O desastre do Sarriá
Pedro J. Bondaczuk
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A Seleção Brasileira, até a Copa do Mundo de 1982, havia enfrentado a Argentina, em campeonatos mundiais, em apenas duas oportunidades. A primeira foi em 30 de junho de 1974, no Niedersachen Stadion, em Hannover, na Alemanha, e o Brasil venceu por 2 a 1. O segundo jogo foi na Copa seguinte. Ocorreu em 18 de junho de 1978, em Rosário, na Argentina, e o placar foi 0 a 0.
No segundo turno do Mundial da Espanha, ambas as seleções caíram no Grupo C, completado pela Itália. Iriam, portanto, se enfrentar pela terceira vez em copas. Seria um tira-teima para ambos. A seleção que terminasse em primeiro lugar no grupo passaria para as semifinais.
Nem é preciso destacar a rivalidade que há entre brasileiros e argentinos quando se trata de qualquer esporte, principalmente do futebol. A Seleção comandada por Telê Santana estava tinindo. Suas atuações vinham encantando não somente imprensa e torcida brasileiras, mas o mundo.
Os argentinos, por sua vez, defendiam o contestado título mundial conquistado quatro anos antes, em seus domínios. Contavam, entre outros excelentes jogadores, com Diego Maradona em grande forma técnica. Era, então, seu grande trunfo.
O confronto entre esses dois gigantes do futebol mundial ocorreu em 3 de julho de 1982, no Estádio Sarriá da cidade de Barcelona, diante de um público de 44 mil pessoas. Foi um jogão, arbitrado pelo mexicano Mario Rubio Vazquez.
Telê Santana mandou a campo a seguinte equipe: Valdir Perez, Leandro (Edevaldo), Oscar, Luisinho e Junior; Cerezo, Falcão e Sócrates; Zico (Batista), Serginho e Eder. Os argentinos jogaram com esta formação: Fillol, Olguin, Galvan, Passarella e Tarantini; Barbas, Ardiles e Calderon; Bertoni (Santamaria), Maradona e Kemps (Diaz).
O Brasil abriu o marcador logo aos 11 minutos, com Zico, e assim terminou o primeiro tempo. Na segunda etapa, nossa seleção jogou com pinta de campeã. Esbanjou categoria. E os gols foram saindo naturalmente, com Serginho aos 21 minutos e Junior, aos 30. Aos 40, Maradona foi expulso por jogada violenta (quem diria!). E aos 44 minutos, Diaz fez o gol de honra da Argentina. A partida terminou com 3 a 1 para o Brasil.
Restava, agora, vencer a Itália – que na primeira fase fizera uma campanha pífia sem vencer nenhum jogo, com três empates – para seguir adiante rumo ao título. A Seleção Brasileira era favoritíssima. Os jogadores italianos estavam brigados com a torcida e com a imprensa, por causa de denúncias de suborno e outras tantas marmeladas no campeonato peninsular. O atacante Paolo Rossi era o mais criticado de todos.
O confronto entre o Brasil e a Itália ocorreu em 5 de julho de 1982. O que aconteceu nele passou para a história do futebol sob o apelido de “O desastre do Sarriá”, nome do estádio em que o jogo foi disputado e que sequer existe mais. Foi demolido anos depois da Copa. O árbitro foi o israelense Abraham Klein.
O Brasil jogou com: Valdir Perez, Leandro, Oscar, Luisinho e Junior; Cerezo, Falcão e Sócrates; Zico, Serginho (Paulo Isidoro) e Eder. A escalação italiana foi a seguinte: Zoff, Gentile, Scirea, Collovati (Bergomi) e Cabrini; Antognioni, Oreali e Tardelli (Marini); Conti, Rossi e Grazziani.
A torcida brasileira levou o primeiro susto logo aos 5 minutos de partida, com o gol de Paolo Rossi. Mas o alívio viria sete minutos depois, aos 12, quando Sócrates empatou. O Brasil jogava bem, as jogadas fluíam e tudo indicava que a virada era apenas questão de tempo. Não foi o que aconteceu.
