Os cinco camisas 10
* Pedro J. Bondaczuk
O que você diria se o novo técnico da Seleção Brasileira, aquele que terá a difícil incumbência, o grande desafio de vencer a Copa de 2014 e evitar a repetição do “Maracvanazo” de 1950, convocasse cinco jogadores para a mesmíssima posição? Talvez o achasse incompetente ou, no mínimo, meio maluco, um inventor, uma espécie de Professor Pardal.
E se ele fosse mais longe e resolvesse escalar todos eles juntos? Seria um Deus nos acuda! A imprensa cairia de pau nesse sujeito, dizendo cobras e lagartos sobre ele e os sites, blogs e twiters da internet estariam repletos de mensagens e comentários, cujo teor oscilaria entre o tom irado e cheio de palavrões e o jocoso, repleto de piadinhas, algumas criativas e outras de uma burrice abissal.
Não, o próximo técnico, certamente, não fará isso! Não fará? Ademais, será que há alguma posição em que o Brasil esteja tão bem servido a ponto de todos os bons jogadores que atuam nela merecerem ser convocados? Algum treinador já fez isso?
Fez! E deu-se muito bem. Não somente convocou cinco jogadores da mesmíssima posição, como teve a suprema ousadia de colocá-los todos como titulares simultaneamente. Claro que quatro tiveram que ser improvisados em novas funções. Como eram craques na acepção do termo, simplesmente geniais, cumpriram as novas tarefas com perfeição, como se sempre houvessem jogado no setor do campo, e com as responsabilidades das posições em que foram improvisados.
Mas quem foi esse maluco, que teve essa ousadia, ainda mais se tratando de uma Seleção Brasileira e disputando uma Copa do Mundo? Foi um sujeito apaixonado pela “amarelinha”, que sempre a honrou todas as vezes que a vestiu e que se consagrou, tanto como jogador, quanto como treinador.
Vocês ainda não descobriram a quem me refiro? Pois revelar-lhes-ei, com o maior prazer, quem é essa figura, porquanto nada no mundo me satisfaz tanto quanto reconhecer os méritos dos competentes e dos vencedores. Esse “maluco” ousado foi Mário Jorge Lobo Zagallo.
Na convocação para a Copa do Mundo de 1970, o então inexperiente treinador (talvez mais inexperiente até do que aquele a quem substituiu, João Saldanha), que não fazia muito havia pendurado as chuteiras com um bicampeonato mundial no currículo, convocou cinco camisas 10, que estavam arrasando em seus respectivos clubes: Jairzinho (Botafogo), Gerson (São Paulo), Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos) e Rivelino (Corinthians).
Na Copa, o primeiro jogou na ponta-direita; o segundo, armando, no meio de campo; o terceiro, atuou como centro-avante e o quinto como ponta-esquerda. Nem preciso dizer quem ficou com a camisa 10, não é mesmo? Esta só poderia ficar, mesmo, para Pelé.
Será que algum técnico atual, por maior renome que tenha e mais experiência que ostente teria (ou terá) a coragem de fazer isso? Duvido! Mas Zagallo valeu-se da lógica mais (perdoem a redundância) lógica, da mais elementar, simples e direta: “está jogando bem? Tem que ser titular! É craque mesmo e não mero produto midiático? Jogará bem em qualquer posição!”.
Eu nunca antes tinha visto, e nunca mais vi depois, qualquer outro treinador do mundo agir daquela maneira, nem nos clubes, quanto mais em seleções. E como vocês acham que a imprensa tratou essa decisão de Zagallo? Apoiou? Elogiou? Fez vistas grossas?
Consultem os arquivos dos jornais, da época da convocação, e da fase de preparação para o Mundial. Foi uma pauleira só no treinador! Claro que depois da conquista do tri, depois de trazer para o Brasil a Jules Rimet em definitivo, os críticos ferozes (alguns maldosos) se esqueceram do que disseram e/ou do que escreveram.
No primeiro caso, não há como provar que tenham feito críticas descabidas, despropositadas e, acima de tudo, afoitas. O que se diz, via de regra, entra por um ouvido e sai pelo outro. Pouca coisa é gravada por um ou outro e permanece.
Mas o que se escreve... Nós, escribas, temos que ter um cuidado extremo com o que escrevemos. Não sabemos e nem saberemos jamais em que mãos e em quais circunstâncias nossos textos irão parar. Ignoramos quando, como e por quem serão resgatados. E dependendo do que houvermos escrito, nossas matérias, crônicas ou comentários poderão ser motivos de galhofa e de vexame à nossa memória décadas ou, quem sabe, séculos após nossa morte. Abordarei, oportunamente, com mais detalhes e vagar, essa convocação para a Copa do Mundo de 1970.
