Prosa é arquitetura
Pedro J. Bondaczuk
O escritor Ernest Hemingway, que também foi jornalista (e dos bons) nos ensina, com a credibilidade de quem conquistou um Prêmio Nobel de Literatura, que "prosa é arquitetura e não decoração interior". Ou seja, adverte os que pretendem se comunicar com os outros, através da difícil arte do texto, que este deve ser, antes de tudo, funcional. Sua beleza nasce de sua harmonia, de sua clareza e, sobretudo, de sua capacidade de passar um recado. E não pode se ater apenas à forma, embora esta seja importantíssima, e da correção gramatical, que é indispensável. Precisa ter um conteúdo que atraia esse ditador implacável, em cujas mãos estão tanto o sucesso quanto o fracasso de quem vive de escrever: o leitor.
Gustave Flaubert destacou que "quando se possui a idéia, a palavra jamais há de faltar". Mas quando esta não existe? Quando se pretende, por exemplo, redigir uma crônica que, por sua própria definição, se caracteriza pela leveza, pela descontração, pelo vislumbre de perenidade naquilo que é trivial, aparentemente sem importância, como as circunstâncias do dia-a-dia, ou um objeto absolutamente comum, ou uma emoção? Como agir? Aí é que está o problema.
A crônica... Bem, é uma complicação. E não somente para mim, mas para escritores com muito mais talento e vivência literária do que eu. É o caso de Paulo Mendes Campos, por exemplo, autor de tantos livros e textos publicados em grandes revistas nacionais e internacionais, que constatou: "Quem tem facilidade de escrever, não é escritor: é orador". É um consolo para cronistas menos experientes e menos famosos. Como encontrar um tema que seja, ao mesmo tempo, leve e que fascine o leitor? Como agradar esse ditador anônimo, mas implacável, cuja opinião (e cumplicidade) nos é tão importante?
Scott Fitzgerald dá uma dica: "Você tem que vender seu coração, suas reações mais poderosas, e não apenas as pequenas coisas que o tocaram ligeiramente, as pequenas experiências que você poderá contar ao jantar". Ou seja, é preciso um desnudamento emocional, mesmo que tenhamos escrúpulos em nos desnudar publicamente, em deixar à mostra nossas mais secretas angústias, nossos mais profundos receios e nossas mais protegidas esperanças, temerosos, quem sabe, do ridículo, ou de sermos acusados de cometer um atentado ao pudor.
Por essa razão, não é sem motivo que uma tela em branco do visor do meu microcomputador (até pouco tempo atrás era uma lauda em branco), causa tamanho terror em tantos cronistas (entre os quais, por que não, me incluo). Há momentos em que fico à beira do pânico, pois tenho compromissos a cumprir. Com o quê preencher todo esse espaço? O quê escrever, sem descambar para o ridículo? Com quais ingredientes compor uma crônica? Com sangue, com vísceras, com alma, com vivência, com vida, recomendam os grandes mestres.
Tenho, desde que cismei que era cronista (e isto há já dez longos anos), diariamente, uma experiência semelhante (guardadas as devidas proporções) àquele episódio bíblico em que o patriarca Jacó lutou com um anjo até o romper do dia, no Vale de Jaboc, para ser abençoado. Procuro, também, a bênção, mas de um tema, da clareza, da empatia e da capacidade de persuadir o leitor.
Não raro me questiono se tamanha preocupação não se deve, apenas, à vaidade. Aliás, nem estou, sequer, sendo original nesse questionamento. Ele foi feito, com extrema graça e criatividade, por meu saudoso poetinha dos Pampas, Mário Quintana. Esse mestre do texto e do talento poético nos legou estes versos, do poema "Da preocupação de escrever", que dizem: "Escrever...Mas por que? Por vaidade, está visto.../Pura vaidade, escrever!/Pegar da pena...Olha, que graça terá isto,/se já se sabe tudo o que se vai dizer!..." O pior é que muitos não sabem. Não raro, também não sei. Daí a conformação quase que “arquitetônica” deste despretensioso texto para o qual rogo a complacência dos leitores..
