Copa cheia de armações
Pedro J. Bondaczuk
A Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina, foi caracterizada por uma série de controvérsias e por acusações de armação que extrapolaram os limites dos gramados e distorceram seu resultado final. Foi a tal que o Brasil foi “campeão moral”, expressão que muita gente tratou com ironia, mas que foi a mais lídima expressão da verdade. Nossa Seleção foi a única invicta nesse Mundial e, ainda assim, sequer disputou o título, tendo de se contentar com o terceiro lugar.
A ditadura militar argentina, mal vista (com toda a razão) no exterior – após sua queda, anos depois, revelações chocantes estarreceriam a comunidade internacional dando conta de um dos maiores genocídios dos tempos modernos – investiu muito nessa Copa, esperando, com isso, com uma eventual conquista da sua seleção, melhorar sua imagem interna e externamente. A meu ver, apesar do título, não conseguiu.
Não quero dizer com isso que “los hermanos” não tivessem um futebol de primeira grandeza que os qualificassem a um triunfo tão importante. Tinham. Jogavam (como ainda jogam) o fino da bola. O fato de nunca terem ganhado um mundial era uma distorção da realidade.
Os argentinos deixaram de participar de alguns mundiais pós-Segunda Guerra, por razões que não compete discutir. Houvessem disputado, provavelmente àquela altura já seriam campeões e mais de uma vez. O que não pode, porém, ser omitido, é essa péssima mistura de (bom) futebol com (má) política. Foi o que se fez em 1978.
A Seleção anfitriã poderia ter vencido aquela Copa apenas por seus reconhecidos méritos técnicos, sem mutretas como, por exemplo (a maior delas) a suspeitíssima goleada sobre o Peru, que alijou o Brasil da disputa do título, abrindo caminho para a “consagração” portenha.
O ano de 1978 marcou outra fase brilhante em minha vida pessoal. Mal eu sabia que, alguns meses depois, em meados de 1979, tudo iria desandar. Que bom seria se tivéssemos bola de cristal que pudesse nos prevenir de riscos futuros para que fugíssemos deles.
Eu estava, na oportunidade, com trinta e cinco anos e meio, bem casado (como ainda estou) e já era pai de duas lindas, saudáveis e inteligentes menininhas. A vida, francamente, me sorria. Ademais, já trabalhava num jornal diário, o que por anos havia sido minha grande3 aspiração, e na função mais nobre (ou uma das mais) do jornalismo: a de editor (que exerço até hoje).
Acompanhei atentamente essa Copa até por razões profissionais. Porque assinava, na ocasião, uma coluna esportiva diária, num jornal de grande circulação. Travei, na época, ácidas polêmicas com companheiros de profissão, que não escondiam seu preconceito em relação à nossa Seleção, mas não por sua eventual deficiência técnica, mas pelo fato dela ser treinada por um militar: o capitão Cláudio Coutinho.
Recorde-se que estávamos em plena ditadura (que, a exemplo de boa parte dos meus companheiros de imprensa, mas não todos, eu abominava). Reitero que não morria de amores pelos usurpadores do poder que, a pretexto de defenderem a democracia, suprimiram-na. Não via a hora da redemocratização do País.
Só que eu não concordava em misturar as coisas, em generalizar, em tirar conclusões precipitadas e irresponsáveis. Cláudio Coutinho era militar de profissão, sim, mas não exercia na Seleção nenhuma função relacionada a isso. E apesar de muitos não concordarem, era um técnico além de competente, experiente. Fizera parte das comissões técnicas de 1970 (tricampeão mundial) e de 1974 (quarta colocada).
Não consta que o nosso capitão do Exército tenha participado do golpe de 1964, tenha prendido opositores e, muito menos, tenha torturado alguém. Aliás,. Cláudio Coutinho sequer se meteu alguma vez em política. Sua praia era o futebol.
Como pensava na época, continuo pensando ainda hoje. Entendo que o treinador da Seleção Brasileira de 1978 fez um bom trabalho e só não conquistou o tetra por uma série de circunstâncias extracampo. Foi injustiçado pela história, mas apenas por preconceito e desinformação. E isso é muito ruim para quem lida com notícias.
Condenar Coutinho apenas por ser militar equivaleria a dizer que “todos” jornalistas seriam homicidas potenciais, porque alguém da nossa profissão assassinou a namorada. Claro que tal generalização é burra, é burríssima, é estúpida, é estupidíssima, por ser absurda. Como foi, igualmente, aliás, a que muitos fizeram em relação ao treinador de 1978. E apenas pelo fato dele ser capitão do Exército.
