Experiência mesclada à juventude
Pedro J. Bondaczuk
A Seleção Brasileira de 1962, ao contrário do que se apregoa até hoje, não era um grupo “envelhecido”, mesmo mantendo a base titular de 1958. Aliou, isto sim, experiência à juventude, em uma mescla que acabou dando certo. Poderia não ter dado.
Alguém ousaria, por exemplo, dizer que Pelé, no esplendor dos seus 21 anos, no auge da forma física e técnica, era “velho”? Experiente sim, e muito. Além de haver conquistado a Copa na Suécia, naquele mesmo ano bateu todos os recordes possíveis e imagináveis de gols. Entre outras façanhas, balançou as redes adversárias, pelo Santos, no Campeonato Paulista, em 58 oportunidades. Hoje, um time campeão não faz, inteiro, esse tanto de gols, imaginem um jogador só.
Pelé viajou com o melhor esquadrão que já vi jogar pelo mundo todo. E fez misérias. Chegou, até, a interromper uma guerra civil na África, atraindo os dois lados em conflito para o estádio em que o Santos iria jogar, sem armas nas mãos. E, claro, deu show. Sempre dava. E seu time, afinado como uma orquestra, da qual era o maestro, também. Naquele tempo, Real Madri, Benfica, Milan e vai por aí afora não eram páreo para o timão da Vila.
Havia outros jovens na seleção de 1962, como Amarildo, Coutinho, Mengálvio e Jair da Costa. É verdade que em princípio não eram titulares. Mas se escalados, dariam conta do recado com um pé nas costas. Para o jogo de estréia, por exemplo, o time-base tinha apenas três alterações em relação a 1958: Djalma Santos ocupava a vaga que antes fora de De Sordi (que nem foi convocado), Mauro substituiu Bellini, que passou a ser seu reserva e Zózimo entrou no lugar de Orlando. No mais, nenhuma mudança.
O treinador era Aimoré Moreira, irmão do técnico da Copa de 1954, Zezé Moreira. Era uma figura! Conheci-o no Moisés Lucarelli, em 1977, naquele controvertido jogo do “apagão”, da Ponte Preta contra o Botafogo de Ribeirão Preto. A Macaca campineira teria que vencer o time riberopretano para ir à final do Campeonato Paulista, contra o Corinthians.
Todavia, numa noite sumamente infeliz, meu clube do coração estava perdendo por 3 a 1. Foi quando, subitamente, houve pane nos refletores do Majestoso. E a luz não voltou mais. Como a partida não chegara, sequer, à metade, a Federação Paulista marcou uma outra para dois dias depois. Aí a Ponte fez direitinho a lição de casa e mostrou porque era o melhor time do Estado naquela ocasião. Sapecou um 3 a 1 no adversário, com Sócrates e tudo, para acabar com a graça do tricolor de Ribeirão Preto e se classificar para a final.
Aimoré, nessa ocasião, era o técnico do Botafogo, mas estava suspenso. Assistiu o jogo nas sociais do Majestoso, bem do meu lado. E trocamos, naquela oportunidade, algumas palavras ásperas e impublicáveis. Ele dizia que o apagão era proposital, “uma vergonha”, que era uma armação, uma grande mutreta, uma imensa marmelada. E eu, de cabeça quente, mandei-o para aquele lugar, dizendo que ele era um irresponsável que fazia acusações sem provas. Trocamos, ainda, mais meia dúzia de palavrões, até que a turma do “deixa disso” interviesse.
Mas, passados 33 anos, querem saber minha verdadeira opinião? Claro que houve mutreta, uma baita sacanagem, pois naquela fatídica noite, a Ponte poderia jogar dez horas seguidas que, mesmo sendo mais time, não venceria de forma alguma. Pois é, vejam o meu atrevimento: briguei com o técnico que quinze anos antes fora campeão do mundo no Chile!
Mas Aimoré trabalhou direitinho na Seleção em 1962. Pelo menos, não inventou. E teve o azar de perder Pelé, justo quem, com distensão muscular, logo no segundo jogo, naquele melancólico 0 a 0 contra a Checoslováquia. Seu substituto, Amarildo, sem 1% sequer da genialidade do rei do futebol, deu conta do recado. E, sobretudo, o treinador contou com um Garrincha endiabrado, que fez gol até de falta, que não era a sua especialidade, e liderou o Brasil na arrancada para o bi-campeonato.
A base daquela seleção foi calcada em dois times: Santos e Botafogo, os melhores do País na ocasião. O esquadrão da Vila Belmiro forneceu sete jogadores: Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O clube da estrela solitária, por seu turno, teve cinco selecionados: Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo e Zagallo (que havia se transferido da Gávea para General Severiano). E, mais uma vez, foram convocados onze atletas que atuavam em São Paulo e onze que eram de clubes do Rio, para ninguém brigar. E para a nossa sorte, não brigou.
