Wednesday, July 25, 2007

Medo das mudanças


Pedro J. Bondaczuk


As mudanças, quaisquer que sejam, assustam boa parte das pessoas que não se dão conta que elas representam a dinâmica da própria vida. Tudo muda permanentemente no universo, que não é estático, mas se move sem parar. Galáxias, constelações, estrelas, planetas e outros corpos celestes estão em contínuo movimento e constante transformação. É o que os filósofos chamam de "moto perpétuo". O mesmo vale para o âmago da matéria: os átomos e seus componentes. E o dos seres vivos: as células e as substâncias que as constituem. Mudar, portanto, significa, acima de tudo, viver.

Há mudanças e mudanças, é verdade. Consideramos que são bem-vindas quando representam a saída de alguma situação angustiante e penosa em que estejamos envolvidos ou a que nos submeteram. Quando ocorre o contrário, ou seja, quando significam que entramos em alguma enrascada, são uma tragédia. O perigo estimula alguns, mas apavora a maioria. Por isso, nosso empenho deve ser o de interferirmos nas mudanças. De sermos, senão seus arquitetos, pelo menos seus participantes. Para isso, são necessárias competência e disciplina, entre outras coisas.

A escritora norte-americana Rosabeth Moss Kanter define bem esse processo ao constatar: "A mudança é debilitante quando feita para nós, mas animadora quando feita por nós". Daí sua simples necessidade dever nos servir de estímulo e desafio, não de fonte de medo e de preocupação. É possível e necessário fazermos uma contínua revisão de conceitos e comportamentos, para que possamos aferir se, por preguiça, comodismo ou mediocridade, não estamos na contramão social. Se a resposta for positiva, não devemos ter dúvidas: temos que mudar, incontinenti. Preservar somente aqueles valores básicos do ser humano, testados e comprovados pelo tempo, e que são a base da civilização. Há coisas, sem dúvida, que são (ou pelo menos devem ser) imutáveis, como o amor, a amizade, a solidariedade, o respeito etc. O mais...

Há os que se preocupam em demasia com as mudanças físicas. Claro que por uma questão de auto-respeito e de saúde, devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para retardar (já que é impossível deter) o envelhecimento. Mas não se deve fazer disso a única preocupação e sequer a maior delas. É preciso definirmos prioridades e estarmos conscientes da nossa transitoriedade. Ninguém é imortal. O poeta Luiz Vaz de Camões deu a receita, em um poema constante do seu livro "Rimas", publicado pela primeira vez em 1569, que diz: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades./Muda-se o ser, muda-se a confiança;/todo o mundo é composto de mudança,/tomando sempre novas qualidades".

Vocês já imaginaram se tudo fosse sempre absolutamente igual, absolutamente imutável, absolutamente estático? Se permanecêssemos sempre crianças, por exemplo? Alguns, certamente, lembrando-se dos sofrimentos recentes, quando não presentes, dirão, emocionalmente, que gostariam que isso ocorresse. São os que temem a vida e por isso não a usufruem. Não têm o espírito aventureiro para afrontar a perpétua instabilidade que cerca a existência humana. São os que aceitam passivamente que outros comandem seus destinos. Temem as mudanças e acham que as podem evitar. Mas nunca podem. Daí a sua infelicidade.

A certeza de estar fazendo o melhor possível, tendo uma visão social adequada, sem egoísmos e egocentrismos, traz serenidade ao espírito, equilíbrio às emoções, alegria à alma. Com ou sem sofrimento. Com ou sem segurança. Com ou sem medo. André Maurois reproduz, no livro "Vozes da França", a seguinte constatação de Henri Bergson: "Quem está seguro, absolutamente seguro de haver produzido obra viável e durável, pode-se considerar satisfeito. Sente-se acima da glória, porque é criador, porque sabe disso e porque a alegria que experimenta é uma alegria divina". Poderíamos acrescentar que um indivíduo desses não teme as mudanças. Participa delas e as induz. Vive plenamente e não tem medo de viver.

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