Thursday, August 12, 2010




Copa tensa e controversa

Pedro J. Bondaczuk

A Copa do Mundo de 1974 foi uma das mais tensas e controvertidas de todos os mundiais disputados até então. A tensão deveu-se às ameaças de atentados terroristas que, desde meados da década de 60, vinham se acentuando em várias partes do mundo.
Em 5 de setembro de 1972, por exemplo, durante a realização dos Jogos Olímpicos de Verão em Munique, o grupo extremista palestino Setembro Negro havia invadido o alojamento da delegação israelense. Foram seqüestrados onze atletas, que acabaram mortos em vários momentos do seqüestro. O incidente passou para a história com o nome de “Massacre de Munique”.
O Mundial da Alemanha foi, pois, marcado, sobretudo, por um esquema de segurança sem precedentes, com cães de guarda, policiais armados até os dentes e concentrações que eram, rigorosamente, autênticas prisões. Tudo não passou, porém, de paranóia. Não aconteceu nada.
A controvérsia ficou por conta de suposta armação dos donos da casa, a Alemanha Ocidental, que teria perdido de propósito, na fase de classificação, um jogo para co-irmã, a Alemanha Oriental, para escapar da possibilidade de ter que enfrentar o Brasil ou a Holanda nas quartas de final. E escapou.
A Fifa contava com novo presidente, o brasileiro João Havelange, em cuja longa gestão o Brasil conquistou somente um único título: o de 1994 nos Estados Unidos. Fora, ainda, instituído um novo troféu, de posse sempre transitória, ao contrário da taça Jules Rimet, conquistada, em definitivo pela equipe brasileira em 1970, que mais tarde seria roubada no Rio de Janeiro e supostamente derretida pelos ladrões. A que hoje está na CBF, é uma réplica da original e foi ofertada por quem contribuiu decisivamente para a conquista do tri (e da taça): Pelé.
Essa é a Copa do Mundo que me traz as lembranças mais desencontradas, com as boas se misturando a outras, muito ruins. Na ocasião, eu estava com 31 anos e meio, casado há mais de um ano e, em 12 de fevereiro desse 1974, no exato dia em que comecei a trabalhar numa nova empresa, a multinacional norte-americana 3M do Brasil, situada em Sumaré, na região da Grande Campinas, nascia a minha primeira filha.
Considerei essa coincidência como um “aviso de sorte”. Embora fosse contratado para exercer a mesma função que havia exercido na Rhodia, ou seja, a de assessor de imprensa, preparava, pacientemente, terreno para ingressar em algum jornal diário ou, quem sabe, retomar a interrompida carreira de radialista.
O que brecava um pouco o meu ímpeto era o salário, muito maior nas multinacionais em que trabalhei do que o das empresas jornalísticas e emissoras de rádio. Na ocasião, com a família aumentada, tinha que pensar na renda mensal para fazer face às despesas. É certo que não tinha que pagar aluguel já que, com a ajuda dos meus pais, concluíra, em 1972, a construção da minha casa própria, em Barão Geraldo, de alto padrão, com todo o conforto disponível na ocasião.
Quando casei, em fevereiro de 1973, estava com minha residência totalmente aparelhada e mobiliada, e não devia um único centavo a quem quer que fosse. Como se vê, eu tinha tudo para acompanhar a Copa de 1974, em minha TV em cores, em alto astral. Mas... nada é perfeito.
Em fins de maio daquele ano contraí pneumonia dupla, o que quase dá cabo da minha vida. Acompanhei, pois, o Mundial de 1974, disputado entre 13 de junho e 7 de julho, acamado e em convalescença. A lembrança sensorial mais forte daquele período é a de frio, muito frio, em parte pelo inverno rigoroso que fez, e em parte por causa dos sucessivos acessos de febre causados pela pneumonia.
Por pouco que a minha filha recém-nascida ficou órfã de pai. Mas foi apenas “quase”. Meu organismo vigoroso reagiu bem à medicação e, assim, consegui dar a volta por cima. Porém a Seleção Brasileira, que terminou esse Mundial na 4ª colocação, com três vitórias, dois empates e duas derrotas (a última para a Polônia, por 1 a 0), não conseguiu. Aliás, a partir daí, o Brasil permaneceria vinte anos na fila, sem conseguir conquistar títulos, vindo a se apossar do novo troféu Fifa pela primeira vez apenas em 1994.
Esse foi, pois, um Mundial que gostaria de esquecer (assim como o de 1990), mas que não deixarei de analisar, pois são os fatos negativos que nos deixam mais lições para as vitórias que viermos a construir. Isso, claro, somente se não repetirmos os erros que nos derrubaram e não permanecermos no chão, lamentando fracassos, mas nos levantarmos, sacudirmos a poeira e darmos a volta por cima.
O futebol brasileiro é tão magnífico, que mesmo ficando vinte anos sem títulos, não foi ultrapassado pelo de nenhum país. Outro ponto a salientar é que a Copa de 1974 foi a primeira, desde 1958, que o Brasil disputou sem contar com a magia de Pelé e sem o talento de Garrincha.
Aliás, o rei bem que poderia ter disputado aquele Mundial. Não quis. A CBD fez de tudo para que ele jogasse, em vão. O maior jogador de todos os tempos manteve-se irredutível na decisão de não mais vestir a amarelinha. Foi para a Alemanha apenas como “garoto propaganda”. E no fim da competição, confidenciou a amigos que se arrependia de não haver disputado aquela Copa. Mas, aí... Já era tarde...

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