Wednesday, November 18, 2009




Curiosidade e educação

Pedro J. Bondaczuk

“A curiosidade é a mãe da sabedoria”, diz conhecido dito popular, que ouvi um dia, há muito tempo, na tenra infância, e não esqueci jamais. Trata-se de verdade óbvia, da qual poucos se dão conta, mas que a prática comprova, de forma insofismável. Quem não é curioso, no bom sentido, não se sente motivado a aprender coisa alguma, por mais que necessite desse aprendizado, mesmo que invista nele todos os recursos de que dispõe. Até aprende, mas com sacrifício, com muito esforço e, não raro, com sofrimento. Este deveria ser, portanto, princípio básico da educação.
A criança precisa, desde tenra idade, ter sua curiosidade despertada, espicaçada e estimulada, em relação a tudo o que a cerca, não importa se a coisas concretas ou a idéias abstratas, se a pessoas ou a objetos, se a acontecimentos ou se a princípios.
Não é, infelizmente, o que ocorre em relação à maioria das pessoas. Pelo contrário, essa fome de conhecimento, via de regra, é inibida, em vez de ser saciada, de forma até inconsciente, pelos pais. E na escola, esse estímulo, que deveria ser constante, (convenhamos) também raramente ocorre, tornando o aprendizado uma coisa até chata, atado a rígidos currículos, a sensaboronas teorias e a frios esquemas, nem sempre inteligentes, atrativos ou até mesmo necessários.
É certo que saber não ocupa lugar. Mas precisamos de estímulo para aprender o que quer que seja. A palavra-chave é “motivação”. Temos que nos sentir curiosos a respeito de determinados conhecimentos para que os obtenhamos, sem muito esforço e com total prazer. Devemos ser desafiados a conhecer seja lá o que for. E não apenas ocasionalmente, vez ou outra, mas de forma permanente, diária e constante.
Sempre tive isso comigo e, por acaso, descobri, dia desses, que estou em excelente companhia a esse propósito. Recentemente, lendo o ensaio “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, de um dos maiores pensadores contemporâneos, o francês Edgar Morin (que tem mais de 50 livros publicados, boa parte dos quais traduzida para o português), inserido em uma publicação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), deparei-me com um trecho que reflete com exatidão o que concluí intuitivamente.
Diz: “A educação favorece a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar”.
Edgar Morin, para quem não sabe, apesar de ser um intelectual reputado, mestre de toda uma geração, que não precisa provar mais nada para quem quer que seja, é uma pessoa simples. Cultiva hábitos comuns e não faz pose de pensador, até porque não precisa. É como qualquer um de nós. Ou seja, trata-se de uma pessoa “normal”, da forma que entendemos normalidade.
Sheila Grecco constatou a seu respeito: “Edgar Morin detesta os estudiosos apocalípticos, assiste, sem preconceitos, telenovelas, gosta de western, usa laptop para escrever, navega pela internet, tem paixão pelo Carnaval e pelas mulheres brasileiras, ri da tecnoburocracia científica e, apesar disso ou exatamente por isso, é um dos maiores intelectuais franceses em atividade”.
Confunde-se, amiúde, educação com mera instrução, com treinamento, com adestramento para o exercício de determinada atividade ou profissão. Ela, no entanto, é um processo maior, muito mais amplo e abrangente. Começa logo após o nascimento e só termina no momento da nossa morte. É um exercício constante, permanente, incessante. Nunca estamos plenamente educados.
A educação envolve corpo e mente; comportamento individual e coletivo; tem como finalidade desenvolver, de forma integral, todo o imenso potencial que temos e, sobretudo, nos abrir as portas da realização pessoal que, em última instância, é o fundamento da felicidade.
Os mestres, claro, têm papel fundamental no processo educativo. Podem nos marcar positivamente para o resto de nossas vidas ou não passarem de pessoas que passaram por nosso caminho sem deixar nenhuma marca, quando não das que nos provocaram dolorosos traumas. Daí eu concordar com Henry Adams, que afirmou: “Um professor sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina”. É uma responsabilidade, convenhamos, para a qual nem todos estão preparados.

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