Pedro J. Bondaczuk
A Europa, berço da civilização ocidental, que irradiou sua cultura e seu modo de vida pelos quatro cantos do mundo, tem sido, pelo menos nos últimos mil anos (para se restringir a um período histórico não tão amplo), um gigantesco campo de batalhas. Guerras medonhas foram travadas em seu território, matando milhões e milhões de pessoas.
Suas cidades mais antigas já sofreram inúmeras destruições e posteriores reconstruções. Pode-se dizer que a trajetória histórica do continente foi marcada, desde que se tem registro, por ódios, rancores, ambições desmedidas, agressões e retaliações.
As guerras ali sempre se constituíram em rotina e a paz acabou por se constituir numa excepcionalidade, quando o senso mais comum de lógica diz que deveria ser exatamente o contrário. Agora, os europeus, do Atlântico aos Urais, do Ártico ao Mediterrâneo, mobilizam-se para finalmente discutir um sistema de segurança que elimine os conflitos no seu nascedouro.
É evidente que a tarefa não é obra para apenas uma geração, tamanha é a quantidade de problemas, visíveis ou invisíveis, detectados ou a detectar, sociais, econômicos e comportamentais que requerem solução. E o enfoque não pode ser somente o de segurança militar.
O grande pressuposto para a paz, não apenas na região, mas no mundo, é o estreitamento – já que a abolição raia à mais delirante das utopias – ao máximo possível o fosso que divide a parte rica do Planeta, uma incipiente minoria, da pobre, maioria esmagadora.
Essa diferença, à mais apressada análise, revela-se ser a causa básica de todas as divergências já surgidas no correr do que se convencionou chamar de civilização, que acabam derivando invariavelmente para a violência das guerras que, por sua vez, tendem a acentuar ainda mais a distância entre os dois grupos, provocando novas conflagrações, num círculo vicioso jamais rompido por qualquer povo em qualquer período.
Na Europa, essa discrepância entre riqueza e miséria é muito grande, não somente entre Estados, mas entre categorias sociais dentro de um mesmo país. Embora os homens precisem uns dos outros para sobreviver, a vida individual é a que conta. Ninguém está disposto, pelo menos conscientemente --- embora pela educação as pessoas sejam condicionadas a isso --- a receber um papel fixo assim que nasce, que não leve em conta suas ambições pessoais.
Todo indivíduo saudável e razoavelmente inteligente sonha com notoriedade, conforto e sobretudo poder. O operário de uma fábrica, por exemplo, embora nem sempre revele isso ou sequer saiba como expressar tal vontade, tem como objetivo ser o chefe. O executivo de uma empresa luta por conquistar a presidência. E vai por aí afora. Todos, de uma maneira ou de outra, aspiram chegar ao topo das atividades que escolheram ou que lhes foram impostos por condicionamentos.
Quando tais aspirações se tornam absolutamente impossíveis de serem atingidas, numa determinada sociedade, as pessoas mais ativas procuram outra, onde julguem ter maiores oportunidades. Daí o fenômeno das emigrações e migrações contínuas. Os povos da parte pobre da Europa deslocam-se maciçamente agora para o lado rico, como foi o caso dos alemães orientais, em 1989, cujo êxodo determinou a queda do regime comunista e a reunificação do país.
Ou como ocorre agora na Albânia e no restante do Leste europeu. Ou como se verifica no Terceiro Mundo, inclusive no Brasil, que já tem uma quantidade considerável de cidadãos vivendo nos Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental. Tal movimentação de pessoas, desde que essa gente toda não possa ser absorvida pelos países para onde migra, é uma bomba-relógio de conflitos, tendentes a derivar em guerras.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 21 de junho de 1991).
A Europa, berço da civilização ocidental, que irradiou sua cultura e seu modo de vida pelos quatro cantos do mundo, tem sido, pelo menos nos últimos mil anos (para se restringir a um período histórico não tão amplo), um gigantesco campo de batalhas. Guerras medonhas foram travadas em seu território, matando milhões e milhões de pessoas.
Suas cidades mais antigas já sofreram inúmeras destruições e posteriores reconstruções. Pode-se dizer que a trajetória histórica do continente foi marcada, desde que se tem registro, por ódios, rancores, ambições desmedidas, agressões e retaliações.
As guerras ali sempre se constituíram em rotina e a paz acabou por se constituir numa excepcionalidade, quando o senso mais comum de lógica diz que deveria ser exatamente o contrário. Agora, os europeus, do Atlântico aos Urais, do Ártico ao Mediterrâneo, mobilizam-se para finalmente discutir um sistema de segurança que elimine os conflitos no seu nascedouro.
É evidente que a tarefa não é obra para apenas uma geração, tamanha é a quantidade de problemas, visíveis ou invisíveis, detectados ou a detectar, sociais, econômicos e comportamentais que requerem solução. E o enfoque não pode ser somente o de segurança militar.
O grande pressuposto para a paz, não apenas na região, mas no mundo, é o estreitamento – já que a abolição raia à mais delirante das utopias – ao máximo possível o fosso que divide a parte rica do Planeta, uma incipiente minoria, da pobre, maioria esmagadora.
Essa diferença, à mais apressada análise, revela-se ser a causa básica de todas as divergências já surgidas no correr do que se convencionou chamar de civilização, que acabam derivando invariavelmente para a violência das guerras que, por sua vez, tendem a acentuar ainda mais a distância entre os dois grupos, provocando novas conflagrações, num círculo vicioso jamais rompido por qualquer povo em qualquer período.
Na Europa, essa discrepância entre riqueza e miséria é muito grande, não somente entre Estados, mas entre categorias sociais dentro de um mesmo país. Embora os homens precisem uns dos outros para sobreviver, a vida individual é a que conta. Ninguém está disposto, pelo menos conscientemente --- embora pela educação as pessoas sejam condicionadas a isso --- a receber um papel fixo assim que nasce, que não leve em conta suas ambições pessoais.
Todo indivíduo saudável e razoavelmente inteligente sonha com notoriedade, conforto e sobretudo poder. O operário de uma fábrica, por exemplo, embora nem sempre revele isso ou sequer saiba como expressar tal vontade, tem como objetivo ser o chefe. O executivo de uma empresa luta por conquistar a presidência. E vai por aí afora. Todos, de uma maneira ou de outra, aspiram chegar ao topo das atividades que escolheram ou que lhes foram impostos por condicionamentos.
Quando tais aspirações se tornam absolutamente impossíveis de serem atingidas, numa determinada sociedade, as pessoas mais ativas procuram outra, onde julguem ter maiores oportunidades. Daí o fenômeno das emigrações e migrações contínuas. Os povos da parte pobre da Europa deslocam-se maciçamente agora para o lado rico, como foi o caso dos alemães orientais, em 1989, cujo êxodo determinou a queda do regime comunista e a reunificação do país.
Ou como ocorre agora na Albânia e no restante do Leste europeu. Ou como se verifica no Terceiro Mundo, inclusive no Brasil, que já tem uma quantidade considerável de cidadãos vivendo nos Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental. Tal movimentação de pessoas, desde que essa gente toda não possa ser absorvida pelos países para onde migra, é uma bomba-relógio de conflitos, tendentes a derivar em guerras.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 21 de junho de 1991).
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