Aprendizado pela dor
Pedro J. Bondaczuk
A semana que passou foi dramática e dolorosa, na seqüência de um início de ano igualmente marcado pela tragédia, dando continuidade, aliás, a um final de 2009 também trágico. Os últimos sete dias foram prato cheio para os místicos e os mistificadores, porquanto ocorreu, na sexta-feira passada, dia 15 de janeiro, um fenômeno naturalíssimo, mas que desde os primórdios da civilização sempre foi cercado de superstições e maus augúrios: um eclipse total do sol.
Desta vez não pudemos presenciá-lo. Pôde ser visto, em sua plenitude, na Ásia. No momento em que ocorreu, portanto, por aqui era noite. Um eclipse como esse voltará a se repetir, apenas, daqui a 1.033 anos, ou seja, em 3043.
Haverá seres humanos para testemunhá-lo? Não sei! Se as coisas continuarem caminhando como estão, certamente que não. Ninguém, contudo, pode dar esse tipo de garantia, a não ser na base do mero chute.
Claro que não falta mistificador para do alto da sua arrogância (ou malandragem, ou loucura, sabe-se lá), dar nosso desaparecimento como favas contadas. Outros, do mesmo jaez, “asseguram” o contrário e profetizam paraísos e imortalidade, como se isso lhes tivesse sido revelado diretamente pelo Criador do universo. Claro que não foi! Uns e outros não têm é o que fazer.
Mas a ocorrência mais dramática e chocante da semana não foi, evidentemente, o eclipse, ademais pouco noticiado. A maioria dos jornais e canais de televisão sequer citou, mesmo que de passagem, esse fato. Claro, quem se omitiu foi a mídia do Ocidente. A asiática deu ampla cobertura ao fenômeno que, reitero, é naturalíssimo.
O fato que nos assustou, confrangeu e abalou foi o severo terremoto no país mais pobre das Américas e entre os três líderes do vergonhoso (para nós, que nos omitimos de cobrar providências de quem de direito) ranking mundial da miséria: o Haiti, que aconteceu na terça-feira, 12 de janeiro.
Faz-se desnecessário repetir as estimativas de mortos e feridos, os gravíssimos prejuízos materiais e outros tantos aspectos deprimentes e tristes que cercam o infausto acontecimento. Fazê-lo seria redundância, já que os meios de comunicação vêm abordando o desastre “ad náusea”, uns com objetividade e sobriedade, outros com sensacionalismo, transformando a notícia, mesmo tão trágica e infausta, num mero show. Show de horror, é claro, quando não de humor negro.
No jornalismo há, sim, profissionais sensíveis, humanos e responsáveis. Mas há, também, os oportunistas, os que só se satisfazem com sangue, muito sangue, como chacais ou hienas à cata de cadáveres para se alimentar. Afinal, essa não é uma profissão em que todos que a exerçam sejam santos. Nenhuma é, mesmo a do sacerdócio das várias religiões que existem mundo afora. A eventual santidade (se é que ela exista neste animal perverso e predador), não é prerrogativa profissional. É questão de caráter, de formação e de personalidade.
Os jornalistas realmente sensíveis e responsáveis dão (assim como os que não são) as informações de forma nua e crua, sem esconder nada. Mas não carregam nas tintas. Nem precisam carregar. Fazem da notícia algo útil e necessário (diria indispensável), destacando, por exemplo, as necessidades das pessoas atingidas pelas várias tragédias noticiadas e cobrando providências de quem de direito. Emocionam-se, e muito, com o que vêem e essa emoção, por mais que tentem não demonstrar, salta aos olhos.
Um exemplo de como um jornalista consciente e íntegro se sente face à tragédia é o pungente e humano depoimento da jovem repórter Letícia Nascimento (que publiquei, no dia 17 de janeiro no espaço Literário, revista eletrônica que edito) a propósito das enchentes que praticamente arrasaram São Luiz do Paraitinga, cidade natal de um dos mais ilustres e extraordinários brasileiros, o sanitarista Oswaldo Cruz. .
Jornalismo como este, que sem abrir mão da objetividade e isenção, respeita os personagens da notícia e faz de tudo para ajudá-los, é o que aqueles que amam a profissão têm que fazer. E não como exceção, na cobertura de uma ou outra tragédia mais chocante (como a do terremoto do Haiti, a dos deslizamentos em Angra dos Reis, a da enchente em São Luiz do Paraitinga, a da queda da ponte no Rio Grande do Sul e vai por aí afora), mas como regra, áurea e pétrea, ou seja, imutável.
Aprendemos muito mais lições sobre nós mesmos e sobre os outros, ou seja, sobre a natureza humana e os sentimentos desse animal que pensa, fala e ri, na tragédia e na dor, do que na alegria e no gozo. Pense nisso. E ajude, da forma como puder, as vítimas do Haiti, de Angra dos Reis, de São Luiz do Paraitinga, do Rio Grande do Sul etc. à sua escolha, embora o ideal seria que ajudasse, mesmo que com o mínimo, a todas elas, simultaneamente.
