Friday, July 09, 2010




O “mágico” terno marrom

Pedro J. Bondaczuk



Abro um parêntese nessa série de textos reminiscentes acerca das quinze Copas do Mundo que pude acompanhar (a deste ano é a 16ª), para tratar de um assunto que na verdade tem estreita relação com esse tema, mas que trago à baila não só por se manifestar ao longo dos mundiais, mas porque ele se faz presente sempre que o assunto é futebol: superstições.
Nem sei se tenho alguma. Acredito que não. Não carrego, por exemplo, amuletos ou patuás, achando que vão dar sorte ao meu time ou à nossa Seleção. E ademais, nem sigo qualquer ritual, tipo me persignar ou me benzer ou coisas assim, antes de jogos.
É certo que gosto de assistir às partidas (ou de ouvi-las no rádio, na ausência de uma televisão) rigorosamente sozinho. Não sou insociável, não é isso. As observações alheias sobre o andamento dos jogos é que me irritam, mesmo que pertinentes. Imaginem quando não são. O pitoresco é que já fui comentarista de rádio. Ou seja, fiz o que não gosto de ouvir.
Nem sempre pude gozar de privacidade para acompanhar a Seleção Brasileira. É possível que a decisão de 1950 tenha deixado alguma impressão ruim no subconsciente que o consciente não se lembra. Mas não posso garantir que isso tenha ocorrido. Pode ser que essa parte “trancada” do meu cérebro atribua o insucesso do Brasil, no Maracanazzo, à algazarra que todos faziam na casa do Zé Gordo, onde ouvi aquela decisão na companhia de um montão de gente, enviando “fluidos negativos” aos nossos craques. Sabe-se lá...
Supersticioso, mesmo, parece que era o Dr. Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira nas Copas do Mundo da Suécia e do Chile. E, recorde-se, nas duas o Brasil foi campeão. Creio que a sua fé tinha efeitos altamente positivos sobre o ânimo dos jogadores. Era contagiante. Mas as conquistas foram exclusivamente dos nossos craques, conseqüências da sua habilidade, da sua ousadia e do seu talento, e não de qualquer eventual influência mágica ou sobrenatural.
O Dr. Paulo Machado de Carvalho, para quem não sabe ou não se lembra, era um bem-sucedido empresário do ramo de comunicações, proprietário, na ocasião, da rádio e televisão Record e da Rádio Panamericana (atual Jovem Pan). Era uma pessoa que aliava à inegável competência, extrema simpatia.
Conhecendo-o pessoalmente, era impossível não gostar dele e não ser seu amigo. Fui dos tantos que tiveram o privilégio e a honra de conhecê-lo e de me tornar seu irrestrito admirador. Pois bem, o Dr. Paulo tinha lá suas superstições como, aliás, dez entre dez brasileiros as têm também (embora muitos jurem por todas as juras que não). A que ficou mais ostensiva, e por isso mais marcante e comentada por muito tempo (até hoje, há quem fale disso), foi a que se referia ao seu traje.
Explico. O chefe da nossa delegação assistiu o jogo de estréia do Brasil, na Copa da Suécia, vestindo um elegante e bem cortado terno marrom. Como nossa Seleção sapecou um 3 a 0 nos austríacos, resolveu manter, nos jogos seguintes, tudo exatamente como nesse dia, para atrai9r bons fluidos.
Em todos os outros cinco compromissos brasileiros, o Dr. Paulo trajou a mesmíssima vestimenta. E fomos campeões. O tal terno marrom teve algo a ver com isso? Não sei! Afinal, como dizem os filósofos, há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia. Intimamente, porém, estou mais do que convicto que a vestimenta do ilustre empresário não teve nada, absoluta e rigorosamente nada a ver com a conquista nos gramados suecos. Ele, contudo, tinha certeza que sim.
Tanto que na Copa seguinte, a de 1962, essa afável (e saudosa) figura foi escolhida, de novo, para chefiar nossa delegação no Chile. E repetiu o mesmíssimo ritual. Ou seja, assistiu todos os seis jogos brasileiros vestindo o inseparável terno marrom. E era o mesmo de 1958, e não outro semelhante. E o que aconteceu? Todos estão carecas de saber: o Brasil foi bicampeão!
O quê? Se eu acredito em superstição?! Eu não! Estou fora! Afinal, isso dá um azar danado!! A propósito, o Dr. Paulo Machado de Carvalho foi justamente homenageado pela Prefeitura de São Paulo, que batizou o Estádio Municipal do Pacaembu com o seu nome. Cá pra nós, êta terninho marrom poderoso!!!!

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