Instabilidade na Indochina
Pedro J. Bondaczuk
O Sudoeste Asiático, mais especificamente a Indochina, que nos últimos 32 anos (desde quando os pára-quedistas franceses tomaram, em 21 de novembro de 1953, a cidadela de Diem Bien Phu, na célebre “Operação Castor”) tem sido palco de sangrentos combates, volta a ser uma zona potencialmente perigosa, onde as superpotências podem considerar que seus interesses estão mais uma vez em xeque.
A prolongada ocupação vietnamita do Camboja e a recente ofensiva de suas tropas junto à fronteira da Tailândia, arrasando bases do Khmer Vermelho em apenas um mês de operações, vêm acirrando os atritos fronteiriços entre a China e o Vietnã.
Os chineses precisam abrir uma nova frente de luta para distrair a atenção de Hanói e impedir que a guerrilha cambojana, apoiada e financiada por Pequim, seja totalmente desbaratada. Por isso, vêm aumentando seus ataques na região.
Num contexto estratégico mais amplo, interessa sobremaneira aos russos a existência, não somente de um Vietnã forte militarmente, mas sobretudo de um controle da Indochina por regimes que sejam seus aliados. Dóceis, por conseqüência, em satisfazer a todas as suas necessidades na área.
A União Soviética, há tempos, aspira deter o controle da zona próxima ao Sul da China, considerada pelos estrategistas militares como um dos 14 principais pontos de estrangulamento do comércio marítimo mundial. A frota naval da superpotência do Leste, que após a Segunda Guerra Mundial era inexpressiva na região, hoje supera, em número de navios, a Sétima Frota dos EUA, encarregada de manter abertos todos os principais canais de navegação da Ásia.
A tentativa chinesa de manter os vietnamitas ocupados na sua fronteira Norte não está, todavia, surtindo os efeitos desejados. Hoje, o Vietnã mantém 1,25 milhão de homens em armas, detendo um dos mais magníficos aparatos militares mundiais, e o maior, per capita, comparado ao total de sua população. Hanói, por conseqüência, consegue responder ao fogo chinês, na tensa divisa comum, sem que necessite deslocar nenhum contingente do Camboja para lá.
Muitos observadores internacionais acreditam que o Sudoeste Asiático irá se constituir, pelo menos durante a última metade da atual década, num dos grandes pontos de atrito mundiais, ao lado do Oriente Médio, América Central e região do Golfo Pérsico, áreas que, atualmente, causam as maiores preocupações para a manutenção da paz (ou de um arremedo dela).
Teme-se, sobretudo, que a Tailândia (que sabe Deus como vem conseguindo se manter a salvo dos conflitos regionais desde 1953) acabe envolvida na questão do Camboja, já que, sabidamente, tem dado abrigo não apenas às vítimas da guerra (os refugiados cambojanos), mas aos opositores do regime títere de Phnon Penh.
Durante a atual ofensiva vietnamita, as tropas de Hanói, em diversas ocasiões, violaram a fronteira tailandesa, trocando tiros com guardas fronteiriços. Ignorando as advertências de Bangkok, perseguiram, em várias ocasiões, guerrilheiros no interior desse país. Dificilmente, portanto, a Indochina conseguirá escapar de uma conflagração mais ampla, uma espécie de revanche da guerra do Vietnã, termina há 13 anos, mas cujos reflexos persistem ao longo do tempo.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 19 de fevereiro de 1985).
Pedro J. Bondaczuk
O Sudoeste Asiático, mais especificamente a Indochina, que nos últimos 32 anos (desde quando os pára-quedistas franceses tomaram, em 21 de novembro de 1953, a cidadela de Diem Bien Phu, na célebre “Operação Castor”) tem sido palco de sangrentos combates, volta a ser uma zona potencialmente perigosa, onde as superpotências podem considerar que seus interesses estão mais uma vez em xeque.
A prolongada ocupação vietnamita do Camboja e a recente ofensiva de suas tropas junto à fronteira da Tailândia, arrasando bases do Khmer Vermelho em apenas um mês de operações, vêm acirrando os atritos fronteiriços entre a China e o Vietnã.
Os chineses precisam abrir uma nova frente de luta para distrair a atenção de Hanói e impedir que a guerrilha cambojana, apoiada e financiada por Pequim, seja totalmente desbaratada. Por isso, vêm aumentando seus ataques na região.
Num contexto estratégico mais amplo, interessa sobremaneira aos russos a existência, não somente de um Vietnã forte militarmente, mas sobretudo de um controle da Indochina por regimes que sejam seus aliados. Dóceis, por conseqüência, em satisfazer a todas as suas necessidades na área.
A União Soviética, há tempos, aspira deter o controle da zona próxima ao Sul da China, considerada pelos estrategistas militares como um dos 14 principais pontos de estrangulamento do comércio marítimo mundial. A frota naval da superpotência do Leste, que após a Segunda Guerra Mundial era inexpressiva na região, hoje supera, em número de navios, a Sétima Frota dos EUA, encarregada de manter abertos todos os principais canais de navegação da Ásia.
A tentativa chinesa de manter os vietnamitas ocupados na sua fronteira Norte não está, todavia, surtindo os efeitos desejados. Hoje, o Vietnã mantém 1,25 milhão de homens em armas, detendo um dos mais magníficos aparatos militares mundiais, e o maior, per capita, comparado ao total de sua população. Hanói, por conseqüência, consegue responder ao fogo chinês, na tensa divisa comum, sem que necessite deslocar nenhum contingente do Camboja para lá.
Muitos observadores internacionais acreditam que o Sudoeste Asiático irá se constituir, pelo menos durante a última metade da atual década, num dos grandes pontos de atrito mundiais, ao lado do Oriente Médio, América Central e região do Golfo Pérsico, áreas que, atualmente, causam as maiores preocupações para a manutenção da paz (ou de um arremedo dela).
Teme-se, sobretudo, que a Tailândia (que sabe Deus como vem conseguindo se manter a salvo dos conflitos regionais desde 1953) acabe envolvida na questão do Camboja, já que, sabidamente, tem dado abrigo não apenas às vítimas da guerra (os refugiados cambojanos), mas aos opositores do regime títere de Phnon Penh.
Durante a atual ofensiva vietnamita, as tropas de Hanói, em diversas ocasiões, violaram a fronteira tailandesa, trocando tiros com guardas fronteiriços. Ignorando as advertências de Bangkok, perseguiram, em várias ocasiões, guerrilheiros no interior desse país. Dificilmente, portanto, a Indochina conseguirá escapar de uma conflagração mais ampla, uma espécie de revanche da guerra do Vietnã, termina há 13 anos, mas cujos reflexos persistem ao longo do tempo.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 19 de fevereiro de 1985).
No comments:
Post a Comment