Sunday, November 15, 2009




Polônia, país-chave da paz

Pedro J. Bondaczuk

O presidente norte-americano, George Bush, embora não dispondo do carisma do seu colega soviético, Mikhail Gorbachev, teve recepções triunfais na Polônia (nas passagens por Varsóvia e por Gdansk, o berço do sindicato independente Solidariedade) e no seu desembarque, ontem, em Budapeste, na Hungria, debaixo de um intenso temporal.
Se o líder do Cremlin tem o seu fascínio e suas idéias reformistas para levar a seus aliados, o chefe da Casa Branca dispõe de dólares para ceder, que é o que estes países precisam neste momento, quando tentam restaurar suas arrebentadas economias. Ademais, sua visita está servindo de teste para a sinceridade de Moscou, quando seus dirigentes afirmam que cada sociedade nacional do Leste europeu pode seguir um caminho próprio na modernização de seus regimes socialistas.
Quanto à Polônia, o carinho tributado pelo seu povo a Bush explica-se até por razões sentimentais. De cada quatro poloneses, atualmente, um, seguramente (ou algum de seus descendentes) reside nos Estados Unidos.
Até na história norte-americana há a participação de gente desse país eslavo da Europa. Afinal, o general Tadeusz Kosciusko pegou em armas ao lado de George Washington, na guerra de independência movida pelas 13 colônias da América do Norte contra o império britânico.
Não é de se estranhar, portanto, uma recepção do porte da que foi tributada a Bush na sua breve passagem pela Polônia. Acresça-se a isso o sentimentalismo que caracteriza os povos eslavos. No terreno prático, ninguém nega a importância desse país do Leste europeu, ponto de conexão entre o Oriente e o Ocidente da Europa, tão massacrado e sofrido no correr da história.
Mas foi ele que impediu, graças à coragem de Santo Estevão de Cracóvia, que todo o continente acabasse devastado pelos mongóis, no século XIII da nossa era, o que, certamente, teria mudado o curso da própria civilização ocidental. Foi ele que acabou sendo partilhado, em 1772 e que perdeu a soberania até o fim da Primeira Guerra Mundial.
Foi ali que começou, em 1° de setembro de 1939, a Segunda e selvagem conflagração, após a invasão das tropas nazistas. Sempre que a Polônia esteve próspera e vivendo pacificamente, a Europa e o mundo conheceram períodos de paz.
Pelo contrário, todas as vezes que esse país foi molestado, agredido, conquistado ou dominado ou quando sua população passou por dificuldades de ordem econômica, ocorreram turbulências no continente. Oxalá a disposição reformista do seu povo, o beneplácito de Gorbachev e as promessas de ajuda de Bush determinem essa situação ideal.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de julho de 1989)

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