Friday, March 30, 2012







A verdadeira natureza do tempo

Pedro J. Bondaczuk

A velocidade da luz – de 300 mil quilômetros por segundo – pode variar (e varia), mas o tempo não. Ele é imutável. Certo? Errado! Durante muitos e muitos anos se pensou dessa maneira, até que Albert Einstein demonstrou, com sua teoria da relatividade, que todos estavam redondamente enganados. Provou, entre tantas outras coisas, que o tempo não é constante e que também varia. E, com isso, revolucionou a Física. Stephen Hawking foi mais longe. Não apenas comprovou os postulados de Einstein, como trouxe à baila outros tantos conceitos científicos que hoje são praticamente consensuais. Mas... vamos por partes.

Em junho de 1988, Stephen Hawking lançou seu primeiro livro (depois dele, viria mais de uma dezena deles, três dos quais em parceria com Leonard Mlodinow e dois outros com Roger Penrose e Alan Lightman). O título? “Uma breve história do tempo – do Big-Bang aos Buracos Negros”. Foi nessa obra instigante que demarcou os limites dos temas que foram e são objetos de suas investigações (e especulações) até hoje e que detalhou nos trabalhos subseqüentes.

O próprio autor explicou, logo na introdução, o método que utilizou na redação do texto: “As idéias básicas sobre a origem e o destino do universo podem ser consideradas sem o uso da matemática, de maneira que as pessoas sem formação científica possam compreendê-las”. Hawking agiu assim a pedido do editor, Peter Guzzardi. Não utilizou fórmulas e equações complexas, inteligíveis, apenas, por quem é do ramo (que, convenhamos, não são tantos assim) e, mesmo eles...

Quem lida com Física sabe que este é um enorme desafio. Essa disciplina está indissociavelmente ligada à Matemática. O livro de Hawking é muito bem escrito, com ordem, método e, sobretudo, didática, como se fora magnífica aula (e é mesmo), não fora o autor o excelente professor que é de uma das mais prestigiosas universidades do mundo, a de Cambridge. Claro que nem todos irão compreender o que foi exposto. Não se pode, por exemplo, falar da “Teoria da Relatividade”, de Albert Einstein, a uma criança, que não conheça sequer os princípios elementares, o “abc” da Física. Todavia, um leitor com conhecimento mediano, desde que leia o livro com método e concentração, da primeira à última página, terá visão magnífica de um mundo fascinante e misterioso que sequer imaginava que existisse,

Como afirmei, Stephen Hawking não utilizou fórmulas matemáticas na exposição de suas idéias sobre a visão da ciência da formação do universo, da natureza das leis que o regem e das forças que o movem. Há, apenas, uma e uma única exceção. E não poderia ser diferente. Mas a fórmula que mencionou é conhecidíssima demais e até os que desconhecem seu significado (a imensa maioria das pessoas, é claro) já ouviram falar dela ou a viram escrita em algum lugar. Qual é? Trata-se do celebérrimo enunciado elementar de Einstein: E = mc2. Com ele, o pai da teoria da relatividade explicou o comportamento do mundo físico, deflagrando uma revolução na ciência do século XX e dando origem à era nuclear, cujas conseqüências estão, ainda, por ser avaliadas.

Todavia, mesmo a célebre fórmula é utilizada por Stephen Hawking apenas com finalidades ilustrativas. Usou-a, só, para demonstrar que no universo “não há interações instantâneas”. Antes de Einstein formular sua célebre proposição, acreditava-se, por exemplo, que o tempo despendido pela corrente elétrica, para percorrer um fio metálico, era zero. Todavia, ficou comprovado (e demonstrado) que, embora infinitamente pequeno, ele “existe”. Difere, portanto, de zero. Dessa descoberta, que ao leigo soa banal, decorreu toda a cosmologia contemporânea.

Como afirmei no início, antigamente havia crença generalizada nos meios científicos de que até a velocidade da luz poderia variar, mas o tempo não mudava. Stephen Hawking afirma a esse propósito em seu livro: “A Teoria da Relatividade sela o fim do tempo absoluto”. Aliás, “Uma breve história do tempo – do Big-Bang aos buracos negros” gira, de uma forma ou de outra, da primeira à última página, em torno desse conceito.

Hoje sabe-se que, quando o homem olha para o céu, em uma noite clara e estrelada, está, na verdade, vendo a história do universo. Não o seu presente, mas seu remoto (remotíssimo) passado. Muitas das estrelas cuja luz vislumbramos hoje já não existem há milhões, quiçá bilhões de anos. Estão tão distantes de nós que só agora vemos seu reflexo. Outras tantas, que acabam de nascer, serão vistas por aqui (se ainda houver pessoas para tal), em milhões ou bilhões de anos. Fascinante, não é mesmo?!

O nosso Sol, por exemplo, que nos parece tão próximo, está, de fato, a oito minutos-luz da Terra. E não se esqueçam que a velocidade da luz é de 300 mil quilômetros por segundo. Trocando em miúdos, cada raio solar, que aquece e ilumina nosso planeta neste instante, é o que foi emitido há oito minutos. Portanto, sua emissão ocorreu no passado, embora produza efeitos no presente.

A parte mais excitante do livro de Stephen Hawking, todavia, é a que se refere a um misterioso e aterrador fenômeno celeste, até então desconhecido ou não comprovado: os buracos negros. Registre-se que sua existência ainda é contestada em muitos círculos científicos. Todavia, praticamente todos os dias, astrônomos registram evidências de que eles de fato existem e em grande profusão universo afora. A nossa galáxia, Via Láctea, teria, por exemplo, um enorme, bem no seu centro, sugando para o seu interior, e triturando, estrelas e mais estrelas, muitas com os respectivos planetas, aliás, constelações inteiras, além de gases e de poeira estelar.

E o que seriam (ou são) os tais buracos negros? Seriam uma concentração tão densa de matéria, com uma gravidade tão poderosa e inflexível, que atrairia todos os corpos ao seu redor. Nem mesmo a luz escaparia deles, daí a dificuldade de serem localizados. Tudo, absolutamente tudo o que esteja nas suas proximidades ou apenas cercanias seria imediatamente “devorado” por estes sorvedouros descomunais e inflexíveis. Voltarei, certamente, a tratar deste e de outros livros de Stephen Hawking.



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