Com improvisação, mas com arte
Pedro J. Bondaczuk
Animada pela boa partida de estréia da Seleção Brasileira, contra a Checoslováquia, na Copa do Mundo de 1970, no México, a torcida, ou boa parte dela, mostrava-se confiante que os comandados de Zagallo venceriam, também, o difícil confronto seguinte. A essa altura, ninguém falava, ainda, em título.
Nosso adversário de número dois era simplesmente o então campeão mundial, a empolgada Inglaterra, que faria das tripas coração para justificar seu feito anterior, o de 1966 e, claro, para tentar o bi. O jogo foi realizado em 7 de junho de 1970, em Guadalajara, arbitrado pelo israelense Abraham Klein. O público presente no Estádio Jalisco foi bem maior do que o da estréia brasileira: foi de 66 mil pessoas.
Gerson, que havia sido substituído, por contusão, no segundo tempo contra a Checoslováquia, era o grande desfalque canarinho. É verdade que seu substituto, Paulo César Caju, atravessava excelente forma física e técnica. Mas o ataque brasileiro estava acostumado com os lançamentos longos e precisos do “canhotinha de ouro” e sentiria sua ausência.
Os ingleses, como se esperava, endureceram o jogo. Fizeram rígida e implacável marcação sobre nossos jogadores que consideravam mais perigosos e decisivos: Pelé e Tostão. O meia cruzeirense, inclusive, foi substituído por Roberto, atleta mais forte e com melhores condições de brigar em pé de igualdade com os parrudos zagueiros adversários, posto que com menor mobilidade.
Foi nessa partida que ocorreu aquela que é considerada até hoje como a maior defesa de todas as Copas. Pelé recebeu um cruzamento preciso vindo da lateral e, na pequena área inglesa, desferiu potente cabeçada, à queima-roupa, na direção certa e de cima para baixo. Em 99,99% dos casos, bolas como aquela redundam em gols. São indefensáveis.
O goleiro inglês Gordon Banks, todavia, mostrando elasticidade, reflexos apurados, senso de colocação e, convenhamos, imensa dose de sorte, fez a defesa na risca do gol, espalmando a bola para escanteio. Tudo indicava que o jogo se encaminhava para um resultado igual ao que se havia verificado em 1958, no confronto dessas duas equipes: 0 a 0.
A defesa da Inglaterra marcava de forma implacável, e às vezes violenta, os que eles achavam ser nossos melhores jogadores. Mas nem todos eles sofriam essa rígida marcação. Jairzinho já fizera algumas boas jogadas, com relativa liberdade dada pelo lateral que o marcava. Justo quem eles deixaram livre! Pois foi dele, do “Furacão”, o gol salvador, que deu à Seleção Brasileira a sua segunda vitória consecutiva naquele Mundial.
Bastaria, no jogo seguinte, um simples empate para o Brasil classificar-se matematicamente, como primeiro do grupo, para as quartas de final. O jogo ocorreu em 10 de junho de 1970, no mesmo Estádio Jalisco, com arbitragem do austríaco F. Marshall.
O adversário, a Romênia, era inédito para nós em copas do mundo. Nunca o havíamos enfrentado até então. Zagallo escalou um time com várias mudanças, por causa de contusões e para poupar alguns atletas. Fontana, por exemplo, entrou no lugar de Piazza, que foi escalado, por sua vez, como armador, no meio de campo. Nenhum dos dois comprometeu.
Gerson, que não havia se recuperado de contusão, ficou ausente, também, dessa partida, a exemplo do que havia ocorrido contra a Inglaterra. Outro que foi sacado do time foi Rivelino, que cedeu lugar ao eclético Paulo César Caju. Além dessas mudanças, o técnico fez mais duas no decorrer do jogo. Marco Antonio, por exemplo, entrou no lugar do gaúcho Everaldo. E no segundo tempo, o excelente ponteiro esquerdo do Santos, Edu, te4ve a sua chance de disputar alguns minutos de uma partida de Copa do Mundo. Entrou no lugar do companheiro de clube, Clodoaldo, mas não para exercer sua função.
Piazza passou a atuar como volante e Paulo César Caju ficou encarregado da armação. Edu jogou, portanto, na sua verdadeira posição, bem aberto pelo lado esquerdo do ataque. O jogo, a princípio, parecia fácil, mesmo com o Brasil não contando com sua força máxima.
O primeiro tempo terminou com o placar de 2 a 0 para a nossa seleção, com dois gols de Pelé. Tudo indicava que haveria nova goleada brasileira. Mas jogos de Copa do Mundo costumam ser traiçoeiros. É verdade que a Seleção venceu, mas não com a “moleza” que todos esperávamos. Dimitrache e Dembrowski marcaram para os romenos. Mas Jairzinho, que não parava de marcar gols, deixou o seu e garantiu os 100% de eficiência dos comandados de Zagallo naquele mundial.
Àquela altura, poucos ousavam criticar a Seleção. A confiança geral cresceu e até os que no início da Copa torciam contra, para que uma eventual conquista não beneficiasse a ditadura militar, entenderam que futebol e política não tinham nada a ver e passaram a torcer a favor.
E a torcida foi engrossada pela adesão dos moradores de Guadalajara, que “adotaram” a nossa equipe. E mais, contou ainda com milhões de outros mexicanos, moradores de outras cidades do país anfitrião, encantados com o futebol arte praticado pelo Brasil. Só uma catástrofe nos tiraria o tão cobiçado tri.
