Pedro J. Bondaczuk
A vida é a arte do encontro. Precisamos sempre de alguém, do nascimento à morte, para nos proteger, ensinar, conviver, amar etc. O homem, ao nascer, é um dos seres mais frágeis e desprotegidos da natureza. A quase totalidade dos animais, por exemplo, consegue ficar de pé, sozinho, minutos após o nascimento, quando então ensaia os primeiros passos. Nós, não!
Levamos, por exemplo, pelo menos quatro meses para sentar, mais dois para engatinhar e quase um ano para andar tropegamente. Se um bebê for deixado à própria sorte, digamos, por uma semana, sem alguém que o alimente, o vista, o limpe, o banhe e lhe dê afeto, dificilmente sobreviverá.
Precisamos, uns dos outros, pois, do nascimento à morte. Raramente, porém, nos damos conta dessa fragilidade. Quase nunca nos lembramos de valorizar o próximo, que nos é fundamental, indispensável. Alguns vêem nele, apenas, um admirador em potencial. São os que têm, como objetivo supremo na vida, o estrelato, a fama, a glória, mesmo que tenham feito pouco, ou mesmo nada, para merecer sequer o aplauso público.
Essas pessoas não buscam, como qualquer indivíduo normal, o mero reconhecimento pelo que fazem, pensam ou são. Extrapolam. São obcecadas e megalomaníacas. Julgam-se suprassumos da espécie. Sonham em ser aclamadas por multidões. Fazem qualquer coisa por esse objetivo. Algumas de suas atitudes descambam para o ridículo, mas elas não se dão conta. O que lhes importa é serem louvadas, e por um número máximo de pessoas, por todos os meios imagináveis: na imprensa, em praça pública, por onde transitam etc.etc.etc.
Conheço inúmeros indivíduos com essa obsessão. E todos, invariavelmente, terminam a vida frustrados. Elias Canetti escreveu o seguinte sobre esse tipo de gente: “A massa do maníaco da glória é formada por sombras, ou seja, por criaturas que não têm outra razão de viver senão a de pronunciar um nome muito determinado (...) O rico coleciona montes e rebanhos (...) O detentor do poder coleciona homens (...) O famoso coleciona coros. Destes, quer escutar apenas o seu nome”.
Alguns agem assim por falta de alguém que lhes abra os olhos. Outros, ofendem-se quando os alertamos e, não raro, tornam-se nossos mais inconciliáveis e irascíveis inimigos. Falta-lhes o que chamamos, em gíria, de “desconfiômetro”. Carecem de parâmetros para medir méritos: os próprios e os alheios. Ademais, toda a glória é efêmera, e mais ainda a não-merecida.
Para evitar esse tipo de comportamento, devemos dar mais ouvidos à intuição, essa espécie de sexto sentido que antecede nossas ações. Raramente ela falha. A maioria dos melhores textos que produzi, por exemplo, nasceram dessa voz inaudível que me cochichou no ouvido o que, como e para quem deveria escrever. Claro, isso não me faz, em absoluto, merecedor sequer de elogios, quanto mais da glória.
Não raro, a intuição nos indica a hora certa de agir e de que forma. Às vezes teimamos em não lhe atender os alertas, em não respeitar esse “sinal vermelho”, e nos damos mal. Em vez de fama e fortuna, o que conseguimos é o ridículo e a ruína.
Há ocasiões em que tentamos concretizar projetos que, aparentemente, têm tudo para dar certo. Todavia, a mera intuição, sem nenhum dado concreto que a fundamente, nos adverte que há armadilhas escondidas por trás desses planos, que não conseguimos, de forma alguma, vislumbrar. Se teimarmos em levar a empreitada adiante, à revelia desse sexto sentido, podemos ser surpreendidos pelo inesperado e fracassar. Não raro, é o que de fato acontece.
Outro hábito nocivo que temos é o de fazer juízo de tudo e de todos, mesmo do que não compreendemos. Se tivermos o cuidado de buscar esclarecimento do que desconhecemos, ou do que temos pálidas e incompletas noções, e mudarmos nosso julgamento, não haverá nenhum problema. Estaremos evoluindo e, sobretudo, corrigindo uma injustiça cometida pela pressa de julgar.
Mas, via de regra, não é o que ocorre. Por isso, somos tão injustos em relação ao próximo, embora nos rebelemos quando alguém comete algum tipo de injustiça (mesmo que ínfimo) conosco. Por outro lado, se guardarmos apenas para nós os juízos apressados e equivocados, o mal será menor (embora não desapareça), pois não estaremos induzindo ninguém ao erro. Estaremos errados sozinhos.
A ação mais comum, porém, não é esta. A tendência é externarmos, aos quatro ventos, rapidinho, nossos juízos, mesmo os nitidamente equivocados, e não termos a humildade de nos corrigir quando descobrimos (se descobrirmos) a injustiça cometida. O poeta renascentista italiano, Ludovico Ariosto, fez este desabafo, na boca de um personagem, em seu clássico “Orlando Furioso”: “Como é comum que o juízo humano se engane!”. Pois é, tenho que atentar para um fato bastante provável: posso, também, estar equivocado em relação aos que julgo sejam maníacos por glória. Se o forem, sequer é da minha conta. A vida, certamente, se encarregará de lhes abater a crista. Quanto a mim...
A vida é a arte do encontro. Precisamos sempre de alguém, do nascimento à morte, para nos proteger, ensinar, conviver, amar etc. O homem, ao nascer, é um dos seres mais frágeis e desprotegidos da natureza. A quase totalidade dos animais, por exemplo, consegue ficar de pé, sozinho, minutos após o nascimento, quando então ensaia os primeiros passos. Nós, não!
Levamos, por exemplo, pelo menos quatro meses para sentar, mais dois para engatinhar e quase um ano para andar tropegamente. Se um bebê for deixado à própria sorte, digamos, por uma semana, sem alguém que o alimente, o vista, o limpe, o banhe e lhe dê afeto, dificilmente sobreviverá.
Precisamos, uns dos outros, pois, do nascimento à morte. Raramente, porém, nos damos conta dessa fragilidade. Quase nunca nos lembramos de valorizar o próximo, que nos é fundamental, indispensável. Alguns vêem nele, apenas, um admirador em potencial. São os que têm, como objetivo supremo na vida, o estrelato, a fama, a glória, mesmo que tenham feito pouco, ou mesmo nada, para merecer sequer o aplauso público.
Essas pessoas não buscam, como qualquer indivíduo normal, o mero reconhecimento pelo que fazem, pensam ou são. Extrapolam. São obcecadas e megalomaníacas. Julgam-se suprassumos da espécie. Sonham em ser aclamadas por multidões. Fazem qualquer coisa por esse objetivo. Algumas de suas atitudes descambam para o ridículo, mas elas não se dão conta. O que lhes importa é serem louvadas, e por um número máximo de pessoas, por todos os meios imagináveis: na imprensa, em praça pública, por onde transitam etc.etc.etc.
Conheço inúmeros indivíduos com essa obsessão. E todos, invariavelmente, terminam a vida frustrados. Elias Canetti escreveu o seguinte sobre esse tipo de gente: “A massa do maníaco da glória é formada por sombras, ou seja, por criaturas que não têm outra razão de viver senão a de pronunciar um nome muito determinado (...) O rico coleciona montes e rebanhos (...) O detentor do poder coleciona homens (...) O famoso coleciona coros. Destes, quer escutar apenas o seu nome”.
Alguns agem assim por falta de alguém que lhes abra os olhos. Outros, ofendem-se quando os alertamos e, não raro, tornam-se nossos mais inconciliáveis e irascíveis inimigos. Falta-lhes o que chamamos, em gíria, de “desconfiômetro”. Carecem de parâmetros para medir méritos: os próprios e os alheios. Ademais, toda a glória é efêmera, e mais ainda a não-merecida.
Para evitar esse tipo de comportamento, devemos dar mais ouvidos à intuição, essa espécie de sexto sentido que antecede nossas ações. Raramente ela falha. A maioria dos melhores textos que produzi, por exemplo, nasceram dessa voz inaudível que me cochichou no ouvido o que, como e para quem deveria escrever. Claro, isso não me faz, em absoluto, merecedor sequer de elogios, quanto mais da glória.
Não raro, a intuição nos indica a hora certa de agir e de que forma. Às vezes teimamos em não lhe atender os alertas, em não respeitar esse “sinal vermelho”, e nos damos mal. Em vez de fama e fortuna, o que conseguimos é o ridículo e a ruína.
Há ocasiões em que tentamos concretizar projetos que, aparentemente, têm tudo para dar certo. Todavia, a mera intuição, sem nenhum dado concreto que a fundamente, nos adverte que há armadilhas escondidas por trás desses planos, que não conseguimos, de forma alguma, vislumbrar. Se teimarmos em levar a empreitada adiante, à revelia desse sexto sentido, podemos ser surpreendidos pelo inesperado e fracassar. Não raro, é o que de fato acontece.
Outro hábito nocivo que temos é o de fazer juízo de tudo e de todos, mesmo do que não compreendemos. Se tivermos o cuidado de buscar esclarecimento do que desconhecemos, ou do que temos pálidas e incompletas noções, e mudarmos nosso julgamento, não haverá nenhum problema. Estaremos evoluindo e, sobretudo, corrigindo uma injustiça cometida pela pressa de julgar.
Mas, via de regra, não é o que ocorre. Por isso, somos tão injustos em relação ao próximo, embora nos rebelemos quando alguém comete algum tipo de injustiça (mesmo que ínfimo) conosco. Por outro lado, se guardarmos apenas para nós os juízos apressados e equivocados, o mal será menor (embora não desapareça), pois não estaremos induzindo ninguém ao erro. Estaremos errados sozinhos.
A ação mais comum, porém, não é esta. A tendência é externarmos, aos quatro ventos, rapidinho, nossos juízos, mesmo os nitidamente equivocados, e não termos a humildade de nos corrigir quando descobrimos (se descobrirmos) a injustiça cometida. O poeta renascentista italiano, Ludovico Ariosto, fez este desabafo, na boca de um personagem, em seu clássico “Orlando Furioso”: “Como é comum que o juízo humano se engane!”. Pois é, tenho que atentar para um fato bastante provável: posso, também, estar equivocado em relação aos que julgo sejam maníacos por glória. Se o forem, sequer é da minha conta. A vida, certamente, se encarregará de lhes abater a crista. Quanto a mim...
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