Sunday, August 15, 2010




País rico de população miserável

Pedro J. Bondaczuk

O Zaire, ex-colônia da Bélgica na África – antigo Congo Belga – é o terceiro maior país em território do continente (2.344.885 quilômetros quadrados) e um dos mais populosos (48,3 milhões).

Possui, na província de Shaba (antiga Katanga, que nos anos 60 protagonizou um movimento separatista sob a liderança de Moses Tshombe), grandes riquezas minerais, como diamante, cobre e estanho. Sua terra é fértil e seus rios caudalosos.

O Zaire é rico, mas a população é pobre... muito pobre. A renda per capita zairense é uma das mais baixas do mundo, de US$ 135 por ano. Além disso, esse povo não conhece a liberdade praticamente desde a independência, após o assassinato do seu grande líder, Patrice Lumumba, em 1961.

Mobutu Sese Seko, que nos últimos anos vive mais na Europa, tratando de câncer de próstata, do que à frente dos assuntos de governo, ocupa o poder há 32 longos anos.

Neste período eliminou, sistematicamente, (ou encarcerou sem direito à defesa), seus adversários políticos, contando com a irrestrita lealdade do Exército. Este, todavia, parou no tempo. Não se modernizou, nem em equipamento e nem em métodos de combate. E, pior: foi atingido pelo "vírus" da corrupção e da indisciplina.

A ditadura zairense parece estar com os dias contados. Desde meados do ano passado, a guerrilha bunyamulengue – etnia tutsi emigrada para o Zaire no século passado – levantou-se em armas, liderada por Laurent Desiré Kabila.

Em poucas semanas conquistou, virtualmente sem resistência, todo Leste do país, na região dos Grandes Lagos, onde inicialmente a guerrilha pretendeu criar um Estado-tampão, entre Ruanda, Burundi, Uganda e Tanzânia.

O Exército, tão expedito na repressão aos opositores políticos, mostrou-se despreparado e sem espírito de luta para conter os guerrilheiros. Abandonou cidade após cidade, sem nenhuma luta, não sem antes realizar grandes saques em sua retirada.

Hoje, os homens de Kabila (meninos na verdade, alguns de menos de 14 anos) não se contentam com apenas o um quarto de território que controlam. Querem o país todo. Asseguram que até junho chegarão a Kinshasa, a capital do país (antiga Leopoldville).

Tudo leva a crer, porém, que cheguem antes. Os bunyamulengues, em princípio, só queriam expulsar do Zaire os milhares de refugiados hutus de Ruanda e de Burundi, que massacraram pelo menos 500 mil tutsis em 1994, mas partiram para o exílio assim que estes tomaram o poder. Agora, querem mais. Pretendem pôr fim à era Mobutu. Tomara que não substituam uma ditadura por outra e conduzam o Zaire, finalmente, à democracia.

(Artigo publicado no Correio Popular em 28 de março de 1997)

No comments: