Relato de um fracasso – II
Pedro J. Bondaczuk
O início da campanha brasileira, na Copa do Mundo de 1950, foi arrasador. E eu, aos meus sete anos e meio, acompanhei tudo pelo rádio. Claro que não me lembro de todos os detalhes e, para refrescar a memória, tive que recorrer aos meus arquivos para escrever estas reminiscências. Duvido que alguém conseguisse recordar de fatos tão distantes em minúcias, sem omitir e nem exagerar nada. Claro que o leitor, inteligente como é, certamente já desconfiou disso.
O Brasil estreou na Copa de 1950 num dia 25 de junho, no recém construído Maracanã, que ainda não tinha o nome atual, de Estádio Mário Filho (em homenagem a esse ilustre jornalista, irmão do não menos ilustre Nelson Rodrigues).
Tínhamos, então, uma seleção bastante ofensiva, em que o grande craque era Zizinho, do Flamengo, mas cujo homem-gol, artilheiro por excelência, o que fazia a alegria do povo era o centroavante pernambucano Ademir de Menezes, do Vasco da Gama, que tinha o apelido de Queixada.
Logo na estréia, a equipe brasileira, comandada pelo técnico Flávio Costa, massacrou o México, aplicando-lhe um convincente 4 a 0. Foi o nosso cartão de visitas, de anfitriões, aos demais participantes deste quarto Mundial, o primeiro do pós-guerra.
A molecada do bairro – e eu junto, claro – comemorou com muita algazarra essa primeira vitória. A bem da verdade, os marmanjos fizeram muito mais barulho e maior folia do que nós, meninos “mal saídos dos cueiros”, conforme os mais velhos nos diziam.
O jogo seguinte, contra a Suíça (na única partida já disputada pelo Brasil contra os suíços em 18 Copas do Mundo), ocorreu três dias depois, em 28 de junho, véspera de São Pedro, que na ocasião, junto com os dias de Santo Antonio e de São João, era feriado.
A partida foi jogada em São Paulo, num Estádio Municipal do Pacaembu (que então tinha belíssima concha acústica, onde atualmente existe o tobogã) lotado. Todos esperavam, claro, novo passeio dos brasileiros, com nova goleada, igual ou maior do que a aplicada sobre o México. Mas...
O público paulista saiu frustrado, e preocupado, desse jogo. Jogando uma partida ruim, irreconhecível mesmo, a Seleção, com o time bem modificado em relação ao da estréia, apenas empatou, por 2 a 2, com um adversário que até então não tinha nenhuma tradição futebolística (e, que a bem da verdade, nunca teve e ainda não tem nem hoje).
O jogo seguinte, seria contra a fortíssima Iugoslávia (hoje dividida em seis novos países), adversário do qual éramos fiéis fregueses. O clima de otimismo e de euforia foi substituído pelo de dúvida e de apreensão. Disso me lembro muito bem e não preciso recorrer a arquivos.
Para avançar para o quadrangular final, em que jogariam todos contra todos, por pontos corridos, o Brasil não poderia tropeçar mais. Teria, necessariamente, que vencer os iugoslavos, para não ser eliminado logo na primeira fase. E estes vinham de duas convincentes vitórias (3 a 0 na Suíça e 4 a 1 no México) e jogando bem.
A partida foi disputada em 1º de julho, e de novo no Maracanã. O público estimado desse espetáculo foi de 140 mil pessoas (há quem jure que foi muito maior). Reeditando o bom futebol da estréia, nossa Seleção não decepcionou. Venceu o bom o difícil adversário europeu por 2 a 0 e arrancou sua classificação, ao lado de Suécia, Espanha e Uruguai. Um desses quatro finalistas, portanto, ficaria com a cobiçada Taça Jules Rimet (a que anos mais tarde foi roubada e derretida no Brasil).
As seleções, todas, tiveram uma semana inteira de descanso antes da etapa decisiva. O ânimo da população, a esta altura, oscilava, como uma gangorra. Ora descia ao ponto mais baixo, de insegurança, medo e até depressão, ora ia lá para o alto, com confiança até exagerada, ufanismo e euforia.
Foi aí que o futebol brasileiro, que até então era considerado apenas, razoável, no máximo a terceira força das Américas – abaixo da Argentina, que se recusou de participar da competição, e do Uruguai, que por pouco desistiu também – e muito abaixo da Inglaterra (que veio), da Suécia (também presente) e da Checoslováquia, Alemanha e principalmente da Itália, na Europa, os três ausentes, empenhados na reconstrução dos seus respectivos países, arrasados pela Segunda Guerra Mundial, luziu. Luziu? Bem, nem tanto. Foi brilhante, é certo, mas apenas até chegar à final. Nadou, nadou e nadou e... morreu na praia. Isso eu conto na sequência.
