Friday, August 27, 2010




A era Telê Santana

Pedro J. Bondaczuk

A Copa do Mundo da Espanha marcou o início da era Telê Santana à frente da Seleção Brasileira, que durou oito anos, ou dois Mundiais. É verdade que o técnico não conseguiu, nas duas oportunidades consecutivas em que comandou a equipe (antes dele, apenas Zagallo havia dirigido o selecionado em duas Copas seguidas), realizar o sonho do tetra, que iria esperar ainda doze anos para acontecer.
Mas o sisudo treinador mineiro teve inegável mérito: promoveu o reencontro da Seleção com o torcedor, graças a um futebol que uniu arte, talento e técnica com competitividade e objetividade. Telê fez escola e sua influência foi das mais benéficas para renovar conceitos, táticas e comportamentos.
Se não conseguiu sucesso com a Seleção (e merecia), foi, por outro lado, vitorioso, sobretudo no comando do São Paulo Futebol Clube, time que conduziu à conquista de duas Copas Libertadores da América e dois mundiais interclubes. E deixou sucessor, na figura de Muricy Ramalho, seu pupilo, que como seu mestre, obteve sucesso no tricolor paulista e brilha atualmente no Fluminense.
Apesar disso, Telê Santana faz muita falta ao futebol brasileiro. Embora não reconhecido devidamente como tal, antes de ser o treinador competente que de fato foi, brilhou como jogador dos mais técnicos, taticamente aplicado e utilíssimo aos times que defendeu, desde o Fluminense ao Guarani de Campinas, clube em que encerrou a carreira de atleta.
Acredito que, mesmo após a desclassificação, nos pênaltis, diante da França, na Copa de 1986, Telê deveria ter permanecido à frente da Seleção. Se o fosse, provavelmente teria conquistado o tetra em 1990, na Itália e deixaria base sólida para os anos vindouros. Mas... o “se” não joga, não é verdade?
A Copa de Mundo de 1982 foi a primeira disputada por 24 seleções. A Fifa destinou quatro vagas para a América do Sul, mas uma era reservada à Argentina, campeã de 1978, num título bastante contestado e discutível (por mais que os argentinos tentem valorizá-lo). O Brasil teria, pois, que disputar as eliminatórias, mas iria conquistar o passaporte para a Espanha com os pés nas costas.
Nossa Seleção caiu num grupo que tinha como adversárias as fraquíssimas Bolívia e Venezuela. Só um desastre monumental, uma zebra sem tamanho, nos manteria fora do Mundial. E nada disso aconteceu. A classificação veio sem muito esforço e nenhum susto.
Recorde-se que, até então, o Brasil jamais havia perdido um só jogo válido por eliminatórias, o que se constituía num fenômeno que causava inveja e admiração no mundo todo. Infelizmente, esse tabu foi quebrado em 1993, pela Seleção de Parreira e, desde então, temos sido “surrados”, sistematicamente, por bolivianos, equatorianos e paraguaios. Como se vê, os tempos são outros.
As eliminatórias para a Copa da Espanha começaram em fevereiro de 1981 e terminaram em dezembro desse ano. Mas não para nossa Seleção, que concluiu sua vitoriosa participação em março, devidamente classificada como dissemos, sem zebras e sem sustos.
A estréia foi em 8 de fevereiro, em Caracas, com um magérrimo 1 a 0 a nosso favor sobre a Venezuela. Duas semanas depois, em 22 de fevereiro, o Brasil encarou o desafio de enfrentar a Bolívia nos quase quatro mil metros de altitude de La Paz e voltou de lá com resultado positivo: 2 a 1.
Em 22 de março, no Maracanã, os bolivianos voltaram a perder para nós, dessa vez por 3 a 1. E em 29 de março, a Seleção goleou a Venezuela, por 5 a 0, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, e assegurou mais uma presença em Mundiais. Fácil, fácil.
Para a Copa, Telê mesclou o Brasil com veteranos e novatos, convocando nove jogadores que haviam participado da campanha invicta da Argentina: Valdir Perez (São Paulo), Oscar (então já no São Paulo), Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Zico (Flamengo), Edinho (Fluminense), Batista (Internacional), Dirceu (Coritiba) e Carlos (então no Corinthians).
Atletas como Falcão e Junior, cujas não-convocações por Cláudio Coutinho haviam gerado tantas críticas em 1978, foram, providencialmente, chamados por Telê e tiveram ótimo desempenho. Entre as caras novas, a maioria era do São Paulo, como Edevaldo, Renato e Careca.
A convocação, todavia, como sempre, não teve aprovação unânime. Torcida e imprensa cobraram vários nomes dos que ficaram de fora e contestaram muitos dos que foram chamados. Isso, aliás, virou praxe no Brasil. Sempre foi e sempre será assim em relação à Seleção Brasileira, o que, no meu entender, só comprova a fartura de bons jogadores com que o País sempre contou, mesmo nas suas piores fases (como em 2006 e 2010).

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