Pedro J. Bondaczuk
A semana que passou foi dramática e dolorosa, na seqüência de um início de ano igualmente marcado pela tragédia, dando continuidade, aliás, a um final de 2009 também trágico. Os últimos sete dias foram prato cheio para os místicos e os mistificadores, porquanto ocorreu, na sexta-feira passada, dia 15 de janeiro, um fenômeno naturalíssimo, mas que desde os primórdios da civilização sempre foi cercado de superstições e maus augúrios: um eclipse total do sol.
Desta vez não pudemos presenciá-lo. Pôde ser visto, em sua plenitude, na Ásia. No momento em que ocorreu, portanto, por aqui era noite. Um eclipse como esse voltará a se repetir, apenas, daqui a 1.033 anos, ou seja, em 3043.
Haverá seres humanos para testemunhá-lo? Não sei! Se as coisas continuarem caminhando como estão, certamente que não. Ninguém, contudo, pode dar esse tipo de garantia, a não ser na base do mero chute.
Claro que não falta mistificador para do alto da sua arrogância (ou malandragem, ou loucura, sabe-se lá), dar nosso desaparecimento como favas contadas. Outros, do mesmo jaez, “asseguram” o contrário e profetizam paraísos e imortalidade, como se isso lhes tivesse sido revelado diretamente pelo Criador do universo. Claro que não foi! Uns e outros não têm é o que fazer.
Mas a ocorrência mais dramática e chocante da semana não foi, evidentemente, o eclipse, ademais pouco noticiado. A maioria dos jornais e canais de televisão sequer citou, mesmo que de passagem, esse fato. Claro, quem se omitiu foi a mídia do Ocidente. A asiática deu ampla cobertura ao fenômeno que, reitero, é naturalíssimo.
O fato que nos assustou, confrangeu e abalou foi o severo terremoto no país mais pobre das Américas e entre os três líderes do vergonhoso (para nós, que nos omitimos de cobrar providências de quem de direito) ranking mundial da miséria: o Haiti, que aconteceu na terça-feira, 12 de janeiro.
Faz-se desnecessário repetir as estimativas de mortos e feridos, os gravíssimos prejuízos materiais e outros tantos aspectos deprimentes e tristes que cercam o infausto acontecimento. Fazê-lo seria redundância, já que os meios de comunicação vêm abordando o desastre “ad náusea”, uns com objetividade e sobriedade, outros com sensacionalismo, transformando a notícia, mesmo tão trágica e infausta, num mero show. Show de horror, é claro, quando não de humor negro.
No jornalismo há, sim, profissionais sensíveis, humanos e responsáveis. Mas há, também, os oportunistas, os que só se satisfazem com sangue, muito sangue, como chacais ou hienas à cata de cadáveres para se alimentar. Afinal, essa não é uma profissão em que todos que a exerçam sejam santos. Nenhuma é, mesmo a do sacerdócio das várias religiões que existem mundo afora. A eventual santidade (se é que ela exista neste animal perverso e predador), não é prerrogativa profissional. É questão de caráter, de formação e de personalidade.
Os jornalistas realmente sensíveis e responsáveis dão (assim como os que não são) as informações de forma nua e crua, sem esconder nada. Mas não carregam nas tintas. Nem precisam carregar. Fazem da notícia algo útil e necessário (diria indispensável), destacando, por exemplo, as necessidades das pessoas atingidas pelas várias tragédias noticiadas e cobrando providências de quem de direito. Emocionam-se, e muito, com o que vêem e essa emoção, por mais que tentem não demonstrar, salta aos olhos.
Um exemplo de como um jornalista consciente e íntegro se sente face à tragédia é o pungente e humano depoimento da jovem repórter Letícia Nascimento (que publiquei, no dia 17 de janeiro no espaço Literário, revista eletrônica que edito) a propósito das enchentes que praticamente arrasaram São Luiz do Paraitinga, cidade natal de um dos mais ilustres e extraordinários brasileiros, o sanitarista Oswaldo Cruz. .
Jornalismo como este, que sem abrir mão da objetividade e isenção, respeita os personagens da notícia e faz de tudo para ajudá-los, é o que aqueles que amam a profissão têm que fazer. E não como exceção, na cobertura de uma ou outra tragédia mais chocante (como a do terremoto do Haiti, a dos deslizamentos em Angra dos Reis, a da enchente em São Luiz do Paraitinga, a da queda da ponte no Rio Grande do Sul e vai por aí afora), mas como regra, áurea e pétrea, ou seja, imutável.
Aprendemos muito mais lições sobre nós mesmos e sobre os outros, ou seja, sobre a natureza humana e os sentimentos desse animal que pensa, fala e ri, na tragédia e na dor, do que na alegria e no gozo. Pense nisso. E ajude, da forma como puder, as vítimas do Haiti, de Angra dos Reis, de São Luiz do Paraitinga, do Rio Grande do Sul etc. à sua escolha, embora o ideal seria que ajudasse, mesmo que com o mínimo, a todas elas, simultaneamente.
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