Pedro J. Bondaczuk
O início da campanha brasileira, na Copa do Mundo de 1950, foi arrasador. E eu, aos meus sete anos e meio, acompanhei tudo pelo rádio. Claro que não me lembro de todos os detalhes e, para refrescar a memória, tive que recorrer aos meus arquivos para escrever estas reminiscências. Duvido que alguém conseguisse recordar de fatos tão distantes em minúcias, sem omitir e nem exagerar nada. Claro que o leitor, inteligente como é, certamente já desconfiou disso.
O Brasil estreou na Copa de 1950 num dia 25 de junho, no recém construído Maracanã, que ainda não tinha o nome atual, de Estádio Mário Filho (em homenagem a esse ilustre jornalista, irmão do não menos ilustre Nelson Rodrigues).
Tínhamos, então, uma seleção bastante ofensiva, em que o grande craque era Zizinho, do Flamengo, mas cujo homem-gol, artilheiro por excelência, o que fazia a alegria do povo era o centroavante pernambucano Ademir de Menezes, do Vasco da Gama, que tinha o apelido de Queixada.
Logo na estréia, a equipe brasileira, comandada pelo técnico Flávio Costa, massacrou o México, aplicando-lhe um convincente 4 a 0. Foi o nosso cartão de visitas, de anfitriões, aos demais participantes deste quarto Mundial, o primeiro do pós-guerra.
A molecada do bairro – e eu junto, claro – comemorou com muita algazarra essa primeira vitória. A bem da verdade, os marmanjos fizeram muito mais barulho e maior folia do que nós, meninos “mal saídos dos cueiros”, conforme os mais velhos nos diziam.
O jogo seguinte, contra a Suíça (na única partida já disputada pelo Brasil contra os suíços em 18 Copas do Mundo), ocorreu três dias depois, em 28 de junho, véspera de São Pedro, que na ocasião, junto com os dias de Santo Antonio e de São João, era feriado.
A partida foi jogada em São Paulo, num Estádio Municipal do Pacaembu (que então tinha belíssima concha acústica, onde atualmente existe o tobogã) lotado. Todos esperavam, claro, novo passeio dos brasileiros, com nova goleada, igual ou maior do que a aplicada sobre o México. Mas...
O público paulista saiu frustrado, e preocupado, desse jogo. Jogando uma partida ruim, irreconhecível mesmo, a Seleção, com o time bem modificado em relação ao da estréia, apenas empatou, por 2 a 2, com um adversário que até então não tinha nenhuma tradição futebolística (e, que a bem da verdade, nunca teve e ainda não tem nem hoje).
O jogo seguinte, seria contra a fortíssima Iugoslávia (hoje dividida em seis novos países), adversário do qual éramos fiéis fregueses. O clima de otimismo e de euforia foi substituído pelo de dúvida e de apreensão. Disso me lembro muito bem e não preciso recorrer a arquivos.
Para avançar para o quadrangular final, em que jogariam todos contra todos, por pontos corridos, o Brasil não poderia tropeçar mais. Teria, necessariamente, que vencer os iugoslavos, para não ser eliminado logo na primeira fase. E estes vinham de duas convincentes vitórias (3 a 0 na Suíça e 4 a 1 no México) e jogando bem.
A partida foi disputada em 1º de julho, e de novo no Maracanã. O público estimado desse espetáculo foi de 140 mil pessoas (há quem jure que foi muito maior). Reeditando o bom futebol da estréia, nossa Seleção não decepcionou. Venceu o bom o difícil adversário europeu por 2 a 0 e arrancou sua classificação, ao lado de Suécia, Espanha e Uruguai. Um desses quatro finalistas, portanto, ficaria com a cobiçada Taça Jules Rimet (a que anos mais tarde foi roubada e derretida no Brasil).
As seleções, todas, tiveram uma semana inteira de descanso antes da etapa decisiva. O ânimo da população, a esta altura, oscilava, como uma gangorra. Ora descia ao ponto mais baixo, de insegurança, medo e até depressão, ora ia lá para o alto, com confiança até exagerada, ufanismo e euforia.
Foi aí que o futebol brasileiro, que até então era considerado apenas, razoável, no máximo a terceira força das Américas – abaixo da Argentina, que se recusou de participar da competição, e do Uruguai, que por pouco desistiu também – e muito abaixo da Inglaterra (que veio), da Suécia (também presente) e da Checoslováquia, Alemanha e principalmente da Itália, na Europa, os três ausentes, empenhados na reconstrução dos seus respectivos países, arrasados pela Segunda Guerra Mundial, luziu. Luziu? Bem, nem tanto. Foi brilhante, é certo, mas apenas até chegar à final. Nadou, nadou e nadou e... morreu na praia. Isso eu conto na sequência.
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