Thursday, October 18, 2007

Presença da mulher na poesia brasileira - IV


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

FASE MODERNISTA

Existiria alguma razão objetiva para o fato das melhores poetisas brasileiras serem da fase modernista da nossa literatura? Há quem entenda que sim e atribua o fato das mulheres estarem conquistando, no mundo todo, a partir do início da década de 20, maiores espaços na sociedade. Eram notáveis as campanhas das feministas nesse período e crescia o acesso feminino às escolas, embora isso ocorresse, apenas, com uma minoria absoluta e privilegiada.
Muitos estudiosos, porém, contestam que só surgiram grandes poetisas nessa fase. Argumentam que desde o início do século XIX surgiram no Brasil grandes escritoras que, no entanto, não tiveram a oportunidade de divulgar suas obras, por causa da mentalidade machista que imperou na nossa vida social até tempos bastante recentes.
Os que acham que as melhores poetisas brasileiras, de fato, foram as da fase modernista, justificam, não sem forte dose de razão, que a arte sempre imita a vida (e, em alguns casos, até a “recria”). O século XX começou com relativa liberalização de costumes. Exemplo característico disso foi o movimento que ficou conhecido como “Belle Époque”. Nessa ocasião se pensou (e se agiu) como se todos os problemas do mundo já estavam resolvidos. Imperou, por um certo tempo, nos meios intelectuais da Europa, notadamente da França, a mentalidade de que a humanidade, finalmente, havia aprendido a viver em paz e harmonia. Achava-se que a vida deveria ser (e que era) uma sucessão interminável de festas e de maravilhas. Novas invenções tornavam as tarefas domésticas mais fáceis, ou menos penosas.
A cultura estava em efervescência. Havia surgido, por exemplo, o cinema. O can-can agitava os cabarés, repletos de intelectuais e de pessoas preocupadas apenas com a diversão, com a satisfação dos sentidos. A arte sofria surpreendentes transformações, com o Impressionismo e a Art Noveau. Essa euforia, contudo, não iria durar muito. O sonho acabou, mais do que depressa, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, um selvagem desfile de horrores que, em muitos aspectos, foi até pior do que a Segunda conflagração européia, que se espalhou a vários outros continentes.
Em contrapartida, a Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia, deu a entender que o novo regime então implantado significava o fim da discriminação feminina, que doravante homens e mulheres gozariam dos meus direitos e teriam os mesmos deveres. Claro que a coisa não era bem assim. Essa justa e sonhada igualdade limitou-se apenas aos slogans e à propaganda. Na prática...
Mas não se pode negar que as mulheres, que mostraram grande bravura, resistência e capacidade de trabalho, nos difíceis e dramáticos anos das duas conflagrações armadas mundiais, conquistaram um pouco mais de terreno no pós-guerra. Em alguns países, por exemplo, obtiveram o direito ao voto, que até então lhes havia sido, sistematicamente, negado. Em outros, organizaram-se em sindicatos e passaram a exigir melhorias nas condições de trabalho. Sua cabeça começava a mudar. Conscientizaram-se que não poderiam depender de concessões masculinas, mas deveriam conquistar seus direitos. Sua cabeça, portanto, começava a mudar. E essa mudança refletiu-se, também, por conseqüência, na literatura que, claro, é parte integrante da vida.

(CONTINUA)

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