Guerra deixa marcas difíceis de apagar
Pedro J. Bondaczuk
A guerra, mesmo aquela restrita no tempo e no espaço, traz conseqüências que vão muito além das mortes e destruições que produz. Marca, muitas vezes, uma nação inteira até por séculos, com um estigma que nada consegue apagar.
Este parece ser o caso da Áustria, terra natal do ditador nazista Adolf Hitler, que desde aquele período de seis anos de loucura que se apossou da Europa, deixou de ser, mesmo para as gerações posteriores, o romântico país da valsa, da dança e da elegância, cortado pelas águas azuis e calmas do Danúbio, para se transformar na pátria de um verdugo da humanidade.
E isto é sumamente injusto para com os austríacos, cujo território foi anexado à Alemanha, no malfadado “anchluss”. É ali que o Papa está nesta semana. E é esta a mensagem que ele leva: aa de que a população deve aprender com os erros do passado e não se auto-punir eternamente por algo que a geração atual não teve qualquer culpa.
O interessante nas guerras é a histeria coletiva que toma conta das massas. Os hinos marciais, a maciça propaganda bélica e os discursos inflamados dos políticos, ofuscam a razão da maioria. Se em tais oportunidades alguém erguer a voz da prudência para denunciar o quão estúpido e grotesco é o ato de toda uma sociedade nacional pegar em armas para matar, destruir, conspurcar, e cometer toda a sorte de atrocidades, será, imediatamente, chamado de pusilânime.
Poderá, até mesmo, ser encarcerado e morto. E, todavia, quem ousa fazer tal denúncia é que é o verdadeiro herói. Isto, no entanto, as massas somente entendem no decorrer do conflito, quando seus entes queridos são mortos, suas propriedades são arrasadas e todos os resquícios de vida civilizada e de organização de suas cidades, seus Estados e seus países são anulados, para ceder lugar a um ódio irracional por um inimigo que o povo sequer conhece.
A guerra foi tema, inclusive, para inúmeros poetas-soldados, que vêem beleza até nas atrocidades, como o inglês Wilfred Owen. Seu poema “Hino para uma Juventude Condenada”, escrito numa trincheira (onde ele acabou sendo morto), diz tudo o que há para se dizer sobre o assunto.
“Que dobres fúnebres para os que morrem como gado?/Só a fúria monstruosa dos canhões,/só o rápido estalar dos rifles gagos,/podem dizer suas orações apressadas./Não há zombarias para eles; nem rezas, nem sinos,/nem voz alguma lamentando, salvo os coros.../os coros estridentes e loucos de bombas chorosas/e clarins chamando por eles, de tristes condados. Que velas podem se suster para apressá-los a todos?/Não nas mãos de meninos, mas em seus olhos/brilharão os sagrados bruxuleios de adeuses./A palidez das frontes das jovens será a sua mortalha;/suas flores, a ternura de mentes pacientes/e cada crepúsculo lento um fechar de cortinas”.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 24 de junho de 1988).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
A guerra, mesmo aquela restrita no tempo e no espaço, traz conseqüências que vão muito além das mortes e destruições que produz. Marca, muitas vezes, uma nação inteira até por séculos, com um estigma que nada consegue apagar.
Este parece ser o caso da Áustria, terra natal do ditador nazista Adolf Hitler, que desde aquele período de seis anos de loucura que se apossou da Europa, deixou de ser, mesmo para as gerações posteriores, o romântico país da valsa, da dança e da elegância, cortado pelas águas azuis e calmas do Danúbio, para se transformar na pátria de um verdugo da humanidade.
E isto é sumamente injusto para com os austríacos, cujo território foi anexado à Alemanha, no malfadado “anchluss”. É ali que o Papa está nesta semana. E é esta a mensagem que ele leva: aa de que a população deve aprender com os erros do passado e não se auto-punir eternamente por algo que a geração atual não teve qualquer culpa.
O interessante nas guerras é a histeria coletiva que toma conta das massas. Os hinos marciais, a maciça propaganda bélica e os discursos inflamados dos políticos, ofuscam a razão da maioria. Se em tais oportunidades alguém erguer a voz da prudência para denunciar o quão estúpido e grotesco é o ato de toda uma sociedade nacional pegar em armas para matar, destruir, conspurcar, e cometer toda a sorte de atrocidades, será, imediatamente, chamado de pusilânime.
Poderá, até mesmo, ser encarcerado e morto. E, todavia, quem ousa fazer tal denúncia é que é o verdadeiro herói. Isto, no entanto, as massas somente entendem no decorrer do conflito, quando seus entes queridos são mortos, suas propriedades são arrasadas e todos os resquícios de vida civilizada e de organização de suas cidades, seus Estados e seus países são anulados, para ceder lugar a um ódio irracional por um inimigo que o povo sequer conhece.
A guerra foi tema, inclusive, para inúmeros poetas-soldados, que vêem beleza até nas atrocidades, como o inglês Wilfred Owen. Seu poema “Hino para uma Juventude Condenada”, escrito numa trincheira (onde ele acabou sendo morto), diz tudo o que há para se dizer sobre o assunto.
“Que dobres fúnebres para os que morrem como gado?/Só a fúria monstruosa dos canhões,/só o rápido estalar dos rifles gagos,/podem dizer suas orações apressadas./Não há zombarias para eles; nem rezas, nem sinos,/nem voz alguma lamentando, salvo os coros.../os coros estridentes e loucos de bombas chorosas/e clarins chamando por eles, de tristes condados. Que velas podem se suster para apressá-los a todos?/Não nas mãos de meninos, mas em seus olhos/brilharão os sagrados bruxuleios de adeuses./A palidez das frontes das jovens será a sua mortalha;/suas flores, a ternura de mentes pacientes/e cada crepúsculo lento um fechar de cortinas”.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 24 de junho de 1988).
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