Aos 25 minutos, a exemplo do que havia acontecido no primeiro gol italiano, Paolo Rossi voltou a aparecer livre na pequena área para empurrar a bola para a meta brasileira. O primeiro tempo terminou assim: com 2 a 1 para a Itália.
Na segunda etapa, o Brasil mostrou-se ainda mais ofensivo. Prensou a equipe italiana contra seu próprio campo. E aos 23 minutos, o País veio abaixo de euforia. Falcão, da entrada da grande área, desferiu um chutaço indefensável, determinando novo empate.
Animada pela reação, a equipe de Telê foi toda para a frente, na ânsia de virar o placar. Todavia, bastaram reles seis minutos para nossos sonhos virarem pó. Paolo Rossi, pela terceira vez (o cara estava endiabrado nesse jogo) fez o gol, parecidíssimo com os outros dois que havia feito, este último aos 29 minutos do segundo tempo.
O Brasil tentou, tentou e tentou, de todas as formas possíveis, mas não deu. Esbarrou ora nas mãos do goleiro Zoff, ora no indevassável ferrolho defensivo italiano. Quando Klein apitou o fim do jogo, houve como que uma comoção nacional, do Oiapoque ao Chuí, que me lembrou bastante a de 1950.
Ninguém entendia o que havia ocorrido. Cada um de nós perguntava a si mesmo como era possível uma seleção, que na primeira fase não vencera um só jogo, que só fizera, até enfrentar o Brasil, quatro gols e levara três, ganhar de uma equipe que até então só vencera, fizera treze gols e levara só dois? E além do que, era, tecnicamente, muitíssimo superior à seleção italiana.
Ficou uma sensação chata, amarga, persistente de frustração, de injustiça, de sacanagem dos deuses dos estádios. Fora a vitória do anti-futebol sobre o futebol arte. Mas esse esporte é assim mesmo: Imponderável. É um dos poucos em que nem sempre o melhor é o que sai vitorioso. No jogo entre Brasil e Itália, o superior não foi quem ganhou.
Pedro J. Bondaczuk
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A Seleção Brasileira, até a Copa do Mundo de 1982, havia enfrentado a Argentina, em campeonatos mundiais, em apenas duas oportunidades. A primeira foi em 30 de junho de 1974, no Niedersachen Stadion, em Hannover, na Alemanha, e o Brasil venceu por 2 a 1. O segundo jogo foi na Copa seguinte. Ocorreu em 18 de junho de 1978, em Rosário, na Argentina, e o placar foi 0 a 0.
No segundo turno do Mundial da Espanha, ambas as seleções caíram no Grupo C, completado pela Itália. Iriam, portanto, se enfrentar pela terceira vez em copas. Seria um tira-teima para ambos. A seleção que terminasse em primeiro lugar no grupo passaria para as semifinais.
Nem é preciso destacar a rivalidade que há entre brasileiros e argentinos quando se trata de qualquer esporte, principalmente do futebol. A Seleção comandada por Telê Santana estava tinindo. Suas atuações vinham encantando não somente imprensa e torcida brasileiras, mas o mundo.
Os argentinos, por sua vez, defendiam o contestado título mundial conquistado quatro anos antes, em seus domínios. Contavam, entre outros excelentes jogadores, com Diego Maradona em grande forma técnica. Era, então, seu grande trunfo.
O confronto entre esses dois gigantes do futebol mundial ocorreu em 3 de julho de 1982, no Estádio Sarriá da cidade de Barcelona, diante de um público de 44 mil pessoas. Foi um jogão, arbitrado pelo mexicano Mario Rubio Vazquez.
Telê Santana mandou a campo a seguinte equipe: Valdir Perez, Leandro (Edevaldo), Oscar, Luisinho e Junior; Cerezo, Falcão e Sócrates; Zico (Batista), Serginho e Eder. Os argentinos jogaram com esta formação: Fillol, Olguin, Galvan, Passarella e Tarantini; Barbas, Ardiles e Calderon; Bertoni (Santamaria), Maradona e Kemps (Diaz).