* Pedro J. Bondaczuk
O que você diria se o novo técnico da Seleção Brasileira, aquele que terá a difícil incumbência, o grande desafio de vencer a Copa de 2014 e evitar a repetição do “Maracvanazo” de 1950, convocasse cinco jogadores para a mesmíssima posição? Talvez o achasse incompetente ou, no mínimo, meio maluco, um inventor, uma espécie de Professor Pardal.
E se ele fosse mais longe e resolvesse escalar todos eles juntos? Seria um Deus nos acuda! A imprensa cairia de pau nesse sujeito, dizendo cobras e lagartos sobre ele e os sites, blogs e twiters da internet estariam repletos de mensagens e comentários, cujo teor oscilaria entre o tom irado e cheio de palavrões e o jocoso, repleto de piadinhas, algumas criativas e outras de uma burrice abissal.
Não, o próximo técnico, certamente, não fará isso! Não fará? Ademais, será que há alguma posição em que o Brasil esteja tão bem servido a ponto de todos os bons jogadores que atuam nela merecerem ser convocados? Algum treinador já fez isso?
Fez! E deu-se muito bem. Não somente convocou cinco jogadores da mesmíssima posição, como teve a suprema ousadia de colocá-los todos como titulares simultaneamente. Claro que quatro tiveram que ser improvisados em novas funções. Como eram craques na acepção do termo, simplesmente geniais, cumpriram as novas tarefas com perfeição, como se sempre houvessem jogado no setor do campo, e com as responsabilidades das posições em que foram improvisados.
Mas quem foi esse maluco, que teve essa ousadia, ainda mais se tratando de uma Seleção Brasileira e disputando uma Copa do Mundo? Foi um sujeito apaixonado pela “amarelinha”, que sempre a honrou todas as vezes que a vestiu e que se consagrou, tanto como jogador, quanto como treinador.
Vocês ainda não descobriram a quem me refiro? Pois revelar-lhes-ei, com o maior prazer, quem é essa figura, porquanto nada no mundo me satisfaz tanto quanto reconhecer os méritos dos competentes e dos vencedores. Esse “maluco” ousado foi Mário Jorge Lobo Zagallo.
Na convocação para a Copa do Mundo de 1970, o então inexperiente treinador (talvez mais inexperiente até do que aquele a quem substituiu, João Saldanha), que não fazia muito havia pendurado as chuteiras com um bicampeonato mundial no currículo, convocou cinco camisas 10, que estavam arrasando em seus respectivos clubes: Jairzinho (Botafogo), Gerson (São Paulo), Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos) e Rivelino (Corinthians).
Na Copa, o primeiro jogou na ponta-direita; o segundo, armando, no meio de campo; o terceiro, atuou como centro-avante e o quinto como ponta-esquerda. Nem preciso dizer quem ficou com a camisa 10, não é mesmo? Esta só poderia ficar, mesmo, para Pelé.
Será que algum técnico atual, por maior renome que tenha e mais experiência que ostente teria (ou terá) a coragem de fazer isso? Duvido! Mas Zagallo valeu-se da lógica mais (perdoem a redundância) lógica, da mais elementar, simples e direta: “está jogando bem? Tem que ser titular! É craque mesmo e não mero produto midiático? Jogará bem em qualquer posição!”.
Eu nunca antes tinha visto, e nunca mais vi depois, qualquer outro treinador do mundo agir daquela maneira, nem nos clubes, quanto mais em seleções. E como vocês acham que a imprensa tratou essa decisão de Zagallo? Apoiou? Elogiou? Fez vistas grossas?
Consultem os arquivos dos jornais, da época da convocação, e da fase de preparação para o Mundial. Foi uma pauleira só no treinador! Claro que depois da conquista do tri, depois de trazer para o Brasil a Jules Rimet em definitivo, os críticos ferozes (alguns maldosos) se esqueceram do que disseram e/ou do que escreveram.
No primeiro caso, não há como provar que tenham feito críticas descabidas, despropositadas e, acima de tudo, afoitas. O que se diz, via de regra, entra por um ouvido e sai pelo outro. Pouca coisa é gravada por um ou outro e permanece.
Mas o que se escreve... Nós, escribas, temos que ter um cuidado extremo com o que escrevemos. Não sabemos e nem saberemos jamais em que mãos e em quais circunstâncias nossos textos irão parar. Ignoramos quando, como e por quem serão resgatados. E dependendo do que houvermos escrito, nossas matérias, crônicas ou comentários poderão ser motivos de galhofa e de vexame à nossa memória décadas ou, quem sabe, séculos após nossa morte. Abordarei, oportunamente, com mais detalhes e vagar, essa convocação para a Copa do Mundo de 1970.
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