O vício da tristeza
Pedro J. Bondaczuk
Há pessoas que são “vidradas” em tristeza. Verdade, leitor, juro que não estou exagerando. Conheço algumas que nunca vi dar um único sorriso de satisfação. Sempre que as encontro, e pergunto, até por cortesia, como estão, desfiam-me interminável rosário de desgraças e insatisfações, capazes de deprimir até uma estátua de pedra, ou de bronze, quanto mais quem seja de carne e osso.
Mas temos que ter um cuidado enorme com a tristeza. Não me refiro àquela normal, que de vez em quando nos assola, quando sofremos algum fracasso, perdemos algum ente querido ou mesmo levamos um fora da namorada (a menos que tivéssemos a intenção de terminar o namoro e que ela, apenas, tenha nos facilitado a tarefa). Também não estou pensando no outro oposto, na depressão, que é uma doença e requer cuidados médicos.
Afinal, o que vem a ser tristeza? É, óbvio, o oposto, o antônimo da alegria. Até aí, tudo bem. É, por definição, aquele sentimento que expressa desânimo ou frustração em relação a algo ou alguém. Isso, todos temos em alguma ocasião em nosso cotidiano. É inevitável. Mas ninguém tem motivo permanente, constante, o tempo todo para ficar desanimado ou frustrado. Se alguém tiver... estará roubado! Cruz credo!
Mas, no mundo há gosto para tudo. Há, até, quem defenda, e mais, teça loas à tristeza e ao mau-humor. Você acha que estou exagerando? Pensa que estou brincando, querendo, apenas, fazer provocações? Não estou!
Li, por exemplo, tempos atrás, no site Terra, da internet, notícia a respeito, da agência EFE, que me deixou, no mínimo, intrigado, para não dizer boquiaberto. É a de que pessoas mal-humoradas ou tristes teriam inteligência mais afiada do que as alegres e que apostam no bom-humor.
O despacho refere-se a um estudo de um cientista australiano publicado na revista científica “Australian Science”. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Será que todos estes anos venho me utilizando de estratégia equivocada na arte de bem-viver? Será que meu esforço para conservar o bom-humor e me alegrar com as coisas boas que a vida me proporciona estão me tornando mais burro?
Não, o cara que divulgou essa pesquisa não pode estar falando sério. Até porque, meus estudos pessoais a respeito induzem-me a conclusões diametralmente opostas. “A tristeza e o mau-humor melhoram a capacidade de julgar os outros e também aumentam a memória”, é o que assegura o professor Joseph Fargas, da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sidney, na Austrália.
Pára, pára, pára! Com todo o respeito que o mestre mereça, discordo, com veemência, das suas conclusões. Ninguém precisa sofrer para ser inteligente e nem ser desagradável e chato para cultivar boa memória. Ah, se a moda pega!
É verdade que o professor Fargas concluiu, também, que o ânimo positivo facilita a criatividade, a flexibilidade e a cooperação. Ufa! Que alívio! Pensei que teria que mudar por completo meu comportamento e ver meus amigos se afastarem um a um. Com certeza, se adotasse a estratégia sugerida pelo mestre australiano, até minha amada me daria um belo pontapé nos fundilhos.
Reitero a pergunta, amável leitor, já pensou se a moda pega?! Já pensou se a maioria das pessoas, acreditando na sugestão insólita (para não dizer maluca) do professor Fargas cismar de apostar na tristeza e no mau-humor no afã de se tornar inteligente e desenvolver e preservar boa-memória? Cruz credo!
Se isso, eventualmente, acontecer, vou passar a investir todas as minhas fichas na burrice. Embora ela me incomode (na verdade, não suporto pessoas burras), o incômodo é muito, muitíssimo menor do que a permanente carranca e a perpétua cara fechada, de quem comeu e não gostou dos candidatos a gênio que eventualmente acreditarem na pesquisa do mestre australiano.
É certo que a tristeza inspirou poemas belíssimos e canções imortais de dor-de-cotovelo, notadamente da Maysa Matarazzo, Dolores Duran e Adelino Moreira. Mas a “normal”, transitória e passageira, do tipo que todos temos em algum momento da vida. Quanto à patológica... Só posso repetir o conselho dado no século XVIII por Gustave Flaubert: “Tenha cuidado com a tristeza. É um vício”.