Pedro J. Bondaczuk
A Seleção Brasileira de 1962, ao contrário do que se apregoa até hoje, não era um grupo “envelhecido”, mesmo mantendo a base titular de 1958. Aliou, isto sim, experiência à juventude, em uma mescla que acabou dando certo. Poderia não ter dado.
Alguém ousaria, por exemplo, dizer que Pelé, no esplendor dos seus 21 anos, no auge da forma física e técnica, era “velho”? Experiente sim, e muito. Além de haver conquistado a Copa na Suécia, naquele mesmo ano bateu todos os recordes possíveis e imagináveis de gols. Entre outras façanhas, balançou as redes adversárias, pelo Santos, no Campeonato Paulista, em 58 oportunidades. Hoje, um time campeão não faz, inteiro, esse tanto de gols, imaginem um jogador só.
Pelé viajou com o melhor esquadrão que já vi jogar pelo mundo todo. E fez misérias. Chegou, até, a interromper uma guerra civil na África, atraindo os dois lados em conflito para o estádio em que o Santos iria jogar, sem armas nas mãos. E, claro, deu show. Sempre dava. E seu time, afinado como uma orquestra, da qual era o maestro, também. Naquele tempo, Real Madri, Benfica, Milan e vai por aí afora não eram páreo para o timão da Vila.
Havia outros jovens na seleção de 1962, como Amarildo, Coutinho, Mengálvio e Jair da Costa. É verdade que em princípio não eram titulares. Mas se escalados, dariam conta do recado com um pé nas costas. Para o jogo de estréia, por exemplo, o time-base tinha apenas três alterações em relação a 1958: Djalma Santos ocupava a vaga que antes fora de De Sordi (que nem foi convocado), Mauro substituiu Bellini, que passou a ser seu reserva e Zózimo entrou no lugar de Orlando. No mais, nenhuma mudança.
O treinador era Aimoré Moreira, irmão do técnico da Copa de 1954, Zezé Moreira. Era uma figura! Conheci-o no Moisés Lucarelli, em 1977, naquele controvertido jogo do “apagão”, da Ponte Preta contra o Botafogo de Ribeirão Preto. A Macaca campineira teria que vencer o time riberopretano para ir à final do Campeonato Paulista, contra o Corinthians.
Todavia, numa noite sumamente infeliz, meu clube do coração estava perdendo por 3 a 1. Foi quando, subitamente, houve pane nos refletores do Majestoso. E a luz não voltou mais. Como a partida não chegara, sequer, à metade, a Federação Paulista marcou uma outra para dois dias depois. Aí a Ponte fez direitinho a lição de casa e mostrou porque era o melhor time do Estado naquela ocasião. Sapecou um 3 a 1 no adversário, com Sócrates e tudo, para acabar com a graça do tricolor de Ribeirão Preto e se classificar para a final.
Aimoré, nessa ocasião, era o técnico do Botafogo, mas estava suspenso. Assistiu o jogo nas sociais do Majestoso, bem do meu lado. E trocamos, naquela oportunidade, algumas palavras ásperas e impublicáveis. Ele dizia que o apagão era proposital, “uma vergonha”, que era uma armação, uma grande mutreta, uma imensa marmelada. E eu, de cabeça quente, mandei-o para aquele lugar, dizendo que ele era um irresponsável que fazia acusações sem provas. Trocamos, ainda, mais meia dúzia de palavrões, até que a turma do “deixa disso” interviesse.
Mas, passados 33 anos, querem saber minha verdadeira opinião? Claro que houve mutreta, uma baita sacanagem, pois naquela fatídica noite, a Ponte poderia jogar dez horas seguidas que, mesmo sendo mais time, não venceria de forma alguma. Pois é, vejam o meu atrevimento: briguei com o técnico que quinze anos antes fora campeão do mundo no Chile!
Mas Aimoré trabalhou direitinho na Seleção em 1962. Pelo menos, não inventou. E teve o azar de perder Pelé, justo quem, com distensão muscular, logo no segundo jogo, naquele melancólico 0 a 0 contra a Checoslováquia. Seu substituto, Amarildo, sem 1% sequer da genialidade do rei do futebol, deu conta do recado. E, sobretudo, o treinador contou com um Garrincha endiabrado, que fez gol até de falta, que não era a sua especialidade, e liderou o Brasil na arrancada para o bi-campeonato.
A base daquela seleção foi calcada em dois times: Santos e Botafogo, os melhores do País na ocasião. O esquadrão da Vila Belmiro forneceu sete jogadores: Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O clube da estrela solitária, por seu turno, teve cinco selecionados: Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo e Zagallo (que havia se transferido da Gávea para General Severiano). E, mais uma vez, foram convocados onze atletas que atuavam em São Paulo e onze que eram de clubes do Rio, para ninguém brigar. E para a nossa sorte, não brigou.
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