As feras do Saldanha
Pedro J. Bondaczuk
Setenta países disputaram as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, no México. O Brasil, sob o comando técnico de João Saldanha, que montou um time de “feras”, no melhor sentido da palavra, ou seja, de inigualável capacidade técnica, estava num grupo relativamente fácil, o 11 da América do Sul, ao lado de Colômbia, Venezuela e Paraguai
Colombianos e venezuelanos não representavam, lá, muito perigo, para não dizer nenhum, para as nossas pretensões. Teríamos que ficar de olho nos paraguaios, que costumavam endurecer os jogos contra a Seleção Brasileira. Mas o risco do nosso País ficar fora da Copa do México era irrisório, ínfimo, praticamente nulo. Até porque, até então, não havíamos perdido uma única vez, para quem quer que fosse, em toda a história das eliminatórias, tabu que viria a ser quebrado, apenas, em 1993, na altitude de La Paz, na Bolívia.
A estréia brasileira ocorreu em 6 de agosto de 1969, em Bogotá. Mesmo não fazendo uma partida brilhante, jogando, apenas, “para o gasto”, a Seleção venceu a Colômbia por 2 a 0. A imprensa recebeu o resultado sem muito entusiasmo. Na verdade, sem nenhum.
Houve críticas ao treinador novato, embora até hoje eu não saiba por que. Saldanha não fez nada de errado, pelo contrário. Convocou certo, pois chamou os melhores de cada posição. Escalou os jogadores que atravessavam melhor fase em seus clubes. E afinal de contas, ora bolas, ganhou o jogo e fora de casa!
Bem, parece que meus colegas jornalistas queriam uma goleada brasileira. Era o que queriam? Pois ela veio. E no jogo seguinte, em 10 de agosto de 1969, quando o Brasil goleou, em Caracas, a Venezuela, por um irrefutável 5 a 0.
“Ah, mas o adversário era muito fraco”, argumentou a imprensa. Fraco sim, porém foi goleado. As “Feras do Saldanha” cumpriram o seu papel, ora pois! A Seleção jogou com seriedade, mas não forçou muito na segunda etapa. Se forçasse...
No jogo seguinte, em 17 de agosto de 1969, os jornalistas não tinham mais o que criticar. A Seleção Brasileira foi a Assunção e sapecou um clássico 3 a 0 na segunda força do grupo, o Paraguai o que não era fácil, e muito menos é agora, para qualquer um.
Ganhar dos paraguaios no Defensores Del Chaco sempre foi tarefa indigesta, seja para o Brasil, seja para a Argentina, seja para quem for. Àquela altura, estávamos praticamente classificados. Só uma catástrofe, uma hecatombe, uma zebra monumental faria com que perdêssemos as três próximas partidas, todas em nossos domínios.
Recebemos, em 21 de agosto de 1969, os colombianos e os goleamos, por 6 a 2. Notem que os jogos eram em datas muito próximas umas das outras, sem tempo sequer para treino, quanto mais para descanso. E com viagens longas no caminho.
Mas as “Feras do Saldanha” não estavam nem aí. Em 24 de agosto de 1969, num Maracanã com público apenas razoável, o Brasil repetiu a dose do compromisso anterior e sapecou um 6 a 0 na Venezuela. Quem não assistiu a essa partida não sabe o que perdeu. E o placar só não foi mais elástico, porque a Seleção resolveu dar show.
Só no último jogo, contra os esforçados paraguaios, também no Maracanã, o resultado foi magrinho: 1 a 0. Foi o quanto bastou para a imprensa voltar a cair de pau em João Saldanha e olhem que o técnico era colega de profissão dos seus ferozes críticos.
Mas aquela foi uma campanha brasileira inigualável em eliminatórias. O Brasil venceu todos os seis jogos que disputou. Marcou vinte e três gols, com média de 3,8 por partida e sofreu apenas dois, ambos, curiosamente, no Maracanã.
Estava classificado, classificadíssimo para a Copa do México e, ainda assim... Será que Saldanha não teve mérito algum na montagem desse supertime? Será que não merece ter o nome associado para sempre ao tri? Como às vezes somos perversos (não seria “invejosos” a palavra adequada?) com os competentes em nosso meio!
