Soneto à doce amada – XLVI
Pedro J. Bondaczuk
É noite escura. Eu estou sozinho,
à meia luz, a bebericar,
enquanto, no picape, a rodar,
ouço um tango, tocado baixinho.
Sirvo-me de outro scotch com gelo
e derrubo no chão seu retrato.
Depois, piso-o, com meu sapato,
no furor da dor-de-cotovelo.
No entretanto, fico arrependido
e apanho sua imagem do chão,
estreitando-a junto ao coração.
Num gesto espontâneo, comovido,
me retrato, me dou por vencido:
amanhã vou pedir-lhe perdão!
(Soneto composto em São Caetano do Sul, em 3 de abril de 1964).
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