Roleta russa
Pedro J. Bondaczuk
O interesse pelas eleições presidenciais de ontem, na Rússia, extrapola as fronteiras nacionais. O que os eleitores locais decidiram nas urnas é muito mais do que quem irá comandar seus destinos pelos próximos cinco anos. Está em jogo a própria estabilidade mundial. O eleito --- que vai ser, certamente, ou o atual presidente Bóris Yeltsin, ou o comunista Gennady Zyugannov --- terá em suas mãos o controle do segundo maior arsenal nuclear do mundo. E isto pesa. Mais do que uma eleição, esta é uma "roleta russa".
Vai decidir, em última instância, o ressurgimento ou não do comunismo – agora reciclado e modernizado, aproveitando a experiência do colapso da União Soviética – em uma região das mais sensíveis do mundo, com imensas reservas minerais e vegetais.
Para conservar o atual "status" da Rússia, o Ocidente aposta em um populista, que adora aparecer perante as câmeras de televisão, que se exibiu durante a campanha dançando rock, apresentando frases de efeito e prometendo o que não pode cumprir e que tem contra si a idade (65 anos contra 51 de Zyugannov), a saúde frágil (já teve três ataques cardíacos) e a suspeita de, digamos, "abusar um pouquinho" no consumo de vodca.
Yeltsin conta com o apoio do Ocidente não por ser o ideal, mas o menos ruim dos candidatos reformistas. Sua atual gestão foi desastrosa para os russos, conforme todos os dados estatísticos existentes. Daí não ser nenhuma surpresa se Zyugannov vencer, provavelmente com segundo turno. Recorde-se que nas eleições legislativas de dezembro passado, os comunistas tiveram estrondosa vitória.
E o panorama político-social da Rússia não se alterou para melhor desde então. A guerra na Chechênia continua, os salários nas empresas estatais estão atrasados em alguns casos em até 4 meses e a inflação e o desemprego seguem galopantes. A maioria dos russos vive muito pior hoje do que há cinco anos. É preciso ser pitonisa para prever uma vitória comunista nestas circunstâncias?
(Artigo publicado no Correio Popular em 6 de junho de 1996).
Pedro J. Bondaczuk
O interesse pelas eleições presidenciais de ontem, na Rússia, extrapola as fronteiras nacionais. O que os eleitores locais decidiram nas urnas é muito mais do que quem irá comandar seus destinos pelos próximos cinco anos. Está em jogo a própria estabilidade mundial. O eleito --- que vai ser, certamente, ou o atual presidente Bóris Yeltsin, ou o comunista Gennady Zyugannov --- terá em suas mãos o controle do segundo maior arsenal nuclear do mundo. E isto pesa. Mais do que uma eleição, esta é uma "roleta russa".
Vai decidir, em última instância, o ressurgimento ou não do comunismo – agora reciclado e modernizado, aproveitando a experiência do colapso da União Soviética – em uma região das mais sensíveis do mundo, com imensas reservas minerais e vegetais.
Para conservar o atual "status" da Rússia, o Ocidente aposta em um populista, que adora aparecer perante as câmeras de televisão, que se exibiu durante a campanha dançando rock, apresentando frases de efeito e prometendo o que não pode cumprir e que tem contra si a idade (65 anos contra 51 de Zyugannov), a saúde frágil (já teve três ataques cardíacos) e a suspeita de, digamos, "abusar um pouquinho" no consumo de vodca.
Yeltsin conta com o apoio do Ocidente não por ser o ideal, mas o menos ruim dos candidatos reformistas. Sua atual gestão foi desastrosa para os russos, conforme todos os dados estatísticos existentes. Daí não ser nenhuma surpresa se Zyugannov vencer, provavelmente com segundo turno. Recorde-se que nas eleições legislativas de dezembro passado, os comunistas tiveram estrondosa vitória.
E o panorama político-social da Rússia não se alterou para melhor desde então. A guerra na Chechênia continua, os salários nas empresas estatais estão atrasados em alguns casos em até 4 meses e a inflação e o desemprego seguem galopantes. A maioria dos russos vive muito pior hoje do que há cinco anos. É preciso ser pitonisa para prever uma vitória comunista nestas circunstâncias?
(Artigo publicado no Correio Popular em 6 de junho de 1996).
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