Pedro J. Bondaczuk
O escritor Ernest Hemingway, que também foi jornalista (e dos bons) nos ensina, com a credibilidade de quem conquistou um Prêmio Nobel de Literatura, que "prosa é arquitetura e não decoração interior". Ou seja, adverte os que pretendem se comunicar com os outros, através da difícil arte do texto, que este deve ser, antes de tudo, funcional. Sua beleza nasce de sua harmonia, de sua clareza e, sobretudo, de sua capacidade de passar um recado. E não pode se ater apenas à forma, embora esta seja importantíssima, e da correção gramatical, que é indispensável. Precisa ter um conteúdo que atraia esse ditador implacável, em cujas mãos estão tanto o sucesso quanto o fracasso de quem vive de escrever: o leitor.
Gustave Flaubert destacou que "quando se possui a idéia, a palavra jamais há de faltar". Mas quando esta não existe? Quando se pretende, por exemplo, redigir uma crônica que, por sua própria definição, se caracteriza pela leveza, pela descontração, pelo vislumbre de perenidade naquilo que é trivial, aparentemente sem importância, como as circunstâncias do dia-a-dia, ou um objeto absolutamente comum, ou uma emoção? Como agir? Aí é que está o problema.
A crônica... Bem, é uma complicação. E não somente para mim, mas para escritores com muito mais talento e vivência literária do que eu. É o caso de Paulo Mendes Campos, por exemplo, autor de tantos livros e textos publicados em grandes revistas nacionais e internacionais, que constatou: "Quem tem facilidade de escrever, não é escritor: é orador". É um consolo para cronistas menos experientes e menos famosos. Como encontrar um tema que seja, ao mesmo tempo, leve e que fascine o leitor? Como agradar esse ditador anônimo, mas implacável, cuja opinião (e cumplicidade) nos é tão importante?
Scott Fitzgerald dá uma dica: "Você tem que vender seu coração, suas reações mais poderosas, e não apenas as pequenas coisas que o tocaram ligeiramente, as pequenas experiências que você poderá contar ao jantar". Ou seja, é preciso um desnudamento emocional, mesmo que tenhamos escrúpulos em nos desnudar publicamente, em deixar à mostra nossas mais secretas angústias, nossos mais profundos receios e nossas mais protegidas esperanças, temerosos, quem sabe, do ridículo, ou de sermos acusados de cometer um atentado ao pudor.
Por essa razão, não é sem motivo que uma tela em branco do visor do meu microcomputador (até pouco tempo atrás era uma lauda em branco), causa tamanho terror em tantos cronistas (entre os quais, por que não, me incluo). Há momentos em que fico à beira do pânico, pois tenho compromissos a cumprir. Com o quê preencher todo esse espaço? O quê escrever, sem descambar para o ridículo? Com quais ingredientes compor uma crônica? Com sangue, com vísceras, com alma, com vivência, com vida, recomendam os grandes mestres.
Tenho, desde que cismei que era cronista (e isto há já dez longos anos), diariamente, uma experiência semelhante (guardadas as devidas proporções) àquele episódio bíblico em que o patriarca Jacó lutou com um anjo até o romper do dia, no Vale de Jaboc, para ser abençoado. Procuro, também, a bênção, mas de um tema, da clareza, da empatia e da capacidade de persuadir o leitor.
Não raro me questiono se tamanha preocupação não se deve, apenas, à vaidade. Aliás, nem estou, sequer, sendo original nesse questionamento. Ele foi feito, com extrema graça e criatividade, por meu saudoso poetinha dos Pampas, Mário Quintana. Esse mestre do texto e do talento poético nos legou estes versos, do poema "Da preocupação de escrever", que dizem: "Escrever...Mas por que? Por vaidade, está visto.../Pura vaidade, escrever!/Pegar da pena...Olha, que graça terá isto,/se já se sabe tudo o que se vai dizer!..." O pior é que muitos não sabem. Não raro, também não sei. Daí a conformação quase que “arquitetônica” deste despretensioso texto para o qual rogo a complacência dos leitores..
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