Sunday, August 01, 2010




A escalada de crimes

Pedro J. Bondaczuk

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, José Roberto Batochio, está lançando uma campanha de âmbito nacional para conscientizar a população de que a onda de violência no País tem que parar. E já não era sem tempo uma iniciativa nesse sentido.

Faz-se indispensável uma tomada de consciência profunda a esse respeito, até por uma questão de sobrevivência, tanto pessoal quanto social. A escalada de crimes de toda a sorte, tanto por parte de traficantes, seqüestradores e pessoas à margem da sociedade, quanto dos vários grupos de extermínio, que não passam de quadrilhas de criminosos iguais ou piores do que os que pretendem “justiçar”, chegou agora à exacerbação.

Alberto Dines, num trabalho publicado em 13 de junho de 1992 no “Caderno de Sábado” do “Jornal da Tarde” já alertava: “...Me preocupa o espetáculo de fúria que o Brasil apresenta. É uma pessoa loucamente contra a outra. É uma coisa irracional, não tem lógica, estão todos brigando. Se não tomarmos cuidado isso pode descambar em um processo de destruição”.

De lá para cá, a situação não melhorou nada. Apenas deteriorou-se. O País assistiu, estarrecido, o massacre de 111 presos na Casa de Detenção de São Paulo. Inquietou-se com as imagens dramáticas da rebelião de menores na Febem do Tatuapé. Assustou-se com os vários crimes cometidos por adolescentes para roubar simples pares de tênis. Indignou-se com as chacinas da Candelária, dos ianomâmis e da Favela do Vigário Geral.

E isto apenas para mencionar os episódios que ganharam repercussão internacional, sem levar em conta os “crimes a varejo”, aqueles do dia a dia que preenchem o espaço do noticiário policial. Aos brasileiros não importa que o quadro de violência é hoje uma característica mundial. A nós compete resolver nossas próprias distorções. Cada qual que solucione as suas.

Batochio, em sua campanha, pretende mostrar que a solução para este clima de autêntica guerra civil não é a pena de morte, como muitos apregoam, até emocionalmente, sem se deter para uma reflexão mais séria. Nos países em que este tipo de castigo existe, a criminalidade é tão grande ou maior do que onde não há esse procedimento. A solução, portanto, não passa por aí.

Está na conscientização do valor da vida. O presidente da OAB já idealizou até o slogan a ser usado em sua campanha: “Não aplauda a violência. Você pode ser o morto de amanhã”. É indispensável, porém, que os meios de comunicação, em especial a televisão, que é o de maior alcance e influência, colaborem com essa cruzada de desarmamento de espíritos.

Que seja mais seletiva na organização de sua programação, evitando de exibir esse “lixo cultural” importado, que nada acrescenta em termos de conhecimento ou sequer de diversão e ainda por cima cala fundo no espírito dos mais desavisados ou mentalmente mais frágeis.

Mas a advertência maior vem do cardeal-arcebispo de Salvador, d. Lucas Moreira Neves: “Quando a juventude de um país é empurrada para toda espécie de depravação moral, sobretudo para a pornografia e a droga; quando falta ética na gestão do bem comum, dos dinheiros públicos, nas relações familiares; quando a vida é desvalorizada até tornar-se objeto de teorias e práticas que ameaçam a existência de embriões e fetos, não se surpreende que se suprimam vidas de crianças, adolescentes e jovens considerados perigosos hoje ou no futuro próximo”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de setembro de 1993).

No comments: