Alternativa da democracia
Pedro J. Bondaczuk
A situação das duas Coréias é mais ou menos semelhante à das Alemanhas Ocidental e Oriental. A divisão da nação (e o termo, aqui, é empregado em seu sentido lato), em dois países foi uma conseqüência, a exemplo da comunidade germânica, da Segunda Guerra Mundial. Tanto é que os dois lados coreanos, o marxista e o pró-Ocidente, comemoram, como data da independência nacional, o 15 de agosto, ocasião em que, em 1945, o Japão se rendeu, incondicionalmente, aos Estados Unidos, pondo fim a um dos mais sangrentos conflitos, e o de maior abrangência geográfica, já registrados na história.
A exemplo do que ocorreu em relação à Alemanha, as superpotências também determinaram os destinos desse povo asiático. O Norte foi invadido por tropas soviéticas, que impuseram, de imediato, seus conceitos filosóficos e ideológicos e seu sistema político. O Sul, por seu turno, recepcionou, de braços abertos, os soldados norte-americanos. Mas não imitou, na organização do seu Estado, nem de longe, os Estados Unidos.
Washington e Moscou, depois de muitas marchas e contramarchas, estipularam o paralelo 38 como limite entre esses dois mundos tão diversos e, sobretudo, antagônicos. Esperava-se que no Sul, para se opor à ditadura dos nortistas, viesse a vingar uma sólida e vigorosa democracia, a exemplo do que se havia verificado na Alemanha Ocidental. Mas não foi o que ocorreu.
Isso não foi possível, no entanto, a pretexto da invasão norte-coreana de 1951. Naquela oportunidade, não fossem os Estados Unidos, a Coréia seria, de fato, reunificada, mas sob um regime que o tempo se encarregaria de mostrar que não passava de uma farsa. Ou seja, que em vez de ser o tão apregoado “governo do proletariado”, não passava de uma férrea ditadura, comandada por um grupo de burocratas que se dizia “iluminado”. Foram estes ditadores de polichinelo que assumiram o comando do país, a ferro e fogo, e permanecem, até hoje, encastelados no poder.
Embora sob sucessivas ditaduras militares, porém, o Sul desenvolveu-se mais, muito mais, quer no aspecto econômico, quer no social, do que o Norte marxista. Apenas para exemplificar, mesmo dispondo de um território 91 vezes menor do que o brasileiro, e de uma população 3,5 vezes mais baixa, a Coréia do Sul exporta, na atualidade, anualmente, os mesmos e exatos US$ 36 bilhões do Brasil. Dispõe, por conseqüência, de renda per capita anual bem maior do que a nossa. É o mesmo bolo para ser dividido por menos pessoas.
Um povo tão operoso, que soube construir do nada a sua prosperidade, tem que ser capaz de construir e consolidar uma democracia. Tem potencial para erigir um sistema sólido, com alternância do poder e voto livre, universal e soberano, sem fraudes e nem coações, que contagie o lado Norte, sem jamais temer ser contaminado por ele.
Só assim a tão sonhada reunificação, apregoada no discurso comemorativo do 42º aniversário da independência, pronunciado, ontem, pelo presidente sul-coreano, Choo-Doo Hwan, pode se tornar um fato concreto, e não apenas retórica.
Ditadura por ditadura, ambas se equivalem. Por isso, se for para mantê-la, tanto o Norte, quanto o Sul optarão por ficar com a que já têm. É preciso, isso sim, oferecer aos norte-coreanos algo melhor do que o mero caudilhismo de direita. Afinal, como reza conhecido axioma, os extremos sempre se tocam. E a Coréia do Sul, convenhamos, já demonstroui, de sobejo, que tem condições de viver e de prosperar numa autêntica democracia. Para conquistá-la, basta começar.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 16 de agosto de 1987).
Pedro J. Bondaczuk
A situação das duas Coréias é mais ou menos semelhante à das Alemanhas Ocidental e Oriental. A divisão da nação (e o termo, aqui, é empregado em seu sentido lato), em dois países foi uma conseqüência, a exemplo da comunidade germânica, da Segunda Guerra Mundial. Tanto é que os dois lados coreanos, o marxista e o pró-Ocidente, comemoram, como data da independência nacional, o 15 de agosto, ocasião em que, em 1945, o Japão se rendeu, incondicionalmente, aos Estados Unidos, pondo fim a um dos mais sangrentos conflitos, e o de maior abrangência geográfica, já registrados na história.
A exemplo do que ocorreu em relação à Alemanha, as superpotências também determinaram os destinos desse povo asiático. O Norte foi invadido por tropas soviéticas, que impuseram, de imediato, seus conceitos filosóficos e ideológicos e seu sistema político. O Sul, por seu turno, recepcionou, de braços abertos, os soldados norte-americanos. Mas não imitou, na organização do seu Estado, nem de longe, os Estados Unidos.
Washington e Moscou, depois de muitas marchas e contramarchas, estipularam o paralelo 38 como limite entre esses dois mundos tão diversos e, sobretudo, antagônicos. Esperava-se que no Sul, para se opor à ditadura dos nortistas, viesse a vingar uma sólida e vigorosa democracia, a exemplo do que se havia verificado na Alemanha Ocidental. Mas não foi o que ocorreu.
Isso não foi possível, no entanto, a pretexto da invasão norte-coreana de 1951. Naquela oportunidade, não fossem os Estados Unidos, a Coréia seria, de fato, reunificada, mas sob um regime que o tempo se encarregaria de mostrar que não passava de uma farsa. Ou seja, que em vez de ser o tão apregoado “governo do proletariado”, não passava de uma férrea ditadura, comandada por um grupo de burocratas que se dizia “iluminado”. Foram estes ditadores de polichinelo que assumiram o comando do país, a ferro e fogo, e permanecem, até hoje, encastelados no poder.
Embora sob sucessivas ditaduras militares, porém, o Sul desenvolveu-se mais, muito mais, quer no aspecto econômico, quer no social, do que o Norte marxista. Apenas para exemplificar, mesmo dispondo de um território 91 vezes menor do que o brasileiro, e de uma população 3,5 vezes mais baixa, a Coréia do Sul exporta, na atualidade, anualmente, os mesmos e exatos US$ 36 bilhões do Brasil. Dispõe, por conseqüência, de renda per capita anual bem maior do que a nossa. É o mesmo bolo para ser dividido por menos pessoas.
Um povo tão operoso, que soube construir do nada a sua prosperidade, tem que ser capaz de construir e consolidar uma democracia. Tem potencial para erigir um sistema sólido, com alternância do poder e voto livre, universal e soberano, sem fraudes e nem coações, que contagie o lado Norte, sem jamais temer ser contaminado por ele.
Só assim a tão sonhada reunificação, apregoada no discurso comemorativo do 42º aniversário da independência, pronunciado, ontem, pelo presidente sul-coreano, Choo-Doo Hwan, pode se tornar um fato concreto, e não apenas retórica.
Ditadura por ditadura, ambas se equivalem. Por isso, se for para mantê-la, tanto o Norte, quanto o Sul optarão por ficar com a que já têm. É preciso, isso sim, oferecer aos norte-coreanos algo melhor do que o mero caudilhismo de direita. Afinal, como reza conhecido axioma, os extremos sempre se tocam. E a Coréia do Sul, convenhamos, já demonstroui, de sobejo, que tem condições de viver e de prosperar numa autêntica democracia. Para conquistá-la, basta começar.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 16 de agosto de 1987).
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