Pedro J. Bondaczuk
Há pessoas que são “vidradas” em tristeza. Verdade, leitor, juro que não estou exagerando. Conheço algumas que nunca vi dar um único sorriso de satisfação. Sempre que as encontro, e pergunto, até por cortesia, como estão, desfiam-me interminável rosário de desgraças e insatisfações, capazes de deprimir até uma estátua de pedra, ou de bronze, quanto mais quem seja de carne e osso.
Mas temos que ter um cuidado enorme com a tristeza. Não me refiro àquela normal, que de vez em quando nos assola, quando sofremos algum fracasso, perdemos algum ente querido ou mesmo levamos um fora da namorada (a menos que tivéssemos a intenção de terminar o namoro e que ela, apenas, tenha nos facilitado a tarefa). Também não estou pensando no outro oposto, na depressão, que é uma doença e requer cuidados médicos.
Afinal, o que vem a ser tristeza? É, óbvio, o oposto, o antônimo da alegria. Até aí, tudo bem. É, por definição, aquele sentimento que expressa desânimo ou frustração em relação a algo ou alguém. Isso, todos temos em alguma ocasião em nosso cotidiano. É inevitável. Mas ninguém tem motivo permanente, constante, o tempo todo para ficar desanimado ou frustrado. Se alguém tiver... estará roubado! Cruz credo!
Mas, no mundo há gosto para tudo. Há, até, quem defenda, e mais, teça loas à tristeza e ao mau-humor. Você acha que estou exagerando? Pensa que estou brincando, querendo, apenas, fazer provocações? Não estou!
Li, por exemplo, tempos atrás, no site Terra, da internet, notícia a respeito, da agência EFE, que me deixou, no mínimo, intrigado, para não dizer boquiaberto. É a de que pessoas mal-humoradas ou tristes teriam inteligência mais afiada do que as alegres e que apostam no bom-humor.
O despacho refere-se a um estudo de um cientista australiano publicado na revista científica “Australian Science”. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Será que todos estes anos venho me utilizando de estratégia equivocada na arte de bem-viver? Será que meu esforço para conservar o bom-humor e me alegrar com as coisas boas que a vida me proporciona estão me tornando mais burro?
Não, o cara que divulgou essa pesquisa não pode estar falando sério. Até porque, meus estudos pessoais a respeito induzem-me a conclusões diametralmente opostas. “A tristeza e o mau-humor melhoram a capacidade de julgar os outros e também aumentam a memória”, é o que assegura o professor Joseph Fargas, da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sidney, na Austrália.
Pára, pára, pára! Com todo o respeito que o mestre mereça, discordo, com veemência, das suas conclusões. Ninguém precisa sofrer para ser inteligente e nem ser desagradável e chato para cultivar boa memória. Ah, se a moda pega!
É verdade que o professor Fargas concluiu, também, que o ânimo positivo facilita a criatividade, a flexibilidade e a cooperação. Ufa! Que alívio! Pensei que teria que mudar por completo meu comportamento e ver meus amigos se afastarem um a um. Com certeza, se adotasse a estratégia sugerida pelo mestre australiano, até minha amada me daria um belo pontapé nos fundilhos.
Reitero a pergunta, amável leitor, já pensou se a moda pega?! Já pensou se a maioria das pessoas, acreditando na sugestão insólita (para não dizer maluca) do professor Fargas cismar de apostar na tristeza e no mau-humor no afã de se tornar inteligente e desenvolver e preservar boa-memória? Cruz credo!
Se isso, eventualmente, acontecer, vou passar a investir todas as minhas fichas na burrice. Embora ela me incomode (na verdade, não suporto pessoas burras), o incômodo é muito, muitíssimo menor do que a permanente carranca e a perpétua cara fechada, de quem comeu e não gostou dos candidatos a gênio que eventualmente acreditarem na pesquisa do mestre australiano.
É certo que a tristeza inspirou poemas belíssimos e canções imortais de dor-de-cotovelo, notadamente da Maysa Matarazzo, Dolores Duran e Adelino Moreira. Mas a “normal”, transitória e passageira, do tipo que todos temos em algum momento da vida. Quanto à patológica... Só posso repetir o conselho dado no século XVIII por Gustave Flaubert: “Tenha cuidado com a tristeza. É um vício”.
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