Pedro J. Bondaczuk
A Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina, foi caracterizada por uma série de controvérsias e por acusações de armação que extrapolaram os limites dos gramados e distorceram seu resultado final. Foi a tal que o Brasil foi “campeão moral”, expressão que muita gente tratou com ironia, mas que foi a mais lídima expressão da verdade. Nossa Seleção foi a única invicta nesse Mundial e, ainda assim, sequer disputou o título, tendo de se contentar com o terceiro lugar.
A ditadura militar argentina, mal vista (com toda a razão) no exterior – após sua queda, anos depois, revelações chocantes estarreceriam a comunidade internacional dando conta de um dos maiores genocídios dos tempos modernos – investiu muito nessa Copa, esperando, com isso, com uma eventual conquista da sua seleção, melhorar sua imagem interna e externamente. A meu ver, apesar do título, não conseguiu.
Não quero dizer com isso que “los hermanos” não tivessem um futebol de primeira grandeza que os qualificassem a um triunfo tão importante. Tinham. Jogavam (como ainda jogam) o fino da bola. O fato de nunca terem ganhado um mundial era uma distorção da realidade.
Os argentinos deixaram de participar de alguns mundiais pós-Segunda Guerra, por razões que não compete discutir. Houvessem disputado, provavelmente àquela altura já seriam campeões e mais de uma vez. O que não pode, porém, ser omitido, é essa péssima mistura de (bom) futebol com (má) política. Foi o que se fez em 1978.
A Seleção anfitriã poderia ter vencido aquela Copa apenas por seus reconhecidos méritos técnicos, sem mutretas como, por exemplo (a maior delas) a suspeitíssima goleada sobre o Peru, que alijou o Brasil da disputa do título, abrindo caminho para a “consagração” portenha.
O ano de 1978 marcou outra fase brilhante em minha vida pessoal. Mal eu sabia que, alguns meses depois, em meados de 1979, tudo iria desandar. Que bom seria se tivéssemos bola de cristal que pudesse nos prevenir de riscos futuros para que fugíssemos deles.
Eu estava, na oportunidade, com trinta e cinco anos e meio, bem casado (como ainda estou) e já era pai de duas lindas, saudáveis e inteligentes menininhas. A vida, francamente, me sorria. Ademais, já trabalhava num jornal diário, o que por anos havia sido minha grande3 aspiração, e na função mais nobre (ou uma das mais) do jornalismo: a de editor (que exerço até hoje).
Acompanhei atentamente essa Copa até por razões profissionais. Porque assinava, na ocasião, uma coluna esportiva diária, num jornal de grande circulação. Travei, na época, ácidas polêmicas com companheiros de profissão, que não escondiam seu preconceito em relação à nossa Seleção, mas não por sua eventual deficiência técnica, mas pelo fato dela ser treinada por um militar: o capitão Cláudio Coutinho.
Recorde-se que estávamos em plena ditadura (que, a exemplo de boa parte dos meus companheiros de imprensa, mas não todos, eu abominava). Reitero que não morria de amores pelos usurpadores do poder que, a pretexto de defenderem a democracia, suprimiram-na. Não via a hora da redemocratização do País.
Só que eu não concordava em misturar as coisas, em generalizar, em tirar conclusões precipitadas e irresponsáveis. Cláudio Coutinho era militar de profissão, sim, mas não exercia na Seleção nenhuma função relacionada a isso. E apesar de muitos não concordarem, era um técnico além de competente, experiente. Fizera parte das comissões técnicas de 1970 (tricampeão mundial) e de 1974 (quarta colocada).
Não consta que o nosso capitão do Exército tenha participado do golpe de 1964, tenha prendido opositores e, muito menos, tenha torturado alguém. Aliás,. Cláudio Coutinho sequer se meteu alguma vez em política. Sua praia era o futebol.
Como pensava na época, continuo pensando ainda hoje. Entendo que o treinador da Seleção Brasileira de 1978 fez um bom trabalho e só não conquistou o tetra por uma série de circunstâncias extracampo. Foi injustiçado pela história, mas apenas por preconceito e desinformação. E isso é muito ruim para quem lida com notícias.
Condenar Coutinho apenas por ser militar equivaleria a dizer que “todos” jornalistas seriam homicidas potenciais, porque alguém da nossa profissão assassinou a namorada. Claro que tal generalização é burra, é burríssima, é estúpida, é estupidíssima, por ser absurda. Como foi, igualmente, aliás, a que muitos fizeram em relação ao treinador de 1978. E apenas pelo fato dele ser capitão do Exército.
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