Sunday, July 27, 2008

DIRETO DO ARQUIVO


Quando agosto vier


Pedro J. Bondzczuk


O mês de julho, geralmente tranqüilo por causa das férias de meio do ano, foi, agora em 1993, marcado por um farto noticiário. Pena que as notícias principais foram quase todas ruins. O chamado Plano Verdade, do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, não pôde sequer sair do papel, atropelado pela aprovação, por parte do Congresso, da nova política salarial, a 28ª desde 1980.

O reajuste dos salários transformou-se em verdadeira novela, que se arrastou por semanas. Culminou com a Medida Provisória do presidente Itamar Franco, restabelecendo o chamado "gatilho".

Outro tema que freqüentou as manchetes ao longo de julho foi o referente à prisão (ou não prisão, seria mais correto dizer) do empresário Paulo César Farias. Como seqüela, veio à tona a crise na Polícia Federal, contornada a muito custo, após muito ameaça e blá-blá-blá. O fato relevante, todavia, é que PC permanece em liberdade, provavelmente dando sonoras gargalhadas da nossa justiça.

A Seleção Brasileira, do técnico Carlos Alberto Parreira, ficou o mês inteiro no noticiário, incomodando, incomodando e incomodando. Ao contrário dos tempos áureos do nosso futebol, no entanto, desta vez não foi por causa de sonoras goleadas que tenha aplicado em nossos adversários sul-americanos ou em decorrência de gols com toque de magia e de genialidade, que um dia caracterizaram o jogador brasileiro. Pelo contrário!

Desta vez o que se viu foi um festival de desorganização, incompetência, falta de garra e ausência absoluta de imaginação. O selecionado "conseguiu" ser eliminado da Copa América, disputada no Equador, na cobrança de penalidades máximas, diante de uma Argentina decadente, porém aplicada. Isto depois da vexatória derrota para o Chile.

Não bastasse esse aborrecimento, o outrora "time de ouro", contando com a presença dos chamados "estrangeiros", resolveu atormentar muito mais o já massacrado e desencantado torcedor brasileiro. Conseguiu entrar para a história pelo lado mais negativo possível, conhecendo a primeira derrota que o Brasil já teve em eliminatórias de Copa do Mundo e diante da "maravilhosa" seleção da Bolívia!

Não bastasse ter perdido, o "selecionado canarinho" acovardou-se, não teve garra, temeu o adversário e o presenteou com um monumental e inesquecível frango de Taffarel.

Para culminar os desgostos do brasileiro, tivemos, em julho, a chacina da Candelária, quando três "heróis" fuzilaram oito indefesos meninos de rua (que estavam dormindo), colocando o País nas manchetes internacionais pelo lado mais negativo e deprimente possível.

Apesar das declarações dos políticos, mostrando uma indignação que na verdade não estão sentindo (indignados estamos nós com o festival de incompetência e corrupção que assola o Brasil), a despeito de matérias melosas e sentimentalóides de parcela da imprensa, os assassinos, provavelmente, ficarão impunes.

Se bobear, é capaz dos pistoleiros ainda serem condecorados com alguma medalha. Como se observa, julho deste ano passa para a história pelo seu aspecto mais negativo. E, para complicar, agosto tradicionalmente tem sido o mês das crises no País (remember o suicídio de Getúlio e a renúncia de Jânio). Mas é bom não cultivar superstições. Afinal, isto dá um azar danado!!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em agosto de 1993).

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