Wednesday, June 09, 2010




Jornalista boleiro

Pedro J. Bondaczuk

Rodrigo Viana trabalha com jornalismo esportivo há mais de 15 anos. Pensa em esportes, notadamente em futebol, praticamente 24 horas por dia, todos os dias da semana. Tem entusiasmo por ele. É dos profissionais que fazem as coisas não meramente por fazer, como uma enfadonha obrigação ou simples meio de sustento. Não, Rodrigo não é assim. Trabalha com entusiasmo, vigor, convicção, prazer e, sobretudo, com paixão. Ama o que faz e, por isso, faz bem.
Esse jornalista caprichoso e criativo já nos deu a honra de brindar-nos com seus textos, criativos, originais e enfocando, principalmente, o aspecto humano dos principais personagens desse esporte que empolga e apaixona multidões, ou seja, jogadores e treinadores.
Além de jornalista, é (ou pelo menos foi) boleiro, mas também atua como professor universitário. Nascido em Ilha Solteira, em 14 de fevereiro de 1975, começou a carreira (futebolística, não a jornalística) nas categorias de base da Ferroviária de Araraquara. Aliás, esse tradicional time grená da cidade “morada do sol”, que já foi dos melhores e mais respeitados do interior paulista (que revelou craques como Dudu, Bazani, Bazaninho, Ismael e Peixinho, entre outros), parece estar renascendo, ressurgindo das “cinzas” Tanto que acaba de ascender da Série A-3 para a A-2 do Estado de São Paulo.
Rodrigo jura por todas as juras que a Ferrinha é o seu time de coração. Pudera! Houve um momento em sua vida, todavia, que o nosso personagem teve que tomar uma difícil decisão. Precisou optar por uma de suas duas paixões, ou seja, jornalismo ou futebol. Era impossível exercer ambas com eficiência. Uma fatalmente interferiria na outra. Claro que, se desse, ficaria com as duas. Mas não podia. E isso aconteceu justo quando chegou à categoria de juniores da Ferroviária. O sonho de ser jogador estava perto, muito perto, praticamente à mão, de ser realizado.
Mas, e o que fazer com o jornalismo? Abandoná-lo, simplesmente, e esquecer de vez sua vocação? Era escolher uma ou outra profissão. Baita dilema! Caso continuasse jogando bola, quem sabe, poderia se tornar um novo Peixinho, que fez vitoriosa carreira no São Paulo Futebol Clube. Afinal, também era um ponta-direita liso e veloz, desses capazes de endoidar qualquer marcador.
A vida, porém, está longe de nos oferecer situações ideais. Uma vez ou outra isso acontece, mas é bastante raro. E como! Escolhas, escolhas, sempre elas! É verdade que Rodrigo se deu bem no jornalismo esportivo e nunca se arrependeu da opção que fez. Chegou a integrar, em 2008, a equipe da TV Bandeirantes. Mas... Bem que poderia fazer carreira nos gramados e, quem sabe, até chegar à Seleção. Nunca se sabe.
Não raro ele pensa em como seria bom se pudesse conciliar jornalismo com futebol! “Joguei na Ferroviária com Ronaldo Marconato, Rogério Seves e Juary, que depois defenderam o Santos”, revela, orgulhoso, mas sem esconder certa nostalgia.
Este companheiro de profissão tem muita afinidade comigo, ou eu com ele, sei lá (embora nem nos conheçamos pessoalmente). Ah, ele passou aqui por minha cidade, Campinas, mais especificamente, pelo Guarani, maior rival do meu time de coração, a Ponte Preta.
Pois é, fiz tanta inconfidência, tanta fofoca de Rodrigo apenas para dizer que ele vai estrear, no próximo dia 10, às 23 horas, um novo programa diário na televisão. E nem preciso acrescentar (ou preciso?) que é de futebol. Trata-se de “Repórter África”. Ele próprio explica do que se trata: “É uma revista eletrônica diária, com um olhar diferente sobre a Copa. Tratamento artístico nas matérias, convidados com perfil artístico e cultural. Coisa diferente”. Agora só falta este editor trapalhão revelar em qual canal o programa irá ao ar, para que vocês possam assistir. Trata-se da TV Brasil, emissora pública e, portanto, aberta à população.
Voltando a zoar com o sujeito chato, que só vê defeitos em tudo e todos, a quem gosto de alfinetar, respondo, de antemão (antes que ele me questione onde está o enfoque literário neste texto sobre Rodrigo Viana). Está em várias partes, é só observar.
A primeira é o fato dele ter escrito um guia especial da Copa do Mundo encartado na Revista Imprensa (que trata basicamente de assuntos da nossa categoria e é bastante tradicional). “Isso é bom para fugir do estereótipo de que jornalista de TV não sabe escrever”, acentua Rodrigo.
O outro motivo deste jornalista-boleiro (ou seria boleiro-jornalista?) ser nosso personagem é o fato de, embora não ter (ainda) livros publicados, se tratar de um cronista de mão cheia, tanto que já publiquei vários dos seus textos no Literário.
Encerro estas considerações com este desabafo de Rodrigo: “Ao realizar estes dois projetos (o programa de TV e o encarte sobre a Copa do Mundo) invade-me uma sensação de dever cumprido. Aquilo que Lang disse ser a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória”. É isso aí!

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