O Brasil abriu o marcador logo aos 11 minutos, com Zico, e assim terminou o primeiro tempo. Na segunda etapa, nossa seleção jogou com pinta de campeã. Esbanjou categoria. E os gols foram saindo naturalmente, com Serginho aos 21 minutos e Junior, aos 30. Aos 40, Maradona foi expulso por jogada violenta (quem diria!). E aos 44 minutos, Diaz fez o gol de honra da Argentina. A partida terminou com 3 a 1 para o Brasil.
Restava, agora, vencer a Itália – que na primeira fase fizera uma campanha pífia sem vencer nenhum jogo, com três empates – para seguir adiante rumo ao título. A Seleção Brasileira era favoritíssima. Os jogadores italianos estavam brigados com a torcida e com a imprensa, por causa de denúncias de suborno e outras tantas marmeladas no campeonato peninsular. O atacante Paolo Rossi era o mais criticado de todos.
O confronto entre o Brasil e a Itália ocorreu em 5 de julho de 1982. O que aconteceu nele passou para a história do futebol sob o apelido de “O desastre do Sarriá”, nome do estádio em que o jogo foi disputado e que sequer existe mais. Foi demolido anos depois da Copa. O árbitro foi o israelense Abraham Klein.
O Brasil jogou com: Valdir Perez, Leandro, Oscar, Luisinho e Junior; Cerezo, Falcão e Sócrates; Zico, Serginho (Paulo Isidoro) e Eder. A escalação italiana foi a seguinte: Zoff, Gentile, Scirea, Collovati (Bergomi) e Cabrini; Antognioni, Oreali e Tardelli (Marini); Conti, Rossi e Grazziani.
A torcida brasileira levou o primeiro susto logo aos 5 minutos de partida, com o gol de Paolo Rossi. Mas o alívio viria sete minutos depois, aos 12, quando Sócrates empatou. O Brasil jogava bem, as jogadas fluíam e tudo indicava que a virada era apenas questão de tempo. Não foi o que aconteceu.
Aos 25 minutos, a exemplo do que havia acontecido no primeiro gol italiano, Paolo Rossi voltou a aparecer livre na pequena área para empurrar a bola para a meta brasileira. O primeiro tempo terminou assim: com 2 a 1 para a Itália.
Na segunda etapa, o Brasil mostrou-se ainda mais ofensivo. Prensou a equipe italiana contra seu próprio campo. E aos 23 minutos, o País veio abaixo de euforia. Falcão, da entrada da grande área, desferiu um chutaço indefensável, determinando novo empate.
Animada pela reação, a equipe de Telê foi toda para a frente, na ânsia de virar o placar. Todavia, bastaram reles seis minutos para nossos sonhos virarem pó. Paolo Rossi, pela terceira vez (o cara estava endiabrado nesse jogo) fez o gol, parecidíssimo com os outros dois que havia feito, este último aos 29 minutos do segundo tempo.
O Brasil tentou, tentou e tentou, de todas as formas possíveis, mas não deu. Esbarrou ora nas mãos do goleiro Zoff, ora no indevassável ferrolho defensivo italiano. Quando Klein apitou o fim do jogo, houve como que uma comoção nacional, do Oiapoque ao Chuí, que me lembrou bastante a de 1950.
Ninguém entendia o que havia ocorrido. Cada um de nós perguntava a si mesmo como era possível uma seleção, que na primeira fase não vencera um só jogo, que só fizera, até enfrentar o Brasil, quatro gols e levara três, ganhar de uma equipe que até então só vencera, fizera treze gols e levara só dois? E além do que, era, tecnicamente, muitíssimo superior à seleção italiana.
Ficou uma sensação chata, amarga, persistente de frustração, de injustiça, de sacanagem dos deuses dos estádios. Fora a vitória do anti-futebol sobre o futebol arte. Mas esse esporte é assim mesmo: Imponderável. É um dos poucos em que nem sempre o melhor é o que sai vitorioso. No jogo entre Brasil e Itália, o superior não foi quem ganhou.
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