Sunday, November 08, 2009




De volta às urnas

Pedro J. Bondaczuk


Os eleitores de 17 Estados, entre os quais São Paulo, complementam, na próxima terça-feira, o processo eleitoral deste ano, o mais amplo desde a década de 50, com a escolha de novos governadores. Há algumas disputas interessantes e acirradas, como no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em Brasília e em Minas Gerais, onde qualquer previsão corre o risco de ficar furada, dado o equilíbrio existente.

À primeira vista, pelo próprio tom do noticiário da imprensa, fica a impressão que não se está dando, a esse segundo turno, a importância que ele merece. É verdade que há temas mais explosivos polarizando as atenções. Principalmente o da violência, com o avanço do poder do narcotráfico nos morros e favelas cariocas e o risco dele se alastrar para o resto do País.

Mas as eleições da próxima semana são importantíssimas para compor a base de apoio ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que pelo seu preparo intelectual, seu passado político, sua capacidade de negociação e seu perfil de estadista, tem tudo para fazer um bom governo.

Mas não poderá e nem irá governar sozinho. O brasileiro confia na sua competência. Tanto que lhe conferiu uma consagradora vitória logo no primeiro turno, de forma a não deixar a mínima margem de dúvida quanto à sua preferência. Mas precisa complementar essa confiança com ações mais práticas.

A votação em São Paulo, a se acreditar nas pesquisas – e não há razões para não se crer, após o acerto delas nas eleições presidenciais –, parece já estar decidida em favor do senador Mário Covas. A menos que ocorra uma surpresa ainda maior do que a que se verificou em 3 de outubro passado, quando o político tucano deixou de confirmar seu favoritismo, por escassa margem, pode se considerar o novo governador. As atenções gerais vão estar voltadas para o Rio de Janeiro, por causa das condições especialíssimas existentes nesse Estado.

Por exemplo, será o único em que o eleitor irá escolher deputados federais e estaduais, depois da sábia decisão da justiça eleitoral, que anulou o pleito do mês passado, por causa das fraudes que se verificaram. Além desse aspecto, já por si só dramático, há a forte possibilidade, quase certeza, de que as eleições vão coincidir com a operação conjunta, coordenada pelo general Roberto Jugurtha Câmara Senna, de combate ao crime organizado, que estendeu seus tentáculos de corrupção a vários setores da sociedade carioca e tornou a vida dos cidadãos uma diária “roleta russa”.

Isso não quer dizer que a votação em outros Estados não será importante. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o PT joga todas as suas fichas na candidatura de Olívio Dutra, no confronto com o ex-ministro da Previdência, Antonio Britto, tido e havido, no início do ano, como candidato imbatível ao governo gaúcho e que agora enfrenta uma terrível batalha para conseguir se eleger.

Ou em Brasília, onde outro petista, Cristovam Buarque, saiu de uma situação desvantajosa no primeiro turno, para liderar as pesquisas no segundo. Ou em Minas, onde Hélio Costa se vê acossado pelo crescimento do nome de Azeredo.

As eleições da próxima semana são importantíssimas, não somente por essas disputas, mas, principalmente, por compor o novo quadro político dentro do qual Fernando Henrique Cardoso terá que atuar. É esse o aspecto que o eleitor precisará levar em conta na hora de decidir o seu voto. Esse e o da competência dos candidatos, é claro.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de novembro de 1994).

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