Pedro J. Bondaczuk
Animada pela boa partida de estréia da Seleção Brasileira, contra a Checoslováquia, na Copa do Mundo de 1970, no México, a torcida, ou boa parte dela, mostrava-se confiante que os comandados de Zagallo venceriam, também, o difícil confronto seguinte. A essa altura, ninguém falava, ainda, em título.
Nosso adversário de número dois era simplesmente o então campeão mundial, a empolgada Inglaterra, que faria das tripas coração para justificar seu feito anterior, o de 1966 e, claro, para tentar o bi. O jogo foi realizado em 7 de junho de 1970, em Guadalajara, arbitrado pelo israelense Abraham Klein. O público presente no Estádio Jalisco foi bem maior do que o da estréia brasileira: foi de 66 mil pessoas.
Gerson, que havia sido substituído, por contusão, no segundo tempo contra a Checoslováquia, era o grande desfalque canarinho. É verdade que seu substituto, Paulo César Caju, atravessava excelente forma física e técnica. Mas o ataque brasileiro estava acostumado com os lançamentos longos e precisos do “canhotinha de ouro” e sentiria sua ausência.
Os ingleses, como se esperava, endureceram o jogo. Fizeram rígida e implacável marcação sobre nossos jogadores que consideravam mais perigosos e decisivos: Pelé e Tostão. O meia cruzeirense, inclusive, foi substituído por Roberto, atleta mais forte e com melhores condições de brigar em pé de igualdade com os parrudos zagueiros adversários, posto que com menor mobilidade.
Foi nessa partida que ocorreu aquela que é considerada até hoje como a maior defesa de todas as Copas. Pelé recebeu um cruzamento preciso vindo da lateral e, na pequena área inglesa, desferiu potente cabeçada, à queima-roupa, na direção certa e de cima para baixo. Em 99,99% dos casos, bolas como aquela redundam em gols. São indefensáveis.
O goleiro inglês Gordon Banks, todavia, mostrando elasticidade, reflexos apurados, senso de colocação e, convenhamos, imensa dose de sorte, fez a defesa na risca do gol, espalmando a bola para escanteio. Tudo indicava que o jogo se encaminhava para um resultado igual ao que se havia verificado em 1958, no confronto dessas duas equipes: 0 a 0.
A defesa da Inglaterra marcava de forma implacável, e às vezes violenta, os que eles achavam ser nossos melhores jogadores. Mas nem todos eles sofriam essa rígida marcação. Jairzinho já fizera algumas boas jogadas, com relativa liberdade dada pelo lateral que o marcava. Justo quem eles deixaram livre! Pois foi dele, do “Furacão”, o gol salvador, que deu à Seleção Brasileira a sua segunda vitória consecutiva naquele Mundial.
Bastaria, no jogo seguinte, um simples empate para o Brasil classificar-se matematicamente, como primeiro do grupo, para as quartas de final. O jogo ocorreu em 10 de junho de 1970, no mesmo Estádio Jalisco, com arbitragem do austríaco F. Marshall.
O adversário, a Romênia, era inédito para nós em copas do mundo. Nunca o havíamos enfrentado até então. Zagallo escalou um time com várias mudanças, por causa de contusões e para poupar alguns atletas. Fontana, por exemplo, entrou no lugar de Piazza, que foi escalado, por sua vez, como armador, no meio de campo. Nenhum dos dois comprometeu.
Gerson, que não havia se recuperado de contusão, ficou ausente, também, dessa partida, a exemplo do que havia ocorrido contra a Inglaterra. Outro que foi sacado do time foi Rivelino, que cedeu lugar ao eclético Paulo César Caju. Além dessas mudanças, o técnico fez mais duas no decorrer do jogo. Marco Antonio, por exemplo, entrou no lugar do gaúcho Everaldo. E no segundo tempo, o excelente ponteiro esquerdo do Santos, Edu, te4ve a sua chance de disputar alguns minutos de uma partida de Copa do Mundo. Entrou no lugar do companheiro de clube, Clodoaldo, mas não para exercer sua função.
Piazza passou a atuar como volante e Paulo César Caju ficou encarregado da armação. Edu jogou, portanto, na sua verdadeira posição, bem aberto pelo lado esquerdo do ataque. O jogo, a princípio, parecia fácil, mesmo com o Brasil não contando com sua força máxima.
O primeiro tempo terminou com o placar de 2 a 0 para a nossa seleção, com dois gols de Pelé. Tudo indicava que haveria nova goleada brasileira. Mas jogos de Copa do Mundo costumam ser traiçoeiros. É verdade que a Seleção venceu, mas não com a “moleza” que todos esperávamos. Dimitrache e Dembrowski marcaram para os romenos. Mas Jairzinho, que não parava de marcar gols, deixou o seu e garantiu os 100% de eficiência dos comandados de Zagallo naquele mundial.
Àquela altura, poucos ousavam criticar a Seleção. A confiança geral cresceu e até os que no início da Copa torciam contra, para que uma eventual conquista não beneficiasse a ditadura militar, entenderam que futebol e política não tinham nada a ver e passaram a torcer a favor.
E a torcida foi engrossada pela adesão dos moradores de Guadalajara, que “adotaram” a nossa equipe. E mais, contou ainda com milhões de outros mexicanos, moradores de outras cidades do país anfitrião, encantados com o futebol arte praticado pelo Brasil. Só uma catástrofe nos tiraria o tão cobiçado tri.
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