Sunday, March 25, 2012







Em busca de posições comuns


Pedro J. Bondaczuk


A América Latina, através de seus representantes, estará discutindo os principais problemas que afligem a região, na próxima semana, durante a Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos, a ser realizada na Colômbia (palco de duas recentes tragédias que enlutaram todo o continente).

Paralelo a esse evento, cinco organismos regionais estarão reunidos, numa saudável troca de idéias, buscando, através da nossa própria experiência, solucionar nossas questões mais angustiantes, como a dívida externa, a tensão na América Central e os problemas atinentes ao comércio regional.

Será uma ótima oportunidade para que nossos países desenvolvam uma estratégia comum, capaz de nos tornar fortes diante dos interlocutores industrializados e que nos livre da bipolarização ideológica das superpotências.

A América Latina é uma região cheia de contrastes. Não apenas os de caráter social, ditados por enormes e absurdas concentrações de riquezas em mãos de pouquíssimos privilegiados, mercê de políticas equivocadas postas em prática em nossos países, desde que a maioria obteve a sua independência, no início do século passado.

Estes invadem o campo econômico, o cultural e o do relacionamento continental. Em poucas regiões do mundo a natureza foi tão pródiga quanto nesta. Mas permanecemos indiferentes a essa dádiva, representada por riquezas minerais fabulosas, que acabam indo beneficiar a outros povos, em virtude da nossa inércia, da nossa ingenuidade ou da nossa corrupção (especialmente esta última).

Enquanto isso (ou em decorrência dessa nossa incapacidade) a imagem latino-americana perante a comunidade internacional é das mais lamentáveis. Somos vistos por ela como completos irresponsáveis, incorrigíveis esbanjadores e eternos amantes da ociosidade, o que não condiz, em absoluto, com o perfil da maioria.

Somos olhados como selvagens, incapazes de orientar nossos destinos através de um sistema político de consenso, onde a vontade da maioria seja respeitada. Na América Latina, a oligarquia sempre é quem manda. Fomos ultrapassados pelo tempo e ainda não nos apercebemos disso.

Agora, como em diversas outras ocasiões anteriores, a região ensaia, posto que ainda timidamente, um processo de redemocratização. Eleições aconteceram neste ano no Brasil (indiretas), no Peru, na Bolívia, em El Salvador, na Guatemala e em Honduras (entre as mais expressivas), todas dentro de um razoável clima de respeito e de liberdade.

Novas lideranças estão emergindo, em termos continentais. Como o jovem presidente peruano, Alan Garcia Perez; como o já carismático Raul Alfonsin ou como o ponderado Júlio Maria Sanguinetti. Todos avançamos um pouco, não há dúvidas, embora no Panamá tenha se verificado outro ”golpe branco”, com o presidente Arditto Barletta sendo obrigado a renunciar para não ser deposto, sem que o fato ganhasse o devido destaque.

Mas os riscos institucionais estão longe de terem sido debelados. O maior exemplo disso foram os fatos verificados ainda recentemente na Argentina, na sucessão de atentados a bomba e de denúncias de complô golpista, felizmente detidos, a tempo, pelo governo democrático daquele país.

Qualquer medida de caráter social mais ousada, tendente a consertar as brutais distorções há muito existentes na região, intoleráveis nos umbrais de um novo século, causam movimentação desusada entre os que, encastelados em privilégios vindos desde os tempos coloniais, não admitem essas correções. Isso precisa mudar e bem depressa.

O que se espera é que essa gestão diplomática prevista para a próxima semana na Colômbia surta algum efeito verificável. Que o Grupo de Contadora obtenha, por exemplo, pelo menos um compromisso formal dos países centro-americanos de que eles não lançarão mão do recurso da violência para solucionarem suas questões.

Que o Grupo de Consenso de Cartagena promova uma estratégia comum no trato da questão da dívida, para que a América Latina tenha poder de barganha junto aos credores e reduza os juros intoleráveis que nos são cobrados impunemente. Enfim, que tudo não termine, como sempre aconteceu, em muita retórica e nenhum ato efetivamente prático.

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 27 de novembro de 1985).

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