Tuesday, August 03, 2010




Copa com novas regras

Pedro J. Bondaczuk

A Copa do Mundo de 1970, no México, foi disputada com duas importantes mudanças nas regras e ambas têm sua história. Afinal, é muito difícil sensibilizar os “velhinhos” da International Board, órgão da Fifa responsável pela normatização do futebol.
A primeira alteração foi a criação dos cartões amarelo e vermelho, a serem utilizados pelos árbitros para, no primeiro caso, advertirem jogadores faltosos por atos de indisciplina e/ou de violência e, no segundo, para excluí-los do jogo quando cometessem violações de muita gravidade.
Isso, no meu entender, conferiu poderes excessivos aos apitadores, já que os critérios para a utilização desses instrumentos punitivos inexistem até hoje. Há, por exemplo, quem advirta atletas que, no seu entender, se excedem em comemorações de gols, ou fazem cera, ou reclamam de alguma marcação para eles equivocada ou por atitudes até muito mais inocentes. Todavia, não exibem cartões, nem o vermelho e às vezes sequer o amarelo a quem se valha de tanta violência a ponte de quebrar a perna de um companheiro de profissão. Cansei de ver isso. Os árbitros, neste caso, cometem ostensivos abusos de autoridade.
Os apitadores nunca são punidos por seus erros, que não são poucos. A punição máxima, quando é aplicada, é a de não serem escalados para arbitrar um ou dois jogos se tanto. Por isso usam e abusam do poder de exibir cartões, sem terem que dar explicações a ninguém. Os clubes prejudicados só podem reclamar e essas reclamações são encaradas pelos adversários como meras choradeiras. Nem sempre são.
Como os cartões amarelos são cumulativos, a exibição de dois ao mesmo atleta no mesmo jogo implica em sua expulsão automática. Até aí, estaria tudo bem, se o jogador fosse amarelado por prática, apenas, de jogo violento. Mas não é o que ocorre na maioria das vezes.
Geralmente o primeiro cartão é aplicado indevidamente, por suposta reclamação, ou porque, não raro, o advertido se limitou a tirar a bola do lugar no momento da cobrança de uma falta contra seu time. São casos, se tanto, para meras advertências verbais.
Os árbitros podem, sem que haja nenhuma prova de sua má intenção, prejudicar sutilmente uma equipe. Têm o poder de expulsar, por exemplo, o melhor jogador de determinado clube (ou seleção) que por algum motivo queiram que perca determinado jogo e ainda sair de campo com atestado de lisura e honestidade.
Ademais, como os cartões amarelos são cumulativos, isto é, os de um jogo somam-se aos de outros, e como quem levar três tem que cumprir suspensão automática de uma partida, os apitadores podem enfraquecer determinada equipe para seu confronto seguinte no campeonato.
Exagero meu? Quem tem mais de dois neurônios sabe que não. A coisa é óbvia, só não é possível provar. Cito como exemplo o que aconteceu com a Ponte Preta no Campeonato Paulista de 2008. No seu derradeiro encontro antes das finais, contra o Guaratinguetá, no Vale do Paraíba, a Macaca campineira entrou com quatro dos seus melhores jogadores pendurados com dois cartões amarelos cada. Por estranha “casualidade”, justo esses quatro foram amarelados de novo, nesse jogo. Coincidência? Me engana que eu gosto!
Dessa forma, a Ponte Preta, que não dispõe de recursos financeiros para contar em seu plantel com substitutos à altura dos titulares, teve quer encarar o poderoso Palmeiras, nas finais, desfalcado de 38% do seu poderio técnico. Deu no que deu.
Os cartões foram instituídos por causa de um pitoresco incidente ocorrido no confronte entre as seleções da Inglaterra e da Argentina na Copa do Mundo de 1966. O volante argentino Rattin foi expulso pelo árbitro alemão ocidental Rudolph Kreitlein.
Insistiu, todavia, em ficar em campo, fazendo-se de desentendido, dizendo que não compreendera a marcação da arbitragem. O árbitro fazia, em vão, sinais desesperados para que o atleta deixasse o campo. Este sinalizava, de volta, contudo, que não estava entendendo nada.
O jogador só foi mais cedo para o chuveiro depois que foi chamado um intérprete para traduzir para o espanhol o que o alemão dizia. Claro que Rattin havia entendido perfeitamente que fora expulso. Mas quem poderia provar?
Até que deixasse o gramado, passaram-se preciosos dez minutos. E como na época raros apitadores davam acréscimos, a Argentina teve menos tempo para segurar o 0 a 0 e levar a partida para a prorrogação. Não conseguiu. Perdeu por 1 a 0.
A outra mudança na regra foi a permissão de substituições de jogadores a qualquer momento dos jogos, por contusão, ou por deficiência técnica, ou, quem sabe, até por simples capricho dos treinadores. Foi instituído, por conseqüência, o banco de reservas à beira do gramado (que até então não existia), para comportar cinco atletas, dos quais três poderiam eventualmente entrar na partida.
O jornalista Orlando Duarte explica a razão dessa alteração da regra: “O que sensibilizou a Board foi a contusão de Pelé, contra Portugal, em que ele contundido não pôde ser substituído”. Entenderam, agora, a “armação” da arbitragem, pra cima do Brasil, de não ter expulsado os carniceiros que bateram tanto no rei até tirá-lo daquele jogo e deixar nossa equipe com um jogador a menos? Isso, queiram ou não, contribuiu, e muito, para que nossa Seleção perdesse para os portugueses e fosse desclassificada tão prematuramente na Copa do Mundo de 1966. É que determinadas pessoas esquecem essas coisas quando se propõem, apenas, a criticar.

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