Thursday, May 07, 2009

Fuja da tautologia


Pedro J. Bondaczuk

O profissional do texto, escritor ou jornalista (não importa) precisa cuidar com bastante zelo do seu linguajar nas conversas que mantém no seu dia a dia. Se não tiver esse cuidado e sair falando, por aí, um português arrevesado, todo errado, corre o risco de trazer (inconscientemente) essas incorreções para o seu texto e comprometer temas preciosos por causa de uma redação relaxada. Muita obra literária perde a excelência por causa de detalhes.
É certo que o que se diz (a menos que se trate de falar ao microfone de rádio e de TV e dessas falas serem gravadas), não tem o caráter de permanência. As palavras, via de regra, entram por um ouvido e saem por outro e pouca gente irá notar os erros cometidos. Ainda assim, alguém sempre haverá de percebê-los, para o seu constrangimento. Falar errado, portanto, tende a impressionar mal o interlocutor, que dificilmente deixará de fazer mau juízo da sua cultura.
Escrever com incorreções e vícios de linguagem, porém, é pior, muito pior. É trágico! O texto tem o caráter de permanência e nunca sabemos em quais mãos irá cair. Requer, portanto, cuidado e zelo, notadamente de quem vive de escrever (mas não só dele, porém de todos os que se expressam por escrito, mesmo que se trate de um reles bilhete de recado).
Uma das imprecisões mais comuns do nosso linguajar que trazemos, sem perceber, para o texto, é o hábito da tautologia. “O que é isso?”, pode estar perguntando o leitor mais distraído ou que não tenha noção de estilo. É um vício de locução que consiste em dizer sempre a mesma coisa em termos diferentes. Exemplos? “Subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro”, “sair para fora” etc.etc.etc. Quem nunca se distraiu numa conversa e jamais disse isso? Raros, não é verdade?
Junto com a tautologia, às vezes, trazemos para o texto sua irmã gêmea, a redundância, ou seja, a superfluidade de palavras, o pleonasmo e o abuso de ornatos vocabulares. Quem me propôs abordar o tema foi minha amiga virtual do Orkut, a Márcia Sakuma, que há tempos vem se policiando para não escrever com esses vícios de linguagem tão comuns em nossos bate-papos.
No jornalismo, as expressões tautológicas são para lá de comuns. Quem já não leu, por exemplo, em matérias sobre política, a expressão “prefeito municipal?”. Alguém conhece, por acaso, algum que seja estadual ou federal? E a designação “vereador da cidade”?. Há, porventura, algum do Estado, do País ou da ONU?
Muitas vezes, o redator tenta justificar alguma expressão tautológica com a falaciosa argumentação de que se trata de uma espécie de “reforço de linguagem”. Não é! Ademais, todas essas expressões são dispensáveis na fala e, sobretudo, no texto.
Os casos clássicos desse procedimento são, por exemplo, “elo de ligação”, “certeza absoluta”, “quantia exata”, “juntamente com”, “expressamente proibido”, “há anos atrás”, “outra alternativa”, “detalhes minuciosos”, “de sua livre escolha”, “todos foram unânimes”, “fato real”, “encarar de frente”, “multidão de pessoas”, e tantas e tantas baboseiras do mesmo quilate (sem o respectivo “quimorde”).
A tautologia é uma praga, uma infestação de tiririca ou de saúva que avacalha o texto de muito jornalista afoito e até de escritores consagrados, tidos e havidos como precisos e rigorosos em sua linguagem (precisão e rigor, antes que me cobrem, não são, necessariamente, sinônimas). No caso destes últimos, o cochilo deve recair no revisor (se houver), que tem que estar atento a estes e a quaisquer outros detalhes. Nem sempre está.
Daí a necessidade de permanente policiamento do linguajar, nas conversas que tivermos em casa, no trabalho, na escola e mesmo em se tratando daquele desperdício de tempo com os amigos, em barzinhos da moda, nos finais de tarde, acompanhado de um copo bem gelado de cerveja e dos imprescindíveis tira-gostos.
É possível e desejável produzir textos gostosos, descontraídos e coloquiais sem a necessidade desses inúteis penduricalhos, tormentos dos editores por aumentarem o número de toques de reportagens e de crônicas e ultrapassarem o espaço que lhes é destinado em colunas de jornais e de revistas. Você, meu caro redator, coopere com o seu colega (principalmente quando eu for o seu editor) e, sobretudo, cuide da sua reputação. Por favor, fuja da tautologia!

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