Desagrado de gregos e troianos
Pedro J. Bondaczuk
O Mundial de 1954, na Suíça, não me empolgou e nem à maioria dos brasileiros, que ainda estava com o fracasso de 1950 entalado na garganta. Dizia-se que o jogador tupíniquim não tinha estrutura emocional, não era competitivo, afinava na hora da verdade. Alguns afirmavam até, em tom de deboche, que nossos craques deveriam se apresentar em circos, como malabaristas, e não em gramados de futebol, numa Copa do Mundo. Confesso que eu não pensava assim.
Eu, porém, naquele ano, estava muito mais preocupado com o fato de ter que passar minhas férias confinado no internato, do que com a possível (e na opinião geral, improvável) boa performance da agora “Seleção Canarinho” em gramados suíços.
Ficou um tanto chato ouvir os jogos no rádio sem a companhia e a cumplicidade dos meus melhores amigos. Praticamente todos os alunos que permaneceram na escola não faziam parte da minha patota. Com alguns, inclusive, eu tinha não só sérias divergências, mas azedas rixas mal-resolvidas.
Resolvi, no entanto, prestar a máxima atenção não apenas à transmissão dos jogos, mas a todo o noticiário referente à seleção, para, em agosto, conversar a respeito com a turma. Teria assunto para o resto do ano ou até mais.
Em 1954, a cidade de São Paulo comemorava o quarto centenário de fundação. Havia festas de todo o tipo e por todos os cantos para celebrar o acontecimento. No futebol, as atenções estavam mais voltadas para o Campeonato Paulista, a ser disputado após a Copa, do que propriamente a esta. Quem seria o campeão do centenário? O que o Ypiranga (então o time do meu coração) poderia fazer para evitar as últimas colocações e o conseqüente rebaixamento?
Dos 22 jogadores convocados para a Seleção, três eram goleiros. A curiosidade é que dois deles eram do mesmo clube, o Fluminense: Castilho (apelidado de “São Castilho”, ou de “Leiteria”, pelas defesas incríveis que fazia) e seu reserva no Tricolor Carioca, Veludo. O outro goleiro era Cabeção, do Corínthians.
Zezé Moreira convocou seis zagueiros: Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Paulinho (Vasco da Gama), Pinheiro (Fluminense), Mauro (São Paulo), Nilton Santos (Botafogo) e Alfredo (São Paulo).
Os médios (hoje chamados de “volantes”, apesarem de não voarem) eram: Brandãozinho (Portuguesa), Bauer (São Paulo), Ely (Vasco), e Dequinha (Flamengo).
E os atacantes que iriam para a Suíça eram: Julinho (Portuguesa), Didi (Botafogo), Baltazar (Corinthians), Pinga (Portuguesa), Rodrigues (Palmeiras), Maurinho (São Paulo), Rubens (Flamengo), Humberto (Palmeiras) e Índio (Flamengo).
A convocação desagradou muita gente, reitero. O Corinthians, por exemplo, (que depois da Copa se tornaria campeão paulista do 4º centenário), cedeu apenas dois jogadores: Cabeção e Baltazar. A surpresa foi o número de convocados da Portuguesa, que tinha, é verdade, um timaço naqueles anos iniciais da década de 50, embora desde 1935 não conquistasse títulos paulistas.
A Lusa cedeu quatro jogadores para a Seleção: Djalma Santos (que mais tarde se consagraria no Palmeiras), Brandãozinho, Julinho (que se transferiria após o Mundial para a Fiorentina da Itália) e Pinga (que jogaria, mais tarde, no Vasco da Gama).
O São Paulo, campeão paulista de 1953, teve, também, quatro convocados: Mauro Ramos de Oliveira (capitão da Copa de 1962 e campeão mundial de clubes pelo Santos anos mais tarde), José Carlos Bauer (apelidado de “O Monstro do Maracanã” por sua performance em 1950), Alfredo e Maurinho (que procedia do Guarani de Campinas).
A torcida, no entanto, reclamava as ausências de Jair da Rosa Pinto, do Palmeiras; de Cláudio Cristóvão do Pinho, do Corinthians; de Luisinho, “O Pequeno Polegar”, também do alvinegro do Parque São Jorge e principalmente de Zizinho, grande destaque do Mundial anterior, uma espécie de Pelé da época, entre outros.
Como se vê, naquele tempo, como hoje, técnico algum conseguiu, consegue ou conseguirá satisfazer a todos, agradar, simultaneamente, a gregos e troianos. É certo que o trio Julinho, Humberto e Didi ostentava grande forma e era esperança de gols na Copa. Mas a torcida não queria nem saber. Eu também não gostei da convocação, embora esse grupo houvesse mostrado muita competência e excelente futebol nas eliminatórias da América do Sul meses três antes do Mundial. A verdade que a cornetagem comia à solta do Oiapoque ao Chuí.
