Thursday, November 12, 2009




Sintoma de maturidade

Pedro J. Bondaczuk

O amadurecimento do ser humano é um processo bastante demorado, de muitos anos, o que tarda mais tempo entre todos os seres vivos. Vegetais, por exemplo, amadurecem, na maioria, de uma estação para outra, ou seja, em questão de meses. Alguns, como determinadas árvores, frutíferas ou não, levam alguns anos para amadurecer, mas nada que sequer de longe se compare ao homem.
A maturidade física humana plena demora, em média, 21 anos. A mental, a psicológica e/ou a afetiva custam mais, muito mais para ocorrer. Algumas pessoas sequer chegam a amadurecer nesse aspecto. Ficam velhas, mas se mantêm infantilizadas, com atitudes e comportamentos que não condizem com quem tenha alguma experiência a ostentar. Tornam-se ridículas, patéticas e dignas de piedade, embora despertem, via de regra, apenas zombarias dos imbecis.
E quando é que sabemos que atingimos a maturidade intelectual, psicológica e afetiva? Talvez nunca saibamos. Talvez tenhamos pálida desconfiança disso, mas nunca certeza. É mais fácil quem conviva conosco e nos conheça razoavelmente bem perceber nosso amadurecimento.
É possível, pois, determinar uma época em que possamos dizer que estamos, de fato, maduros? Estatisticamente, sim. Na prática, porém... Esse período varia de pessoa para pessoa. Depende do tipo de vida que teve, do que fez, onde esteve, com quem e como se relacionou etc.etc.etc. Como se vê, as coisas, nesse aspecto, não são tão simples, como podem parecer aos desavisados. Por isso, é inútil generalizar.
Para amadurecer, porém, é indispensável, antes de tudo, viver. É necessário passar por inúmeras experiências, quer positivas, quer negativas. Isso implica, claro, em corrermos riscos. Mas desde que estes sejam calculados, sem exageros; desde que conheçamos razoavelmente nossos limites e nunca ousemos ultrapassá-los (pois se o fizermos, poderemos determinar, até, nossa extinção), temos que corrê-los.
Temos que viver plenamente, não somente cada etapa do nosso desenvolvimento, como a infância e a adolescência, mas cada dia, cada hora, cada minuto e segundo que, ademais, podem ser os nossos últimos. Ninguém pode determinar quanto tempo irá viver.
Muitas pessoas, com doenças incuráveis, ditas terminais, a quem os médicos prevêem que possam viver só alguns meses, se tanto, sobrevivem por anos, às vezes décadas, posto que com terríveis sofrimentos. Outras tantas, que gozam de saúde perfeita, surpreendem a todos e morrem de repente, sem nenhuma causa previsível, ou de algum mal súbito, ou em decorrência de acidentes, ou assassinadas por conhecidos ou por estranhos (o que se torna, infelizmente, cada vez mais comum).
A propósito de amadurecimento, Cesare Pavese apresentou uma lúcida tese, que se resume nesta declaração: “Chega uma época em que nos damos conta de que tudo o que fazemos é transformar em lembrança um dia. É a maturidade. Para alcançá-la, é preciso justamente já ter lembranças”.
A rigor, a constatação do escritor italiano não conflita em nada com minhas observações, antes as confirmam. Para lembrarmos de alguma coisa é indispensável que a vivamos ou, no mínimo, que a testemunhemos. E isso implica em ação ou, quando testemunhada, em acurada observação.
Muitas vezes, limitamo-nos a passar pela vida sem de fato vivê-la. Damos valor excessivo ao que, não raro, nada vale e deixamos passar batido o que realmente tem valor. Corremos, como diria o padre Antonio Vieira, atrás de sombras e não atentamos para as substâncias.
Temos que viver cada dia de forma a ter o que lembrar dele. Mas não amanhã, ou depois, nem no fim da semana, ou no prazo de um mês. Essas lembranças acumuladas terão que nos acompanhar por muitos e muitos anos, até a nossa extinção. Chegará o momento em que elas irão se constituir num inestimável patrimônio, provavelmente o único de que disporemos, num acervo pessoal sem preço, de tão valioso que será.
Quando chegar esse momento, então, poderemos afirmar, sem vacilações e sem medo de erro, que estamos, de fato, maduros. Mas a partir de então, a atitude mais sábia é a de não nos limitarmos a lembrar os bons e os maus momentos (que são, sobretudo, didáticos) de um passado remoto (da infância ou da juventude, por exemplo).
Convém que continuemos vivendo, cada dia, sem exceção, com a máxima intensidade possível, de tal sorte que nele sempre exista o que seja digno de ser lembrado mais à frente e assim, sucessivamente, até o momento da nossa morte. Afinal... passaremos por este caminho uma única vez!

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