Friday, March 09, 2012







A lógica do crime


Pedro J. Bondaczuk


A psicóloga mineira, Gleica Maria Fonseca, seqüestrada há 17 dias, está vivendo um drama pelo qual já passaram tantas personalidades, de famílias de posse, como o banqueiro Luís Beltran Martinez, o publicitário Luís Salles, os empresários Abílio Diniz e Roberto Medina e a estudante Vânia Benzaquen, entre outros.

De uns tempos para cá, raros são os dias em que não há notícias acerca de seqüestros. Mudam as personagens, trocam-se os cenários, mas o enredo é sempre o mesmo. Providências legais têm sido tomadas, como o agravamento das penas para esse tipo de delito. Prisões são efetuadas. Restringiu-se a liberação de dólares para o pagamento de resgates. Mas a onda de seqüestros prossegue, no Rio, em São Paulo, em Minas, no Paraná e vai por aí afora.

Qual seria a razão disso voltar a acontecer, já que se trata de um procedimento cíclico? De tempos em tempos é deflagrada uma onda de seqüestros que perdura por meses e até por alguns anos, e depois pára. A resposta quem dá é o colunista do "The New York Times", Tom Wicker, ao constatar: "A política do crime é simples e cínica: apenas responde ao medo de que o público tem do crime".

Quanto maior for o temor da população por determinado tipo de delito, mais possibilidades ele tem de ser repetido. É evidente que um seqüestro assusta, não apenas quem é vitimado por ele, como também a família. Sua lógica é a mesma que move os atos terroristas: o despertar do terror.

O que seria necessário fazer, de alguma maneira, era transferir esse temor das vítimas para o criminoso em potencial. Não basta somente o agravamento de sua pena, se ele conta com regalias (como tem agora), durante seu encarceramento.

Muitos dos casos de seqüestro foram, comprovadamente, planejados dentro de penitenciárias. Como isso acontece? É a pergunta que, certamente, todos fazem e que seria oportuno que alguém respondesse. O fato é que acontece!

Nem os mais peritos autores de histórias policiais, como Agatha Christie ou Conan Doyle, seriam capazes de imaginar enredos tão inverossímeis. Mas eles ocorrem de fato e de forma repetitiva. Isso comprova que o escritor russo, Fedor Dostoievsky, não fez apenas uma frase de efeito, mas expressou uma grande verdade, quando constatou que "não há nada mais espantoso do que a realidade".

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 11 de outubro de 1990).



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