Novo estilo de política
Pedro J. Bondaczuk
O Uruguai dá posse, hoje, a Luís Alberto Lacalle, na primeira sucessão de um presidente civil eleito livremente para outro desde o fim do regime militar, que quebrou uma longa tradição democrática nessa nação irmã.
Várias tendências já podem ser notadas nessa salutar onda redemocratizante que varre as três Américas desde meados da década passada. A primeira, é a opção por políticos centristas, com ligeira inclinação, ora para a esquerda, ora para a direita, mas com programas de governo liberais.
Isto ocorreu com Carlos Menem, na Argentina; com Patrício Aylwin, no Chile e com o general Andres Rodriguez, no Paraguai. Mesmo os políticos com tradição esquerdista, como Rodrigo Borja, do Equador e notadamente Jaime Paz Zamora, da Bolívia, conservaram, em linhas gerais, a estratégia seguida por seus antecessores.
Uma outra característica, pelo menos em determinados países, dos novos presidentes, é a sua juventude. Isto já havia ficado relativamente definido com a eleição de Alan Garcia, no Peru, cuja administração aprista acabou sendo uma enorme decepção.
O escritor Mário Vargas Llosa, seu provável sucessor, é relativamente jovem. É verdade que em termos de idade a "taça" fica com o futuro governante brasileiro, Fernando Collor de Mello. Mas Carlos Menem, Paz Zamora e Luís Alberto Lacalle têm idades para postular novos mandatos no futuro, caso consigam desempenhar a contento suas espinhosas missões, qual seja, as de tirar suas respectivas sociedades nacionais de uma perversa crise, que se abateu durante toda a década passada sobre a América Latina, e que ameaça se perpetuar.
Os uruguaios, por outro lado, pretendem dar uma verdadeira lição de sabedoria política, mediante um governo de união. Blancos e Colorados deixaram de lado sua secular controvérsia, para se unir em torno de um ideal comum. Ou seja, o da construção de um país moderno, com instituições sólidas, uma economia forte e uma estrutura social que não contenha as atuais distorções e as corrijam.
O presidente argentino, aliás, ensaia algo parecido, com o convite que fez ao adversário que derrotou nas urnas, em 14 de maio do ano passado, Eduardo Angeloz, da União Cívica Radical. Ao que tudo indica, portanto, a América Latina está inaugurando um novo período em que a política tende a deixar de ser um mero jogo de oportunismo e troca de favores, para ganhar a sua dimensão verdadeira e maior, que é o trato dos interesses da totalidade dos cidadãos. Oxalá isto seja mais, muito mais do que mero balão de ensaio.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1º de março de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O Uruguai dá posse, hoje, a Luís Alberto Lacalle, na primeira sucessão de um presidente civil eleito livremente para outro desde o fim do regime militar, que quebrou uma longa tradição democrática nessa nação irmã.
Várias tendências já podem ser notadas nessa salutar onda redemocratizante que varre as três Américas desde meados da década passada. A primeira, é a opção por políticos centristas, com ligeira inclinação, ora para a esquerda, ora para a direita, mas com programas de governo liberais.
Isto ocorreu com Carlos Menem, na Argentina; com Patrício Aylwin, no Chile e com o general Andres Rodriguez, no Paraguai. Mesmo os políticos com tradição esquerdista, como Rodrigo Borja, do Equador e notadamente Jaime Paz Zamora, da Bolívia, conservaram, em linhas gerais, a estratégia seguida por seus antecessores.
Uma outra característica, pelo menos em determinados países, dos novos presidentes, é a sua juventude. Isto já havia ficado relativamente definido com a eleição de Alan Garcia, no Peru, cuja administração aprista acabou sendo uma enorme decepção.
O escritor Mário Vargas Llosa, seu provável sucessor, é relativamente jovem. É verdade que em termos de idade a "taça" fica com o futuro governante brasileiro, Fernando Collor de Mello. Mas Carlos Menem, Paz Zamora e Luís Alberto Lacalle têm idades para postular novos mandatos no futuro, caso consigam desempenhar a contento suas espinhosas missões, qual seja, as de tirar suas respectivas sociedades nacionais de uma perversa crise, que se abateu durante toda a década passada sobre a América Latina, e que ameaça se perpetuar.
Os uruguaios, por outro lado, pretendem dar uma verdadeira lição de sabedoria política, mediante um governo de união. Blancos e Colorados deixaram de lado sua secular controvérsia, para se unir em torno de um ideal comum. Ou seja, o da construção de um país moderno, com instituições sólidas, uma economia forte e uma estrutura social que não contenha as atuais distorções e as corrijam.
O presidente argentino, aliás, ensaia algo parecido, com o convite que fez ao adversário que derrotou nas urnas, em 14 de maio do ano passado, Eduardo Angeloz, da União Cívica Radical. Ao que tudo indica, portanto, a América Latina está inaugurando um novo período em que a política tende a deixar de ser um mero jogo de oportunismo e troca de favores, para ganhar a sua dimensão verdadeira e maior, que é o trato dos interesses da totalidade dos cidadãos. Oxalá isto seja mais, muito mais do que mero balão de ensaio.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1º de março de 1990)
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