Pedro J. Bondaczuk
O Mundial de 1954, na Suíça, não me empolgou e nem à maioria dos brasileiros, que ainda estava com o fracasso de 1950 entalado na garganta. Dizia-se que o jogador tupíniquim não tinha estrutura emocional, não era competitivo, afinava na hora da verdade. Alguns afirmavam até, em tom de deboche, que nossos craques deveriam se apresentar em circos, como malabaristas, e não em gramados de futebol, numa Copa do Mundo. Confesso que eu não pensava assim.
Eu, porém, naquele ano, estava muito mais preocupado com o fato de ter que passar minhas férias confinado no internato, do que com a possível (e na opinião geral, improvável) boa performance da agora “Seleção Canarinho” em gramados suíços.
Ficou um tanto chato ouvir os jogos no rádio sem a companhia e a cumplicidade dos meus melhores amigos. Praticamente todos os alunos que permaneceram na escola não faziam parte da minha patota. Com alguns, inclusive, eu tinha não só sérias divergências, mas azedas rixas mal-resolvidas.
Resolvi, no entanto, prestar a máxima atenção não apenas à transmissão dos jogos, mas a todo o noticiário referente à seleção, para, em agosto, conversar a respeito com a turma. Teria assunto para o resto do ano ou até mais.
Em 1954, a cidade de São Paulo comemorava o quarto centenário de fundação. Havia festas de todo o tipo e por todos os cantos para celebrar o acontecimento. No futebol, as atenções estavam mais voltadas para o Campeonato Paulista, a ser disputado após a Copa, do que propriamente a esta. Quem seria o campeão do centenário? O que o Ypiranga (então o time do meu coração) poderia fazer para evitar as últimas colocações e o conseqüente rebaixamento?
Dos 22 jogadores convocados para a Seleção, três eram goleiros. A curiosidade é que dois deles eram do mesmo clube, o Fluminense: Castilho (apelidado de “São Castilho”, ou de “Leiteria”, pelas defesas incríveis que fazia) e seu reserva no Tricolor Carioca, Veludo. O outro goleiro era Cabeção, do Corínthians.
Zezé Moreira convocou seis zagueiros: Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Paulinho (Vasco da Gama), Pinheiro (Fluminense), Mauro (São Paulo), Nilton Santos (Botafogo) e Alfredo (São Paulo).
Os médios (hoje chamados de “volantes”, apesarem de não voarem) eram: Brandãozinho (Portuguesa), Bauer (São Paulo), Ely (Vasco), e Dequinha (Flamengo).
E os atacantes que iriam para a Suíça eram: Julinho (Portuguesa), Didi (Botafogo), Baltazar (Corinthians), Pinga (Portuguesa), Rodrigues (Palmeiras), Maurinho (São Paulo), Rubens (Flamengo), Humberto (Palmeiras) e Índio (Flamengo).
A convocação desagradou muita gente, reitero. O Corinthians, por exemplo, (que depois da Copa se tornaria campeão paulista do 4º centenário), cedeu apenas dois jogadores: Cabeção e Baltazar. A surpresa foi o número de convocados da Portuguesa, que tinha, é verdade, um timaço naqueles anos iniciais da década de 50, embora desde 1935 não conquistasse títulos paulistas.
A Lusa cedeu quatro jogadores para a Seleção: Djalma Santos (que mais tarde se consagraria no Palmeiras), Brandãozinho, Julinho (que se transferiria após o Mundial para a Fiorentina da Itália) e Pinga (que jogaria, mais tarde, no Vasco da Gama).
O São Paulo, campeão paulista de 1953, teve, também, quatro convocados: Mauro Ramos de Oliveira (capitão da Copa de 1962 e campeão mundial de clubes pelo Santos anos mais tarde), José Carlos Bauer (apelidado de “O Monstro do Maracanã” por sua performance em 1950), Alfredo e Maurinho (que procedia do Guarani de Campinas).
A torcida, no entanto, reclamava as ausências de Jair da Rosa Pinto, do Palmeiras; de Cláudio Cristóvão do Pinho, do Corinthians; de Luisinho, “O Pequeno Polegar”, também do alvinegro do Parque São Jorge e principalmente de Zizinho, grande destaque do Mundial anterior, uma espécie de Pelé da época, entre outros.
Como se vê, naquele tempo, como hoje, técnico algum conseguiu, consegue ou conseguirá satisfazer a todos, agradar, simultaneamente, a gregos e troianos. É certo que o trio Julinho, Humberto e Didi ostentava grande forma e era esperança de gols na Copa. Mas a torcida não queria nem saber. Eu também não gostei da convocação, embora esse grupo houvesse mostrado muita competência e excelente futebol nas eliminatórias da América do Sul meses três antes do Mundial. A verdade que a cornetagem comia à solta do Oiapoque ao Chuí.
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