Pedro J. Bondaczuk
Setenta países disputaram as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, no México. O Brasil, sob o comando técnico de João Saldanha, que montou um time de “feras”, no melhor sentido da palavra, ou seja, de inigualável capacidade técnica, estava num grupo relativamente fácil, o 11 da América do Sul, ao lado de Colômbia, Venezuela e Paraguai
Colombianos e venezuelanos não representavam, lá, muito perigo, para não dizer nenhum, para as nossas pretensões. Teríamos que ficar de olho nos paraguaios, que costumavam endurecer os jogos contra a Seleção Brasileira. Mas o risco do nosso País ficar fora da Copa do México era irrisório, ínfimo, praticamente nulo. Até porque, até então, não havíamos perdido uma única vez, para quem quer que fosse, em toda a história das eliminatórias, tabu que viria a ser quebrado, apenas, em 1993, na altitude de La Paz, na Bolívia.
A estréia brasileira ocorreu em 6 de agosto de 1969, em Bogotá. Mesmo não fazendo uma partida brilhante, jogando, apenas, “para o gasto”, a Seleção venceu a Colômbia por 2 a 0. A imprensa recebeu o resultado sem muito entusiasmo. Na verdade, sem nenhum.
Houve críticas ao treinador novato, embora até hoje eu não saiba por que. Saldanha não fez nada de errado, pelo contrário. Convocou certo, pois chamou os melhores de cada posição. Escalou os jogadores que atravessavam melhor fase em seus clubes. E afinal de contas, ora bolas, ganhou o jogo e fora de casa!
Bem, parece que meus colegas jornalistas queriam uma goleada brasileira. Era o que queriam? Pois ela veio. E no jogo seguinte, em 10 de agosto de 1969, quando o Brasil goleou, em Caracas, a Venezuela, por um irrefutável 5 a 0.
“Ah, mas o adversário era muito fraco”, argumentou a imprensa. Fraco sim, porém foi goleado. As “Feras do Saldanha” cumpriram o seu papel, ora pois! A Seleção jogou com seriedade, mas não forçou muito na segunda etapa. Se forçasse...
No jogo seguinte, em 17 de agosto de 1969, os jornalistas não tinham mais o que criticar. A Seleção Brasileira foi a Assunção e sapecou um clássico 3 a 0 na segunda força do grupo, o Paraguai o que não era fácil, e muito menos é agora, para qualquer um.
Ganhar dos paraguaios no Defensores Del Chaco sempre foi tarefa indigesta, seja para o Brasil, seja para a Argentina, seja para quem for. Àquela altura, estávamos praticamente classificados. Só uma catástrofe, uma hecatombe, uma zebra monumental faria com que perdêssemos as três próximas partidas, todas em nossos domínios.
Recebemos, em 21 de agosto de 1969, os colombianos e os goleamos, por 6 a 2. Notem que os jogos eram em datas muito próximas umas das outras, sem tempo sequer para treino, quanto mais para descanso. E com viagens longas no caminho.
Mas as “Feras do Saldanha” não estavam nem aí. Em 24 de agosto de 1969, num Maracanã com público apenas razoável, o Brasil repetiu a dose do compromisso anterior e sapecou um 6 a 0 na Venezuela. Quem não assistiu a essa partida não sabe o que perdeu. E o placar só não foi mais elástico, porque a Seleção resolveu dar show.
Só no último jogo, contra os esforçados paraguaios, também no Maracanã, o resultado foi magrinho: 1 a 0. Foi o quanto bastou para a imprensa voltar a cair de pau em João Saldanha e olhem que o técnico era colega de profissão dos seus ferozes críticos.
Mas aquela foi uma campanha brasileira inigualável em eliminatórias. O Brasil venceu todos os seis jogos que disputou. Marcou vinte e três gols, com média de 3,8 por partida e sofreu apenas dois, ambos, curiosamente, no Maracanã.
Estava classificado, classificadíssimo para a Copa do México e, ainda assim... Será que Saldanha não teve mérito algum na montagem desse supertime? Será que não merece ter o nome associado para sempre ao tri? Como às vezes somos perversos (não seria “invejosos” a palavra adequada?) com os competentes em nosso meio!
No comments:
Post a Comment