Sunday, January 10, 2010




Equívoco dos comentaristas

Pedro J. Bondaczuk


A tarefa do analista político, principalmente quando ele tem a incumbência de analisar diariamente os fatos mais dramáticos da arena internacional, é das mais ingratas. Nesse seu exercício, faz extrapolações, contando com os dados que dispõe naquele momento.

Passado algum tempo, se deixou de levar algum fator em consideração, ou se não teve sensibilidade ao avaliar determinado líder ou circunstância, ou se ainda não contou com uma boa intuição, pode perceber, surpreso e amargurado, que cometeu um equívoco.

Foi o que aconteceu com a maioria dos comentaristas em relação ao líder da Romênia, Nicolae Ceausescu. Durante muito tempo, principalmente depois do fim da Primavera de Praga, com a entrada dos tanques soviéticos na capital checa para pôr fim ao processo liberalizante encabeçado por Alexander Dubcek, esse dirigente foi tido e havido como um “campeão da democracia”.

Por causa de algumas bravatas que disse em relação a Moscou, muitos interpretaram seu procedimento como sendo o de um liberal. De um homem realista, disposto a qualquer momento a abrir mão de sua ideologia marxista e cair nos braços do Ocidente.

Passados 21 anos, os ocidentais percebem., com clareza, o quanto estavam enganados a seu respeito. Ceausescu não passa de “um lobo em pele de cordeiro”.

Com a renúncia, em outubro passado, de Erich Honecker, na Alemanha Oriental e ontem, de Todor Zhivkov, na Bulgária, esse dirigente, que ainda incentiva o culto à personalidade (à sua, é claro!), se tornou a nota dissonante no Leste europeu, engolfado pelas mudanças deflagradas inicialmente por Mikhail Gorbachev, na União Soviética e que em pouco tempo tomaram de assalto, como que numa avalanche, outros Estados do Leste.

Até aqui, ele nunca quis ouvir nem falar em “glasnost” e “Perestroika”, que tem exorcizado, como o máximo dos malefícios. E isso ocorre não porque a Romênia não precise de reformas. Hoje esse país é um dos mais atrasados do não tão evoluído bloco da Europa Oriental.

Descontentamentos existem e em profusão. Mas basta que se manifestem, e lá está a brutal polícia política do truculento ditador para reprimir qualquer ato de rebeldia. Hoje, certamente muitos dos analistas que classificaram o líder da Romênia como um “democrata” (ou quase), devem estar aborrecidos com o erro de avaliação. Mas a sociedade romena, mais cedo ou mais tarde, terá que trilhar este caminho e quanto mais tempo isso durar, mais penoso haverá de ser tal processo, que poderia ter sido encurtado se o ditatorial dirigente houvesse sofrido as adequadas pressões no momento oportuno.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 11 de novembro de 1989).

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