.
Veio 1977 e, com ele, vieram as eliminatórias sul-americanas, ou seja, o momento da “onça beber água”. A disputa tinha uma fórmula bem diferente das anteriores. Consistia em três grupos, de três países cada, com todos jogando contra todos, em turno e returno. Os respectivos campeões disputariam um triangular, em campo neutro, em partida única, com os dois melhores qualificando-se para a Copa.
O Brasil caiu no Grupo 1, com Colômbia e Paraguai. O 2 era integrado por Venezuela, Bolívia e Uruguai. E compunham o Grupo 3 Venezuela, Peru e Chile. A Seleção Brasileira estreou em 20 de fevereiro de 1977, em Bogotá, frente à Colômbia. E aí, desencadeou-se a crise em nosso selecionado.
O empate, em 0 a 0, irritou Osvaldo Brandão, que não gostou do desempenho dos jogadores e das críticas que recebeu da imprensa. Inconformado, renunciou ao cargo. Foi nomeado, de imediato, seu substituto, nomeação que surpreendeu todo o mundo: o capitão Cláudio Coutinho, sujeito culto, bem articulado, que dava entrevistas com conteúdo (ao contrário da maioria dos treinadores), mas de quem os meios de comunicação cismaram de pegar no pé desde o primeiro momento. Principalmente, por causa da nomenclatura de jogadas e de táticas, como “overlap”, “ponto futuro” e outros quetais, que o novo treinador utilizava.
Em vez de tentarem entender, e explicar aos ouvintes, leitores ou telespectadores, os repórteres passaram a se divertir com essas expressões, escarnecendo do novo técnico. Duvido que fizessem isso com o Dunga. Mas... deixa pra lá.
Hoje, essas jogadas todas (embora não com os nomes tratados por Cláudio Coutinho) são rigorosamente corriqueiras. Na época, não eram. “Overlap”, por exemplo, nada mais é do que o deslocamento do jogador que está sem a bola. É quando o atleta se movimenta, progressivamente, antes do adversário incumbido de marcá-lo, surpreendendo-o com esse movimento. Dessa forma, recebe a bola livre de marcação e tem chances maiores de fazer o gol. É mais ou menos isso.
Cláudio Coutinho estreou com o pé direito no comando da Seleção. Foi no jogo de 9 de março de 1977, no Maracanã, quando o Brasil “triturou” a mesma Colômbia (que havia sido a causadora indireta da saída de Osvaldo Brandão), por um até escandaloso 6 a 0.
No jogo seguinte, em 13 de março, a Seleção venceu o Paraguai, que tradicionalmente é um adversário difícil, no Estádio Defensores Del Chaco, em Assunção, por um magro 1 a 0. E voltou a decepcionar a torcida, mesmo sob o novo comando, ao empatar com os mesmos paraguaios, num Maracanã lotado, por 1 a 1, em 20 de março de 1977. Apesar dos pesares, foi campeão do Grupo 1 e qualificou-se para o triangular decisivo, marcado para Cali, após a desclassificação da Colômbia. Nenhuma surpresa, portanto. Deu a lógica.
O mesmo não aconteceu no Grupo 2. Aproveitando-se das dificuldades de quem não está acostumado a jogar na altitude, a Bolívia foi a classificada, com a surpreendente eliminação uruguaia. E no Grupo 3, o Peru mostrou-se melhor preparado e obteve a qualificação.
No triangular de Cali, os comandados de Claudio Coutinho venceram, com dificuldades, os peruanos (em 10 de julho de 1977), por 1 a 0, mas massacraram os bolivianos por 8 a 0 (em 14 de julho) e asseguraram o passaporte para a Argentina. A outra vaga ficou com o Peru.
Resumo da ópera: Nas Eliminatórias de 1977, o Brasil marcou 17 gols em seis partidas (2,83 por jogo) e sofreu apenas um. E mesmo assim, nem imprensa e nem torcida ficaram satisfeitos. Como estamos mal-acostumados quando se trata de futebol!
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