Wednesday, March 14, 2012







Sorriso que salva

Pedro J. Bondaczuk

A menina sorria.
Embora fosse noite
e a brisa fosse açoite
para o arvoredo curvado;
embora o vento gemesse
lúgubre, no telhado;
embora eu lamentasse
que outro ideal partisse,
que outro dia acabasse
e que, destarte eu ficasse
mais próximo da velhice,
a menina sorria.

Embora o mundo ruísse
em lenta decomposição;
embora um homem trocasse
em outro homem o coração;
embora astronautas chegassem
até a órbita da Lua
e mais se distanciassem
das pessoas em sua rua;
embora o avarento fizesse
ao ouro profana prece;
embora um velho morresse
e uma criança nascesse
e de fome perecesse
outro indigente qualquer;
embora a guerra existisse,
embora o ódio fervesse,
embora o tédio batesse,
embora o amor decrescesse,
embora a vida passasse
e a morte presta viesse,
a menina, em sua inocência,
placidamente sorria.

Santa e inocente alienação!
Gratificante sorriso de criança!
Mágico porto de salvação!

(Poema composto em Campinas, em 27 de dezembro de 1968).

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