A Saúde enferma
Pedro J. Bondaczuk
O sistema de saúde pública no Brasil está muito “doente”. Padece de uma série de moléstias, entre as quais a falta de dinheiro, o subaproveitamento das escassas verbas existentes e a inexistência de uma política consistente, que priorize a prevenção, para não precisar remediar os males orgânicos dos brasileiros. Tudo isso tendo como pano de fundo trágico a corrupção e as falcatruas que se registraram durante anos no extinto Inamps, cujos autores ou ficaram impunes ou, quando presos, puderam contar com privilégios e regalias que não mereciam.
Como conseqüência, a população assiste, estarrecida, a cenas dignas de filmes de terror. Hospitais fecham quase que diariamente por todo o País por falta de recursos. Outros, desativam unidades inteiras na tentativa de sobreviver.
As instituições públicas lembram muito as descrições existentes das “casas de saúde” (ou seriam de doenças?) medievais. Centenas de pessoas espalham-se em macas, nos corredores, vítimas de uma guerra que o Brasil está perdendo: contra a miséria que assola o povo. E tudo isso ocorre numa época em que os brasileiros, empobrecidos por uma crise interminável, ditada, sobretudo, pela incompetência e pelo cinismo dos eternos “salvadores da pátria”, mais precisam de assistência médica.
É lamentável! Não se pode deixar de reiterar, pela milionésima vez, a advertência do economista escocês, Adam Smith: “Não existe país forte com povo fraco”. A situação da saúde pública é tão dramática, que o próprio ministro Jamil Haddad veio a público, em cadeia de rádio e de televisão, para apelar aos empresários que estão deixando de recolher a Cofins (antigo PIS), ou que sustentam demandas na Justiça acerca da inconstitucionalidade desse tributo, que o recolham.
O imposto é a principal (quando não única) fonte de recursos para esse importante setor cujo colapso afeta, de uma maneira ou de outra, todos, indistintamente. É imprescindível, neste período em que se fala tanto em reforma das estruturas do Estado e em modernização, que se tenha (e sobretudo se coloque em prática) uma política sanitária consistente, lógica, honesta e que não sofra solução de continuidade.
O senador Roberto Campos constatou que “o governo brasileiro tem postos de gasolina de mais e postos de saúde de menos”. E não somente isso. Possui tantas outras coisas supérfluas e perniciosas em demasia. Porém, deixa de lado as tarefas específicas de que deveria cuidar, como saúde, educação e segurança.
Por isso não se pode deixar de dar razão ao poeta, jornalista e compositor Torquato Neto, nos versos de “Marginalia II”, quando escreveu: “Eu, brasileiro, confesso/minha culpa meu pecado,/meu sonho desesperado,/meu bem guardado segredo,/minha aflição./Eu, brasileiro, confesso/minha culpa, meu degredo,/pão seco de cada dia./Tropical melancolia,/negra solidão:/aqui é o fim do mundo/ou lá./Aqui o Terceiro Mundo/pede a bênção e vai dormir,/entre cascatas, palmeiras,/araçás e bananeiras,/ao canto da juriti.//Aqui meu pânico e glória/aqui meu laço e cadeia,/conheço bem minha história,/começa na lua cheia/e termina antes do fim./Aqui é o fim do mundo/ou lá.//Minha terra tem palmeiras/onde sopra o vento forte/da fome, do medo e muito/principalmente, da morte,/o-lelê, lalá./A bomba explode lá fora,/e agora, o que vou temer?/Yes: nós temos banana/até pra dar/e vender”. Mas temos, também, talento, resistência e muita capacidade de reação. Falta, apenas, mostrar tudo isso.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de julho de 1993)
Pedro J. Bondaczuk
O sistema de saúde pública no Brasil está muito “doente”. Padece de uma série de moléstias, entre as quais a falta de dinheiro, o subaproveitamento das escassas verbas existentes e a inexistência de uma política consistente, que priorize a prevenção, para não precisar remediar os males orgânicos dos brasileiros. Tudo isso tendo como pano de fundo trágico a corrupção e as falcatruas que se registraram durante anos no extinto Inamps, cujos autores ou ficaram impunes ou, quando presos, puderam contar com privilégios e regalias que não mereciam.
Como conseqüência, a população assiste, estarrecida, a cenas dignas de filmes de terror. Hospitais fecham quase que diariamente por todo o País por falta de recursos. Outros, desativam unidades inteiras na tentativa de sobreviver.
As instituições públicas lembram muito as descrições existentes das “casas de saúde” (ou seriam de doenças?) medievais. Centenas de pessoas espalham-se em macas, nos corredores, vítimas de uma guerra que o Brasil está perdendo: contra a miséria que assola o povo. E tudo isso ocorre numa época em que os brasileiros, empobrecidos por uma crise interminável, ditada, sobretudo, pela incompetência e pelo cinismo dos eternos “salvadores da pátria”, mais precisam de assistência médica.
É lamentável! Não se pode deixar de reiterar, pela milionésima vez, a advertência do economista escocês, Adam Smith: “Não existe país forte com povo fraco”. A situação da saúde pública é tão dramática, que o próprio ministro Jamil Haddad veio a público, em cadeia de rádio e de televisão, para apelar aos empresários que estão deixando de recolher a Cofins (antigo PIS), ou que sustentam demandas na Justiça acerca da inconstitucionalidade desse tributo, que o recolham.
O imposto é a principal (quando não única) fonte de recursos para esse importante setor cujo colapso afeta, de uma maneira ou de outra, todos, indistintamente. É imprescindível, neste período em que se fala tanto em reforma das estruturas do Estado e em modernização, que se tenha (e sobretudo se coloque em prática) uma política sanitária consistente, lógica, honesta e que não sofra solução de continuidade.
O senador Roberto Campos constatou que “o governo brasileiro tem postos de gasolina de mais e postos de saúde de menos”. E não somente isso. Possui tantas outras coisas supérfluas e perniciosas em demasia. Porém, deixa de lado as tarefas específicas de que deveria cuidar, como saúde, educação e segurança.
Por isso não se pode deixar de dar razão ao poeta, jornalista e compositor Torquato Neto, nos versos de “Marginalia II”, quando escreveu: “Eu, brasileiro, confesso/minha culpa meu pecado,/meu sonho desesperado,/meu bem guardado segredo,/minha aflição./Eu, brasileiro, confesso/minha culpa, meu degredo,/pão seco de cada dia./Tropical melancolia,/negra solidão:/aqui é o fim do mundo/ou lá./Aqui o Terceiro Mundo/pede a bênção e vai dormir,/entre cascatas, palmeiras,/araçás e bananeiras,/ao canto da juriti.//Aqui meu pânico e glória/aqui meu laço e cadeia,/conheço bem minha história,/começa na lua cheia/e termina antes do fim./Aqui é o fim do mundo/ou lá.//Minha terra tem palmeiras/onde sopra o vento forte/da fome, do medo e muito/principalmente, da morte,/o-lelê, lalá./A bomba explode lá fora,/e agora, o que vou temer?/Yes: nós temos banana/até pra dar/e vender”. Mas temos, também, talento, resistência e muita capacidade de reação. Falta, apenas, mostrar tudo isso.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de julho de 1993)
No comments:
Post a Comment