Monday, July 23, 2007

Mensagem para o futuro


Pedro J. Bondaczuk


O século XXI começou repleto de incógnitas, perigos e inquietações. Traz consigo a mesma carga de problemas, taras e aberrações dos cem anos anteriores, em que a sobrevivência da humanidade, ou pelo menos desse arremedo de civilização que aí está, se constituiu em extraordinário milagre, diante dos riscos de extinção que, de uma forma ou de outra, acabaram sendo contornados.

O que o futuro nos reserva? Obviamente, aquilo que soubermos construir, com nossos esforços e capacidades! Muita coisa, no entanto, precisa mudar, quer política, quer moral, quer comportalmente, para que o homem não somente consiga sobreviver, e evitar o colapso do Planeta, mas construir uma sociedade que realmente valha a pena, sem as hediondas aberrações de hoje. É desnecessário enfatizar a necessidade, por exemplo, da humanidade banir as guerras, sejam quais forem os motivos ou os meios empregados, e ser mais justa e racional na partilha do patrimônio comum, que são os esgotáveis recursos da Terra, já à beira da exaustão.

Outro ponto óbvio, em que todos precisam se concentrar e agir, é a preservação do meio ambiente. É urgente, e vital, que se detenha a acelerada e criminosa depredação da natureza, acabando com a poluição das fontes de água potável, tratando adequadamente do solo para que continue fértil e produtivo, para alimentar as possíveis (e prováveis) 17 bilhões de bocas que existirão até o final do século XXI. E conservando ao máximo a pureza do ar. E limpando os mares (hoje imensos esgotos putrefatos a céu aberto), sob pena do homem desaparecer. Em termos de justiça social, por outro lado, que hoje não passa de mentiroso e pomposo conceito, inexistente em qualquer lugar, é indispensável a absoluta erradicação da miséria, bomba de tempo armada, de frustrações e de ira, capaz de levar tudo pelos ares, de uma hora para a outra, numa explosão incontrolável de ódio e de destruição.

É certo que a humanidade (a parte privilegiada dela, com acesso ao estudo, aos bens materiais e à informação), desenvolveu, miraculosamente, maravilhas tecnológicas, tornando a vida mais fácil e racional, logicamente para a minoria privilegiada que tem acesso a elas. Contudo, como já advertia François Rabelais, no século XVI, "a ciência sem a consciência é uma calamidade para a alma". E como é! Implica em mais riscos e problemas do que em soluções.

Qualquer previsão, para 31 de dezembro de 2100, no entanto, é um magnífico exercício de inutilidade, vazia ficção, mera fantasia, tantas e tamanhas são as possibilidades, positivas e negativas, que se desenham no horizonte. Pelos padrões de comportamento atuais, não há como encarar os próximos cem anos com um mínimo de otimismo, diante dos riscos reais de potenciais e iminentes catástrofes (naturais ou provocadas pelo homem) que, para complicar, sequer são percebidos pelos atuais detentores do poder.

Esta crônica singela, portanto, não se destina a você, leitor deste século XXI. Pretende ser como aquelas mensagens escritas por pessoas românticas e sonhadoras, colocadas em uma garrafa e lançadas ao mar. Lá um belo dia, alguém, a quem com certeza não estavam destinadas, as recebe e traça em torno delas todo um itinerário de fantasias e elucubrações. Ou simplesmente as ignora. E devolve a "garrafa" ao mar.

Supondo que não se perca no tempo e no espaço, e que haja, é claro, ainda um Planeta habitado, chamado Terra, e um país denominado Brasil, e uma cidade conhecida como Campinas, este texto, estranho e inusual, considerado até meio tolo e infantil pelos contemporâneos, pode ser, para algum possível estudioso de 2101, historiador, sociólogo, etólogo (que estuda a ciência do comportamento) ou até mesmo literato, precioso documento, dando conta do que pensava, e como agia, o selvagem e hipócrita homem comum, de inteligência mediana e de incipiente cultura, de fins do século XX e início do XXI.

Pode ser, no entanto, que contrariando todas as nossas catastróficas expectativas, a Terra volte a ser o edênico "Paraíso" do "princípio dos tempos". E que o ser humano tenha mudado seus procedimentos insensatos e suicidas e amadurecido enfim. Pois, como garante Jean-Paul Sartre, não sem uma dose de sabedoria e razão, o homem ainda "é um projeto inacabado". Quem sabe, então, não estará aperfeiçoado, física, mental, ética e moralmente! Tomara! Mas também pode retroagir à absoluta barbárie, à lei das selvas, a do "salve-se quem puder", com a prevalência, como hoje, dos instintos (dos mais fortes) sobre a razão, só que sem os disfarces pseudocivilizados de hoje. A você, leitor do século XXII, que ainda sequer nasceu, minhas saudações de além-túmulo! Feliz ano de 2101! E perdão por não ter sido mais corajoso, sábio, controlado, determinado e competente para lhe deixar, por herança, um mundo muito melhor e mais saudável do que este inferno que a minha geração lhe deixa!! Perdoe-me, se puder...

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