Wednesday, March 21, 2012







Avareza literária

Pedro J. Bondaczuk

A palavra “avareza” provém do latim “avaritia”. O dicionário do mestre Aurélio registra estes significados para o termo: 1-Excessivo e sórdido apego ao dinheiro; 2-Falta de generosidade, mesquinhez; 3-Ciúme, zelo. Provavelmente, você, caro leitor, conhece uma ou mais pessoas que se enquadram nessas definições. Em texto anterior, abordei o aspecto, digamos, “filosófico” da questão. Prometi-lhes tratar de personagens avarentos famosos – e alguém já me cobrou isso por e-mail – que considero até redundante, porquanto são figuras conhecidíssimas na literatura. Para não maçá-lo – pelo menos não muito – me limitarei, apenas, a mencionar alguns, e de passagem.

A esse propósito, recomendo-lhes um excelente blog, que periodicamente consulto e leio com prazer, cujo nome, por si só, já é bastante revelador. Refiro-me ao “Mídia Avarenta”, cujo endereço eletrônico é o seguinte, para você saciar a curiosidade: HTTP://midiavarenta.worpress.com. Reitero que o assunto referente à avareza não é novo, por isso, não esperem de mim nenhuma abordagem original e diferente das tantas (e excelentes) que há internet afora.

O primeiro (e mais óbvio) desses personagens “esganados” por dinheiro, que me vem de imediato à mente, é a figura de “Harpagon”, genial criação do dramaturgo Moliére (pseudônimo de Jean-Baptiste Poquelin), na célebre peça “O avarento”, encenada há muitos e muitos anos nos melhores teatros mundo afora. E não se trata de nenhuma caricatura. O personagem em questão é tão verossímil que nos causa mal-estar durante a representação desse drama, a ponto de nos esquecermos até que se trata de ficção. Não por acaso, Moliere está incluído entre os gênios da arte dramática.

E o que dizer de Shylock, de “O mercador de Veneza”, de William Shakespeare? É certo que esse personagem traz um certo “ranço” de preconceito, já que se trata, na peça, de um judeu. Todavia, embora condene estereótipos preconceituosos, não me atrevo a investir contra o bardo de Strastford-upon-Avon. Ele apenas limitou-se a seguir os costumes da época, de idos do século XIV. Naquela época (e, infelizmente, ainda hoje, em determinados círculos sociais) o preconceito contra os judeus ainda estava arraigadíssimo, e não apenas na Inglaterra, mas na maior parte da Europa. Abstraiam sua origem. Shylock é o protótipo acabado do clássico avarento.

Querem outro personagem obcecado por juntar fortuna (e não pelo conforto e facilidades que o dinheiro propicia, mas apenas pelo fato de tê-lo, mais, e mais e sempre mais, sem nenhum limite)? Não se esqueçam, pois, do pai Grandet, do clássico romance de Honoré Balzac – o prolífico criador da “Comédia humana” – “Eugênia Grandet” (lançado em 1833).

Era de se esperar que esse analista arguto da alma humana, estudioso do comportamento das pessoas, criasse um magnífico personagem avarento. E, de fato, criou. Aliás, para os desavisados, a “Comédia humana” não é o título de determinado livro de Balzac. Longe disso. Nomeia, praticamente, toda uma biblioteca, consistente de 95 romances, contos e novelas, uma espécie de crônica, de retrato de corpo inteiro da sociedade francesa da sua época.

Querem outro avarento famoso na literatura? Não se esqueçam, pois, de Ebenezer Scrooge, personagem da história “Um conto de Natal”, de Charles Dickens. É desnecessário ressaltar a importância e, sobretudo, a popularidade desse escritor. Basta citar que “Um conto de duas cidades”, de sua autoria, é tida e havida como a obra literária mais vendida de todos os tempos, na relação informal feita pela enciclopédia eletrônica Wikipédia, sobre a qual escrevi recentemente (excluídos da lista a Bíblia, o Alcorão e outros textos basilares das várias religiões). Esse livro já vendeu, mundo afora, mais de 200 milhões de exemplares! Uma fábula, sem dúvida. Quem já leu “Um conto de Natal” certamente nunca esqueceu de Ebenezer Scrooge.

A literatura brasileira, igualmente, tem personagens avarentos marcantes. Claro que não citarei todos, porquanto este espaço e estas reflexões não comportam tantas citações. Menciono, todavia, mesmo que de passagem, o vendeiro João Romão, do romance “O cortiço”, de Aloísio Azevedo. Ou, para ser mais atual, o Euricão Árabe, de “O santo e a porca”, de Ariano Suassuna. Se quiserem, porém, um personagem mais antigo, bem mais antigo, não se esqueçam de Euclião, da comédia “Aululária”. Esta peça foi escrita pelo comediógrafo romano Tito Mácio Plauto, que viveu na Roma republicana no período de 230 A.C a 180 A.C (recorde-se que a contagem de tempo antes de Cristo é feita de forma decrescente).

Não posso encerrar estas reflexões sem citar dois avarentos célebres popularizados por novelas globais, sob pena de ser cobrado por leitores. O mais marcante desses personagens foi “Seu Nonô”, interpretado pelo ator Ary Fontoura. O próprio artista confessa que até hoje é chamado por muitas pessoas por este nome. Sua interpretação, diga-se de passagem, foi genial. “Seu Nonô” foi personagem da novela “Amor com amor se paga”, exibida pela Rede Globo no já longínquo ano de 1984. Outro avarento célebre da telinha foi o Conde Klaus. Foi interpretado pelo ator Cláudio Correa e Castro. Ele se destacou na novela “Chocolate com pimenta” exibida pela Rede Globo mais recentemente, em 2003.

Bem, se não fiz uma apresentação genial dessas figuras de “adoradores do bezerro de ouro”, tão comuns na vida e, por conseqüência, na literatura, que a retrata – em momento algum tive essa pretensão e nem poderia ter – creio que fiz um esboço até que “quase” razoável de avarentos famosos criados por consagrados escritores. Espero que você, leitor, se divirta com este texto, como, ademais, me diverti ao escrevê-lo.

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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