Renovação radical
Pedro J. Bondaczuk
Apesar de em 1974 a Seleção Brasileira contar com praticamente a mesma comissão técnica de 1970, ou com boa parte dela, houve nítida tentativa de renovação do grupo. Era uma geração de craques passando o bastão para a sucessora. Para que o leitor tenha uma idéia dessas mudanças, basta dizer que apenas oito, dos 23 inscritos para o Mundial, participaram da campanha do tri no México. E desses, só Rivelino e Jairzinho foram titulares absolutos em ambas Seleções.
Muitos acham, ainda hoje, precipitada a tentativa de renovação de Zagallo. Outros, por seu turno, entendem que foi tímida em demasia. O que não se renovou, no entanto, foi o esquema tático do nosso treinador. O time de 1974 foi muito defensivo, lento, previsível e sem o “apetite” de gols do ataque, o que havia caracterizado sua performance quatro anos antes.
Embora com desempenho técnico que não encantou ninguém, essa equipe ficou entre as quatro melhores do mundo na ocasião o que, convenhamos, não é pouca coisa. Mas, para nós brasileiros, é. Queremos sempre o topo e nada menos do que isso.
Esse grupo fez a torcida passar muita angústia e, em determinados jogos, muita raiva. No gol, Leão conquistou a titularidade, ele que havia sido reserva de Félix em 1970. Teve, como suplentes, Valdir Perez, que se transferira da Ponte Preta para o São Paulo e Renato, do Atlético Mineiro.
Outro que na Copa do México não havia tido muitas oportunidades (a bem da verdade, não teve nenhuma), mas que na Alemanha jogou todas as partidas, foi Zé Maria, o “Super Zé”, do Corinthians. Nelinho, então no Cruzeiro, era seu reserva.
A dupla Brito e Piazza foi substituída por Luís Pereira, do Palmeiras, e Marinho Perez, do Santos. Mas o eclético atleta cruzeirense esteve nessa Copa, embora no banco de reservas. Não foi utilizado por Zagallo. O outro quarto zagueiro convocado foi Alfredo, do Palmeiras.
Marco Antonio, em seu segundo mundial, revezou-se com Marinho Chagas (atleta potiguar que então defendia o Botafogo e que, mais tarde, defenderia o São Paulo), a exemplo do que havia ocorrido em 1970 em relação a Everaldo.
Para o meio de campo, Zagallo convocou um tricampeão, Rivelino, e dois novatos que estavam jogando o fino da bola, Paulo César Carpegiani (do Internacional, que posteriormente brilhou no Flamengo) e Ademir da Guia, do Palmeiras. Os dois primeiros foram titulares. O filho do lendário Domingos da Guia, porém, só entrou no time quando tudo estava perdido, na disputa do 3º lugar com a Polônia, que o Brasil também perdeu.
Os atacantes convocados foram oito. Um foi artilheiro da Copa de 1970 (Jairzinho), outro jogou várias partidas como titular no México (Paulo César Caju) e outro foi reserva quatro anos antes (Edu). Os outros cinco convocados, todos estreantes, foram: Valdomiro do Internacional; César Lemos do Palmeiras; Mirandinha do São Paulo; Leivinha do Palmeiras e Dirceu do Coritiba.
Muita gente (inclusive eu) não entende o motivo de Ademir da Guia não ter sido titular em 1974. Outra coisa que não entendo até hoje é o que se passou com Dirceu Lopes. Ele nunca, mas nunca mesmo, atuou bem na Seleção Brasileira, nas poucas vezes que foi convocado. Em seu clube, o Cruzeiro, era o astro maior, só faltava fazer chover e ofuscava Tostão, tido como seu coadjuvante. Posso afirmar, sem medo de erro, por haver sido testemunha ocular de suas atuações irrepreensíveis, que em termos técnicos, e de eficiência para o seu time, esse jogador só era menos importante do que Pelé. Mas esse, como dizia seu companheiro Pepe, não valia, pois “tratava-se de um ET”.
No entanto, na Seleção, Dirceu Lopes era um fracasso. Não posso garantir, mas tenho a impressão que jamais jogou uma partida inteira. Era, invariavelmente, substituído e ausência mais que certa na convocação seguinte. Tanto que não disputou nenhum mundial, sequer na reserva.
Uma coisa que atrapalhou demais o desempenho brasileiro na Copa da Alemanha foi o absurdo assédio de empresários aos nossos principais jogadores. Foi um horror! Jairzinho e Paulo César Caju, por exemplo, estiveram, o tempo todo, na mira do Olimpique de Marselha. Tanto foram assediados, que ambos assinaram contratos com o clube francês. Isso, certamente, tirou a concentração desses atletas daquilo que deveria ser seu único objetivo: a conquista do tetra.
Muitos chegaram a acusar o Caju de tirar o pé em bolas divididas prejudicando a equipe, o que acho uma acusação infundada e injusta. Pelo menos não percebi nenhum lance em que o atleta tenha evitado o choque com os adversários para não se machucar. Apesar de tudo o que de ruim observei (e expus), a Seleção ainda obteve um quarto lugar (colocação melhor, convenhamos, do que a obtida pelo grupo comandado por Dunga na África do Sul), o que desmente os que teimam em afirmar que se tratava de uma equipe tecnicamente fraca, um time de pernas de pau.
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