Friday, July 18, 2008

Força e persuasão


Pedro J. Bondaczuk

A educação é um processo muito mais complexo do que possa parecer aos desavisados. Requer do educador convicção do que quer transmitir, ascendência moral natural sobre o educando e paciência, muita paciência no cumprimento dessa missão. Não se educa ninguém com ameaças, intimidações e, sobretudo, castigos. Há, infelizmente, muitos que ainda acreditam nesse expediente irracional. Mas a educação é um processo racional e só a razão confere-lhe eficácia.
Não raro desanimamos quando tentamos convencer alguma pessoa que amamos a fazer determinada coisa que lhe será boa ou a não continuar agindo de maneira errada (por exemplo, quando se tenta afastá-la das drogas, inclusive do fumo e do álcool) dadas as conseqüências com que terá de arcar. Essa tentativa de convencimento de seguir determinado caminho, e não outro, também é educação.
A persuasão é poderosa, mas exige muita paciência, diálogo, compreensão e, sobretudo, amor. Claro que para persuadirmos alguém a fazer (ou não fazer) alguma coisa, devemos estar absolutamente seguros de que se trata do melhor para ele. Se houver alguma dúvida, por mínima que seja, o melhor é não nos intrometermos em sua vida.
Pior é tentar impor o que quer que seja à força para a amada, os filhos ou alunos etc. Aí, a coisa não funciona mesmo! As conquistas do espírito nunca se dão por esse meio. Todos os que lidam com idéias, princípios e valores têm (a justa) pretensão de influenciar pessoas. É uma atitude altruísta, coerente e até nobre. Precisam fazê-lo. É sua profissão (às vezes) ou missão de vida.
Todavia, isso não pode ser feito pelo expediente da força, das ameaças e da coação. Só conquistando a confiança e, principalmente, o afeto alheio, a influência será eficaz, duradoura e decisiva. Isso vale, notadamente, para pais e educadores.
Há quem tente impor a ferro e fogo princípios de conduta ao próximo. Não conseguem, claro, mesmo que esses valores sejam nitidamente corretos, construtivos e essenciais. O que está errado, no caso, não são as idéias, mas o método de exposição.
As portas do espírito são caprichosas. Só podem ser abertas por uma única chave: a do amor. Ame pois, ame profunda e sinceramente os que carecem do seu esclarecimento. Faça do afeto a sua estratégia para chegar à sua mente, mediante o caminho do coração.
Através da coação, pode-se, é verdade, levar uma pessoa a admitir que concorda com aquilo que lhe querem impor pela força. Essa admissão, todavia, será nula. Será apenas “declarada”, mas não “sentida”. Não terá nenhuma validade prática ou legal. O coagido não estará convencido da veracidade do que lhe impõem de forma tão atrabiliária.
É o caso das confissões feitas sob tortura. Que validade elas têm, principalmente se, e quando, o que é confessado não é verdadeiro? Afinal, torturado, qualquer um confessa qualquer coisa. Trata-se de um expediente covarde e vil, que já deveria estar há muito banido, notadamente neste século XXI, mas que não está.
Recentemente, a Justiça norte-americana (país tido e havido como o mais democrático e livre do mundo) desastrosamente admitiu esse expediente terrível nos interrogatórios de suspeitos de terrorismo. Trata-se de enorme retrocesso, de decisão perversa e tola, principalmente vinda de onde veio.
Exemplo típico de como a tentativa de convencer alguém mediante coação e tortura, ou seja, à força, só redunda em erro, é o caso do notável físico e astrônomo italiano Galileo Galilei Galileu, o inventor do telescópio e autor de tantos outros inventos e estudos, que resultaram num imenso avanço da ciência. Uma das suas principais constatações (que hoje é do conhecimento de qualquer criança que mal tenha aprendido a falar), contrariava um dogma da Igreja Católica. Dizia que a Terra girava ao redor do Sol e não o contrário, como os pseudo-doutos teólogos de então afirmavam, sem admitir contestações.
Quem contestasse, seria tido por herege e corria o risco de ser condenado à prisão e não raro à morte, queimado vivo em praça pública. Galileu foi instado pela Inquisição a retratar-se daquilo que tinha plena convicção de se tratar da verdade.
Conta a lenda que o sábio, após tentar convencer, em vão, seus inquisidores, abjurou, oficialmente, de suas idéias, simulando “arrependimento” e admitindo que nosso planeta era, de fato, fixo, e que o sol, a lua e até as estrelas giravam ao seu redor (que disparate!). O que nós faríamos naquelas circunstâncias? Certamente agiríamos da mesma forma, ou até pior que Galileu. Porém, ao se retirar do recinto, onde havia sido inquirido, o sábio teria dito, em voz baixa, quase que num murmúrio: “Epur se muove”. Ou seja, “mas se move”, referindo-se à Terra.
Mesmo que não passe de lenda (e se for, é bastante verossímil) fica mais do que evidenciado que, à força, ninguém o convenceu de que ele estava errado. Ainda bem. Se o convencessem, e se outros astrônomos, como Copérnico, Tycho Brae e tantos outros, considerassem os dogmas da Igreja à prova de contestações, a ciência astronômica haveria estagnado e o progresso humano também.
Séculos depois, nos anos 90, o papa João Paulo II pediu perdão, publicamente, ao cientista italiano, pelo mal que sacerdotes ignorantes lhe causaram. Claro que foi um pedido de desculpas simbólico, posto que Galileu morreu amargurado e, certamente, de forma prematura, por causa da violência que sofreu.
As pessoas fortes não temem as adversidades. Refiro-me, claro, não à força física, que é passageira e se dilui ao sabor dos anos, mas à interior, à moral, à caracterizada pela constância, persistência, perseverança e vontade. Essa é irresistível!
Quem é dotado dessas características, que não são inatas e que, portanto, podem ser desenvolvidas por qualquer um, não só não foge dos desafios que a vida lhe impõe, mas os aceita e encara de peito aberto e alma pura. E supera os obstáculos, um a um, não importa a quantidade, tamanho, natureza ou intensidade deles, com absoluta naturalidade. De cada crise que enfrenta, sai mais fortalecido e confiante.
Sabe, por experiência, que “não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe”. Essa é a única força admissível quando se quer educar alguém: a dos princípios arraigados na alma e transmitidos com amor e respeito mediante o irresistível recurso do convencimento.

No comments: