Tuesday, July 10, 2007

Defesa do consumidor


Pedro J. Bondaczuk


O consumidor brasileiro, a despeito da existência de códigos, leis, órgãos e associações que pretensamente atuam em sua defesa, é um dos mais desprotegidos e desrespeitados do mundo. Em geral, tem de arcar com prejuízos na aquisição de produtos e serviços de má-qualidade, pagos a peso de ouro e quando tenta reclamar, acaba transformado no vilão, no chato, no encrenqueiro.

Nem é preciso citar exemplos para fundamentar essa afirmação. Raros são os cidadãos que nunca passaram por essa situação desconfortável e, sobretudo, prejudicial. Nesta era do consumo em massa, o ser humano acaba, de fato, massificado, despersonalizado, rotulado.

Ele é o cliente, o paciente, o usuário, o aluno e vai por aí afora, e nunca o Paulo, o Antonio, o José ou a Maria. O indivíduo tem sido submetido a instituições que ele próprio criou para o servir e que findam por fazer dele o seu escravo.

É o caso dos Estados, por exemplo, que não passam de uma abstração, de um rótulo, de um conceito. O que importa neles, todavia, são as pessoas que lhes dão vida, lhes outorgam dinâmica, fazem com que funcionem.

A mania pelo estereótipo estende-se por todos os setores da existência. Seres humanos são classificados por etnias, por religião, por cor ou por convicção política e não na sua essência, naquilo que realmente têm de importante.

Tal procedimento, fruto de uma cultura profundamente arraigada nas diversas sociedades, gera preconceitos, rancores gratuitos, ódios insensatos e está na raiz de todas as guerras, revoluções e explosões de violência que marcaram a história.

Por que não encarar o homem pelo que ele é? Por que não conceder aos outros o respeito que exigimos deles? Por que nos colocarmos numa posição de todo-poderosos quando somos transitórios, passageiros, impotentes para vencer nossa insignificância e efemeridade?

Empresas, instituições, Estados, sistemas e até religiões passam e às vezes sequer deixam vestígios de sua existência ao longo da história. Ficam princípios, atos, idéias, sentimentos, desde que realmente valham a pena.

Hoje a figura da "pessoa jurídica" prepondera sobre a física. Mas, afinal, o que ela significa? A gentileza vem deixando de ser uma espontânea manifestação de respeito pelo próximo, para se transformar em mera "tática de venda". Por não se rebelar contra isso, o consumidor, que acima de tudo é um ser humano, compactua com a despersonalização e se automatiza, se robotiza, age como uma máquina programada, e não como "homo sapiens".

No comments: